Momentos Mágicos – dia 29 de maio de 2018
O impossível reside nas mãos inertes daqueles que não tentam.
Epicuro
Em muitos momentos na vida,
encontramos barreiras que nos parecem intransponíveis. Assim acontece com o
projeto que participo de solução para o esgoto correndo em céu aberto para uma
comunidade em Joinville.
Por diversas situações, todas
elas justificáveis e legais, a comunidade não será atendida pela empresa de
saneamento.
Existe a questão da localização,
um terreno particular, o que impede a ação da empresa que tem caráter público.
Outra questão é o modelo de atendimento das empresas de saneamento, que,
fundamentado num pensamento da era industrial, investe em soluções coletivas –
comunidades isoladas somente serão atendidas após tornarem-se não isoladas. Por
questão de custos, é muito mais barato construir uma usina de tratamento de
esgoto para uma população maior.
Essas questões, que se impõem em
todas as empresas de saneamento nacionais, resulta na exclusão das minorias que
habitam comunidades isoladas. Por serem pouco representativas em termos
percentuais, vão ficando sem atendimento.
Essa comunidade em especial, está
no local há muito tempo, tempo indeterminado. A moradora mais idosa, diz que
chegou ao local há cerca de cinqüenta anos. Esse fato não é confirmado por
outros envolvidos com o local, como o proprietário das terras ou do poder público.
De qualquer forma, encontram-se
no local há mais de uma década. São cerca de 20 famílias, num total de quase
cem pessoas, grande parte delas crianças (44% do total).
Para reforçar as justificativas
para não atendimento, experiências vividas por pessoas que atuam com o contato
com comunidades desse perfil trazem desalento aos interessados na solução, tais
como o desinteresse por parte dos moradores com a colaboração no processo, a
cultura de assistencialismo que os coloca na condição de passividade assistida,
os custos com o processo para a solução que não poderão ser arcados pelas
famílias, a pouca probabilidade de que o processo seja assumido e mantido pela
comunidade após a saída dos agentes externos.
Todo esse cenário desalentador
sustentaria a condição dessas famílias da forma em que se encontram.
Entretanto, existem pessoas que
pensam além, que acreditam no que parece impossível e que se unem para mudar as
condições de saúde dessas famílias.
As razões: crianças com elevado
índice de doenças de pele e verminoses, por conta do contato diário com o solo
contaminado. Estou me referindo, somente nessa comunidade citada, de quase 50
crianças nessas condições.
Não nos importa se esse número
representa um percentual ínfimo para ações da sociedade ou do poder público:
cada criança representa para nós um universo, um ser único, insubstituível.
Nesse viés, trata-se de um problema de saúde pública que merece atenção de
todos os envolvidos – é responsabilidade do município a sua solução.
É preciso, portanto, sair do
modelo industrial, que considera apenas o quantitativo, como se o ser humano
pudesse ser tratado como gado – (até mesmo o gado não mereceria esse tipo de
pensamento).
Estamos na era da informação e da
multiplicação do conhecimento: é hora de pensar de forma holística, valorizar
os recursos que temos e encontrar soluções para as minorias isoladas.
Com esse espírito, juntamos
pessoas que abraçaram o problema e iniciamos uma etapa que trará a solução, ou
ao menos tentaremos ir além dos modelos até então impostos.
Com a participação voluntária de
funcionários da Cia. Águas de Joinville, da empresa MORALAR Arquitetura Social ,
da empresa ELMO engenharia, dos Engenheiros sem Fronteiras (também com a
participação da Univille, da UDESC, do CEPAT, do SESC etc), será iniciado o
processo de construção de um sistema de esgoto para eliminar a contaminação na
comunidade.
A empresa ELMO engenharia
realizará a topografia do terreno, enquanto a MORALAR trabalhará com insumos
para a construção através de doações. O engenheiro da Cia. Águas de Joinville
Sr. Pedro Toledo Alacon fará um projeto em parceria com a ONG Engenheiros sem
Fronteiras. Os demais envolvidos
trabalharão com os moradores para uma construção conjunta, o que envolve
educação ambiental e mutirão.
Tenho certeza que estou sendo
injusto com algumas instituições e pessoas que não estou mencionando, tamanho
tem sido o envolvimento que conseguimos com essa comunidade.
Enfim, meu momento mágico de hoje
foi participar da reunião com as pessoas que darão esse passo importante para a
saúde das famílias daquela comunidade.
Nosso sonho é que, após a
conclusão dos trabalhos, não venhamos mais encontrar crianças com feridas na
pele e com problemas de saúde.
O desafio é enorme e os
resultados são duvidosos, em função de tantas variáveis envolvidas: por isso
mesmo é muito bom fazer parte desse empreendimento.
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