João Abeid Filho

A vida é como caminhar em uma praia deserta... seus pés marcam todo seu caminho, e a gente acredita que fomos os primeiros a andar por aquele lugar, mas aí vem o mar... e suavemente mostra que seus passos já não estão lá, e ela, "A praia", está pronta para novos passos. Marco Paschoal Andar na areia: assim começou meu dia. Com minha companheira de lutas, de conquistas, conversamos ao som das ondas arrebentando na praia. Encontramos uma moça com uma cadelinha poodle, que, segundo ela, encontrava-se desconfortável por ter sido tosada. Vestida com uma saia, como se fosse uma boneca, foi-nos apresentada como a única companheira daquela moça solitária nesta manhã de domingo. Encontros com pessoas desconhecidas, mais uma vez me encantando. É mágico conhecer desconhecidos. Me remete a São Paulo dos anos 70, quando eu, jovem, conhecia pessoas diferentes com muita frequência, muitas das quais nunca mais tornaria a ver, por conta do gigant

Ser livre é conseguir flutuar entre a diversidade e a multiplicidade, sem perder a própria identidade. Dimos Iksilara Me desculpem os leitores de meu humilde blog, pois, apesar do compromisso que adotei de publicar um momento mágico diário, problemas com acesso à internet me deixaram sem condições de publicar minha experiência do dia 29 de setembro. Foi um dia cheio de alegria, na companhia de colegas de trabalho, na paradisíaca cidade de São Francisco do Sul. Um churrasco de costela, protagonizada pelo colega Wagner, que tornou-se tradição entre os colegas. Aclamado pela sua habilidade em nos receber, tanto do ponto de vista gastronômico quanto sob o aspecto de seu carácter anfitrião, elegemos esse encontro como obrigatório, ao menos uma vez por ano. O que eu percebo como mágico é a forma como o destino nos traz o contato com pessoas de origens as mais diversas. Não se trata apenas dos colegas, mas, dos seus cônjuges, pessoas com histórias que passamos a conh

Hoje encontrei uma borboleta em meu caminho. Ela me esperava no estacionamento da empresa. Não se tratava de uma borboleta comum: eu nunca havia visto uma borboleta tão grande antes. Em sua asa, o desenho simulava um grande olho, que parecia me observar.   A vida me convenceu, por diversas situações vividas, que coincidências talvez não existam, ou, se existirem, ocorrem muito raramente. Na maior parte das vezes, algum sentido foi encontrado em fatos antes imaginados como pura coincidência. Busquei informações e descobri que: “ A borboleta é considerada o  símbolo   da transformação . Entre outros, simboliza felicidade, beleza, inconstância, efemeridade da natureza e da renovação. ” * Transformação é marca de minha vida e de meu espírito. Passei por muitas mudanças, desde a infância. Atualmente sinto que vivo num mundo que tem potencial e  conhecimento para ser totalmente diferente, mas que me decepciona por não colocar em prática esse conhecimento.

Anjos existem e são responsáveis por lindos momentos mágicos... Hoje tomei conhecimento de uma história com final feliz. Conheci há algum tempo, um casal de haitianos. Ela trabalhava num café, próximo de onde eu trabalho. A dona do café, num gesto de grandiosa generosidade, acolheu-a quando a haitiana veio pedir emprego. Sem conhecê-la, ofereceu emprego e moradia. Ysemela, esse é o nome da haitiana, tornou-se referência no café, por conta de seu grande carisma. Trabalhadora e sempre alegre, cativava uma freguesia fiel. Com conhecimento na língua francesa e inglesa, além de um conhecimento geral de bom nível, adaptaram-se às duras penas no aprendizado do português.  Ysemela teve grandes traumas com perda de familiares no terremoto que os afastou do país. Mas, o que mais a incomodava era o fato de ter deixado no Haiti, seus filhos gêmeos.  Foram tempos de muito trabalho aqui em Joinville, com o coração voltado para o Haiti, numa luta constante para reu

Não importa para onde viajamos, as aventuras que vivemos, a volta para casa é sempre um momento mágico. Hoje foi um dia cheio de momentos mágicos. Estivemos no condomínio Trentino, onde recentemente houve uma ação da empresa de energia com apoio da polícia e alguns moradores foram presos por gatos de luz. Minha colega estava apreensiva, por estarmos representando a empresa de saneamento. O lugar é temido por muitas pessoas na cidade. Eu estava em paz, sentia que não teríamos problemas. Apesar do receio de minha colega, decidimos entrar. Tínhamos uma missão: informar a um morador, cadeirante, que confundiu-se com o pagamento das contas, deixando uma delas vencer. Levamos a ele a segunda via e ele ficou muito grato por ter sido informado sem precisar sair de sua casa. Quando estávamos saindo do condomínio, outro morador nos procurou: desejava mudar o nome de sua conta de água. Fizemos o atendimento e percebemos que sua renda era compatível com o benefício da Tar

Um homem possuído pela paz está sempre a sorrir. Milan Kundera Hoje foi um dia de muitos risos. No trabalho tive momentos de risos, assim como no caminho de casa, quando, ao amarrar minha bicicleta a uma árvore, fui abordado por um colega que, por coincidência, seguia no mesmo rumo. O riso é algo mágico. Capaz de conquistar, de eliminar a timidez, abrir caminho para o entendimento. Também nos faz mais leves, mais simpáticos e, portanto, mais sociáveis. Existe uma ligação entre o que praticamos e o que sentimos: se começamos a sorrir, nossos problemas se tornam melhores, assim como quando nos tornamos melhores, sorrimos mais. Sorrindo e recebendo sorrisos, meu dia foi mágico.

“Uma vez que você prove o voo, nunca mais caminhará sobre a terra sem olhar para os céus, pois você já esteve lá, e para lá sua alma deseja voltar.”   LEONARDO DA VINCI Hoje um pássaro, conhecido como "Quero Quero", daqueles que se encontram em quase todo o país e que invadem os campos de futebol nos jogos pelo Brasil, parou no meu caminho e me olhou diretamente nos olhos. Não sei o que queria me dizer, mas, como eu vinha de bicicleta, levantou voo logo em seguida, evitando que eu freasse, mas, também não me dando a oportunidade de fotografá-lo. Fiquei a me perguntar: o que me diria um pássaro? Esses animais que debocham da gravidade e se lançam no ar majestosos, me deixam com muita vontade de voar. Não vale a comparação do voo com máquinas humanas.  O voo dos pássaros é leve, silencioso, gracioso. Levantam voo imediatamente, sem necessidade de pistas. Pousam da mesma maneira, sem alarde, sem barulho e sem tensões. É desse voo que falo, o

„O amor é a ânsia pela metade de nós que perdemos.“* Hoje, olhando para o mar, percebi que a natureza não é nada mais do que o altar onde Deus nos mostra seu incondicional e imensurável amor. Há muito me convenci que nossa existência não encontra espaço em explicações sobre aleatoriedade. O equilíbrio que encontramos em tudo, que permite a vida de tantas formas e diversidade, pressupõe, no meu entendimento, que existe um propósito. E esse propósito só encontraria lugar no amor. Porque é o amor que rege este mundo e isso é fácil de perceber: somente no amor conseguimos sucesso. Pense em tudo o que vai contra a vida e a evolução e você perceberá que existe falta de amor na receita. E esse amor existe em toda a parte. Por não compreendermos, deixamos de amar e sofremos. Mas, o amor que me refiro, não é o amor raso, egoista, que busca apenas a satisfação pessoal, pois esse tipo de amor não beneficia nem mesmo a quem o pratica.  O amor que me refiro é aquel

Olhar o mar, perder-se nas possibilidades... O mar, visto da praia, se apresenta como um universo a ser explorado. É um caminho aberto ao desconhecido. Imagino quando os navegadores na era das colonizações olhavam para o mar e partiam, em navios precários, para o desconhecido. Seria como hoje, astronautas saírem para conhecer um planeta que nunca fora pisado pelo homem. Os navegadores saiam sem saber se voltariam, sem saber o destino dos que não voltaram. Acreditavam em monstros marinhos, em sereias, em povos diferentes e com hábitos desconhecidos, muitos hostis. Esse mistério que atrai, esse medo convidativo, esse convite ao desafio, à coragem. As ondas que arrebentam na praia, recuam nas areias e nos arrastam com elas, chamando-nos para jornadas, destinos, aventuras. Quando criança, quando viajava para a praia, ficava imaginando se um dia poderia ficar, largar para trás tudo e viver na praia, ou mesmo no mar. Hoje essa possibilidade existe para mim

A lua e o mar são ingredientes infalíveis pra despertar o melhor que existe dentro de nós. Flagrei uma cena romântica na praia, à luz do luar. Não há como passar despercebida uma cena assim. Momento mágico que remete a muitos mitos, como a liberdade, o amor, a paixão juvenil. Os momentos mágicos caracterizam-se por apresentar sentimentos e vivências de caráter eterno. A cena do namoro na praia sob o luar pode se verificar em qualquer tempo, desde da era das cavernas até o mundo conectado. Reparei que esse casal se relacionava diretamente. Apesar do uso exagerado de celulares, naquele momento, naquela praia, sob o luar, o celular não foi visto. O que vi foi o eterno amor se mostrando e nos encantando. Apesar de registrar o momento em foto, não consegui trazer essa foto a este post, por problemas com meu celular. Tomei emprestada uma imagem semelhante, encontrada no link: http://entreoamoreomartirio.blogspot.com/2011/09/amando-ao-luar.html

Hoje registrei a morte de uma construção. A mesma casa antiga, em madeira, que registrei em post anterior por tratar-se de um retrato das construções coloniais. Pode-se pensar que se trata apenas de uma casa, mas, aquele espaço foi palco de muitas histórias as quais desconheço. Na memória das famílias e amigos dos que residiram ou viveram momentos no local, mais do que uma construção, havia um "lar". Toda construção material traz em si um componente imaterial. Nesse processo de morte, destrói-se e perde-se o material, mas o imaterial permanece. A memória mantém vivo esse "lar", ainda que as pessoas não vivam mais ali, ainda que alguns tenham partido deste mundo. Esse "lar" habita fotografias colocadas em quadros nas paredes de outras construções, mais novas, povoa álbuns físicos e virtuais. Aquece o coração daqueles que ainda se encontram vivos, fundamenta suas essências. Confere identidade, mantém um elo que as prendem a uma origem comum. A m

Interstícios urbanos... Hoje foi um dia em que encontrei cenários espetaculares, escondidos entre casas modestas, em quintais que podem não ser percebidos aos menos atentos. Visitei a vila de pescadores conhecida como "Moro do Amaral". Encontramos homens parados, conversando, em horário em que a maior parte das pessoas estariam trabalhando. Minha colega, assistente social Alessandra, comentou que pessoas desavisadas poderão pensar que essas pessoas seriam preguiçosos que não trabalham, mas, na verdade, eram pescadores que haviam se levantado na madrugada para a pesca e, perto do meio dia, estariam trocando prosa num justo momento de descanso. Passamos, a partir daí, a observar o ambiente com maior atenção. Entre uma casa simples e outra, uma cena paradisíaca do mar, com um pássaro que parecia estar posando para nossa foto. Numa esquina, no quintal de uma casa, uma árvore inconformada com seu confinamento, estende os braços floridos e colore o mundo

Hoje tivemos a grata satisfação em conhecer  Alessandra Cristina Bernardino. Pedagoga e Psico Pedagoga,    militante do Movimento de Consciência Negra Brasil Nagô – Joinville/SC, fundado em 2005 e Coletivo Cor Púrpura fundado em 2015. Já atuou como Presidente e Vice Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher em Joinville. Ela nos trouxe um novo olhar sobre nosso trabalho em comunidades com características quilombolas. Contou-nos sobre como uma doença com potencial fatal, que a deixou em coma, trouxe-a mais forte e determinada em enfrentar desafios no campo social. Nascida em comunidade quilombola, compreende de forma diferenciada o comportamento dessas famílias e luta pelo seu desenvolvimento social. Foi um grande momento mágico e a sensação de que estavam naquela reunião pessoas que o destino sabia que deveriam ser cruzados, como as duas assistentes sociais Alessandra e Julia, da Cia. Águas de Joinville. Como os momentos mágicos se multiplicam no

"Não há nenhuma prática religiosa mais poderosa que a paciência." * Hoje experimentei essa frase e saboreei seu conteúdo no decorrer do dia. Aprendi com a vida que as maiores conquistas são alcançadas em longo tempo, com pequenas ações diárias. Existem teorias sobre a necessidade de ser mais veloz, de tomar decisões rápidas, de ser competitivo. Esse pensamento pode nos levar a resultados rápidos, o que, num ambiente de competição, pode ser interessante. Às vezes, reconheço, essencial para a sobreviver num mundo cada vez mais acelerado. Entretanto, somos humanos, animais, biológicos. Temos limites. É também notável, que decisões rápidas podem nos levar a inconsequências.  Essa ideia da rapidez nos leva a perder a reflexão, nos mantém na superfícialidade, nos move, mas a lugares próximos. Essa pressa nos traz ansiedade, nos faz inseguros. Pode estar aí a raiz de tanta infelicidade, de tanta gente com depressão. Pena que só o tempo nos mos

Porque Deus permite o sofrimento? Hoje, pela manhã, dois membros da igreja dos Testemunhas de Jeová me fizeram essa pergunta no portão de minha casa. Respondi a eles que precisamos de algum grau de insatisfação para que possamos evoluir. Se fôssemos eternamente felizes, não iríamos atrás do desconhecido. Talvez ainda estaríamos nas cavernas. Foi um momento mágico poder refletir sobre esse tema. Eles me indicaram dois trechos bíblicos: Romanos 5:12, Pedro 3:9. Li essas passagens. Existe a menção de que seria o resultado de decisões passadas, assim como que Deus é paciente e nos acompanha em nosso crescimento espiritual. Creio que temos uma natureza iluminada, uma luz e um poder que encontram-se permanentemente encobertos. A razão de encobrirmos seria o medo que temos de enfrentar as consequências de nos mostrar como somos, numa sociedade que nos impele a seguirmos padrões. O maior equívoco talvez seja pensarmos que essa força pessoal e única deveria existir para nos ilumin

Hoje foi dia de trabalho em mais um dos condomínios populares de Joinville. Mais uma vez, fui advertido sobre possíveis problemas que enfrentaríamos. Mais uma vez, fomos recebidos por crianças, senhoras, idosos e pessoas interessadas em nossos serviços. Uma idosa chorou conosco pela situação de seu marido, adoentado. Fui atacado por crianças apaixonantes. Momentos mágicos que vivo todos os meses.

Melhor morrer a perder a vida... Hoje visitamos as ciganas. Já mencionei em post anterior que em Joinville encontra-se um acampamento cigano que é liderado por mulheres. Esse fato é único na história e no mundo. Mais uma característica as torna diferenciadas: deixaram de migrar e se fixaram num local onde se encontram há cerca de cinco anos. Tenho especial afeição pelo grupo, que sempre nos recebe bem e com cordialidade. Apesar da precariedade da vida que levam, fruto das mudanças no modo de vida que exige revisão de conceitos culturais, guardam muitas histórias, muitos mistérios. Creio que, quando uma pessoa acumula conhecimento e experiência, mesmo que não se mostre, acaba por transpirar esse conhecimento em frases sábias, que são ditas muitas vezes sem que se apercebam. Assim aconteceu hoje, quando uma das queridas ciganas me disse ser melhor morrer a perder a vida. No momento não me atentei, mas, pouco depois, percebi a profundidade dessa frase. De fat

Vidas Recicladas, Hoje fui a uma casa simples, em madeira. Poucos cômodos. Tudo o que se refere a necessidades básicas que se espera em uma residência encontrava-se num estágio inferior ao mínimo. Um casal, desemprego, desalento. Mas em todo o terreno haviam plantas, hortaliças e frutas. Um quintal cuidado. Apesar da adversidade da vida imposta a essa pequena família, encontrei sinais de inconformismo. Os detalhes demonstravam buscas por recursos, onde estivessem, e, em sua ausência, onde nunca se pensou existir. O acesso negado aos bens de consumo resultaram em soluções criativas. A história mostra que muitas pessoas notáveis e que contribuiram para mudanças significativas, vieram de lugares inóspitos, famílias desestruturadas, abandono e miséria. Alguns enfrentaram guerras. O espírito humano parece ser compelido a crescer quando se vê diante do que parece impossível. Talvez, esse seja um poderoso segredo. Talvez o acesso aos bens de consumo nos torne letár

Se queres voar, liberta-te de tudo aquilo que te coloca para baixo *. Hoje foi um dia comum. Depois que comecei a procurar momentos mágicos, todos os dias comuns passaram a ser especiais. Logo cedo, ao sair de casa percebi pássaros "quero-quero" que voavam em grupo, cantando alto. O grupo aumentava, começando em três aves e terminando em seis. Anunciavam a manhã com uma alegria contagiante. Segui com essa imagem para o trabalho. O lugar onde trabalho está passando por mudanças e colegas de outra unidade vieram a trabalhar conosco. Existe uma certa magia onde eu trabalho, no posto de atendimento central.  Hoje conversamos sobre isso. Existem algumas explicações. O lugar é onde ocorre o atendimento o maior número de clientes, onde a pressão sobre os atendentes é grande. Apesar disso, existe uma estrutura de suporte composta por profissionais habilitados e, acima de tudo, interessados e prestativos. As relações são profissionais e amigáveis. Evide

Coincidências existem? Existem momentos na minha vida em que as coincidências foram tantas que passei a pensar que existe algo além num plano que desconhecemos, e que converge idéias, pessoas, pensamentos. Em minha adolescência em São Paulo, tive amizade com o Antonio Carlos Lessa Maragni, conhecido na época como o "Tio". Tínhamos a mesma idade e vivemos momentos inesquecíveis. O "Tio" era uma das poucas pessoas que conheci com quem eu conseguia conversar livremente, sem medo de ser censurado, jugado ou ridicularizado. Não havia filtro em nossas conversas e, quando divergíamos de algum assunto, o resultado era rir de nós mesmos. Como é difícil conversar sem ser julgado, rotulado hoje em dia. Infelizmente, o "Tio" faleceu há muitos anos, mas tenho-o como um eterno amigo e isso me trouxe uma situação peculiar. Este ano, em especial, passei a pensar muito nele. Decidi buscar seus parentes nas redes sociais e cheguei ao seu

A relação entre pessoas e animais pode ser surpreendente. Em meu trabalho social, percebo que até os moradores de rua encontram cães que os acompanham. Seriam anjos disfarçados com a missão de citar a dor dos abandonados? Sei que certos cientistas explicam essa aproximação como resultado de evolução mútua, na qual os cães e os homens encontraram uma forma de convivência que traz benefícios mútuos. Hoje meu momento mágico se deu à entrada da biblioteca pública, lugar, aliás, onde já colhi muitos desses eventos. Um catador de lixo reciclável deixou seu carrinho repleto de carga, provavelmente após uma longa jornada de trabalho. Guardando os pertences desse trabalhador, um cão atento. Decidi fotografá-lo, o que não o agradou, pois ao me aproximar foi logo rosnando, mostrando que aquele carrinho tinha dono. Somente um grande amigo poderia defender assim as posses de seu companheiro. Momento mágico de amor incondicional.

Hoje tenho brinquedos no chão da sala. Meus pensamentos me levam no tempo, trazem imagens de infância. Lembro de que improvisava brinquedos imaginários. Não fui daquelas crianças sem brinquedos. Mas os meus brinquedos favoritos sempre foram os de improvisação. Era melhor pegar uma tampa velha de panela e imaginar o volante de um automóvel imaginário do que brincar com brinquedos prontos. A ociosidade e a imaginação infantil ocupavam meus dias, intercaladas com as idas diárias para a escola. Hoje, domingo preguiçoso, me vejo diante de brinquedos na sala de casa e isso me trás uma misteriosa paz. Como companhia, a paquena Mel, uma cadelinha que mais parece um brinquedo vivo. Inexplicável momento mágico.

O mar me traz seu silêncio. Conheço pessoas que não suportam o silêncio. Talvez esse silêncio que vem do mar, entra em meus ouvidos em busca de algo perdido, desconhecido: a minha essência. É como se tudo se apagasse, todos os ruídos, todos os conceitos, tudo o que aprendi. Zomba de meus palpites, brinca com meus supostos conhecimentos. Acho que entrar em contato com minha substância primária pode ser assustador. É quando perguntas infantis exigem exigir respostas que nunca foram respondidas. Um silêncio que me lembra que, apesar da idade, do tempo vivido' das experiências acumuladas, não atingi maturidade suficiente para alcançar um passo evolutivo. Um silêncio que vem despir as vestes culturais, as máscaras assumidas e deixar-me nú, como um menino perdido em busca dos país.

A memória tem me perseguido, embora tenha praticado meditação e ter apreendido que a mente em paz se alcança com o desapego ao passado e ao futuro. Mas hoje seria o aniversário de meu pai, que nos deixou no ano passado. Não se consegue esquecer de datas assim. Em meu caminho encontrei um sambaqui. Para quem não conhece, sambaquis são montanhas construídas por povos pré históricos, que utilizavam conchas empilhadas de berbigões, pequenos crustáceos que provavelmente serviam-lhes de alimento. Essas montanhas foram encontradas pelos colonizadores e somente muito tempo depois descobriu-se ser uma construção humana. Como misturavam conchas com terra, a vegetação crescia dando um aspecto ainda mais semelhante a uma montanha natural. Existe um grande mistério sobre as razões pelas quais esses sambaquis eram construídos e principalmente sobre que povos os erigiram, pois, não se sabe qual teria sido o seu destino. Escavações revelaram que enterravam os mortos nessas construções, além

As mudanças parecem vir com o vento que está constantemente embalando meu barco, para destinos os quais desconheço e isso é mágico. Vivi minha vida enfrentando mudanças. Certa vez contei as vezes em que me mudei de casa, chegando à conclusão que foram quinze vezes. Morei em São Paulo, em Campinas, em Ribeirão Preto e agora em Joinville. Nos anos 90, a empresa onde trabalhava passou por mudanças estruturais que culminaram em sua privatização. Muito se falou sobre mudanças naquela época e foi quando ouvi pela primeira vez a palavra "resiliência". Mudei-me de empresa, fui um pequeno empresário, trabalhei em empresas públicas, privadas e fui gerente de uma ONG. No campo profissional também sou eclético: formei-me em administração, fiz pós em Marketing e Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade. Trabalho hoje com atendimento social. Hoje soube de mais mudanças na empresa onde trabalho atualmente.  É curioso que para mim esse movimento de mudanças é mui

Não ouvi ninguém falar sobre isso , mas hoje é dia dos irmãos. Por coincidência, uma de minhas irmãs faz aniversário no dia de hoje. Distante geograficamente, a ligação que temos é atemporal. Me volta a questão da memória que abordei no post de ontem. É a memória compartilhada nos momentos em que vivemos juntos que alicerça essa ligação.  Tenho três irmãos, todos eles distantes nos dias atuais, todos cúmplices de memórias, boas e más, todas responsáveis por parte do que sou hoje. Tenho mais irmãos, aqueles que nos aproximamos por razões profissionais, por vizinhança, até mesmo aqueles que encontro em meu caminho e que compõem momentos mágicos todos os dias. Ser irmão é estar junto, ainda que à distância, rir e chorar em momentos de memória compartilhada, brigar vez ou outra mas retomar o relacionamento por força maior. Essa força maior se escreve com quatro letras e, copiando minha irmã mais nova, farei um acróstico:  Antagonismo nas relações,  Memórias compartilhadas,

Goethe  , Johann Quando o interesse diminui, com a memória ocorre o mesmo. O dia de hoje me trouxe a reflexão sobre a memória. A destruição do museu no Rio de Janeiro evoca sentimentos de tristeza e revolta. Penso que nossos governantes são a escória da sociedade, que desprezam o povo e se fartam com os recursos públicos com fins egoístas e distantes da coletividade. Há pouco tempo perdemos o Museu da Lingua Portuguesa, em São Paulo. Por conta de nossa educação decadente, muitos consideram museus como depósitos para velharias. Aqueles que buscam o conhecimento sabem, entretanto, que é no passado que se encontram as origens de tudo o que sabemos e, se fechar os os lhos para a história, repetiremos erros, não encontraremos explicações para fatos presentes e nem mesmo poderemos sonhar com um futuro. Em meio a esses devaneios, encontrei em meu caminho um equipamento público grafitado. O grafite é uma manifestação cultural por parte de artistas muitos deles a