João Abeid Filho

Não importa em que crise mundial vivemos, o bem e o mal travam a maior batalha dentro de cada um de nós: nosso maior censor é a nossa consciência. A despeito de muitas mensagens que recebo, assim como certamente ocorre com o leitor, sigo meus mesmos caminhos. Hoje encontrei pessoas em projetos sociais de grande impacto. Algumas dessas pessoas se preocupam com o destino dos seus projetos, por conta da onda que parece vir de intolerância política e social. Uma professora me trouxe essa preocupação, mas, eu disse a ela que o que importa são as nossas ações e para onde direcionamos nossos esforços. Lembrei a ela que ainda existem pessoas vivas e que estiveram em campos de concentração nazista, o que significa que o mundo esteve a pouco tempo envolvido num caos de genocídio e todo o tipo de violência generalizada. Mas, mesmo entre essas pessoas que viveram aqueles anos, sabemos que existiram criminosos de guerra, mas, também, heróis.  Mesmo em meio às trevas, algun

Temos esperança, temos jeito, apesar de tudo... Hoje presenciei um pássaro, uma gaivota, mergulhando e saindo do Rio Cachoeira em Joinville, com um peixe no bico. Parei e percebi que muitos peixes podiam ser vistos nadando no rio que já foi considerado um dos mais poluídos do país. Em agosto de 2017 um jornal local informava que a qualidade do ria havia alcançado o status de "aceitável" e que, até 2030, o rio alcançaria a condição de limpo. A resposta para essa condição foi a construção de rede de esgoto e da fiscalização rígida sobre o tratamento de efluentes por parte das indústrias. Ver essa cena é a prova mais concreta de que o rio está vivo, com aves e peixes. Melhor ainda é saber que a empresa de saneamento em que trabalho tem todos os créditos por esse resultado. a foto não está boa, pois, o pássaro não queria pousar para mim, mas é possível ver o peixe em seu bico. nesta segunda foto, uma sobra no canto direito denuncia a passagem de

equilíbrio* substantivo masculino 1. FÍSICA condição de um sistema em que as forças que sobre ele atuam se compensam, anulando-se mutuamente. 2. posição estável de um corpo, sem oscilações ou desvios. "pôr em e. os pratos de uma balança" Após a euforia de tantos e a decepção de outros tantos, a vida segue. Existe na cultura oriental o conceito de que corpo e mente são uma só coisa, indissociáveis. Outra premissa é de que nos extremos encontra-se a infelicidade - o que se deve buscar é o ponto de equilíbrio. As sociedades oscilam de um extremo a outro, permanentemente. Porque o extremo é sedutor, mas destrutivo. Assim, ying e yang compõem em doses equilibradas, o caminho do meio, onde se encontra a perfeição e a felicidade. Pensar assim é interessante, porque nos faz conduzir nossas vidas de forma a buscar o ponto do equilíbrio. Isso nos livra de problemas, nos torna mais serenos e mais assertivos. O processo el

Dia de mudanças?... Hoje, dia de eleição para presidente, o sol está iluminando a cidade, como não fazia há tempo. Fomos à pé votar, numa escola pública próxima de casa. Muitas pessoas andavam na calçada, indo e vindo, uma cena rara em domingos, quando ficam desertas. Para algumas pessoas, hoje será eleito o salvador da pátria, aquele que resolverá todos os problemas, que trará a ordem e o progresso, escritos em nossa bandeira.  Para outros, o caos se estabelecerá, direitos serão perdidos, assim como a liberdade de livre pensar. Seja á como for, para mim, que estou beirando os sessenta, sei que alguma coisa pode mudar, mas, depois que a poeira se assentar, tudo retornará ao mesmo. Estamos vivendo um processo de perdas há muito tempo e fico chocado quando vejo pessoas acreditando em políticos. Nesta eleição, as pessoas se dividiram, se acusaram, muitos se rotularam ou foram rotulados. Muitas amizades foram desfeitas e pessoas que vivem no mesmo lugar passar

dignidade* substantivo feminino 1. qualidade moral que infunde respeito; consciência do próprio valor; honra, autoridade, nobreza. "sempre se mostrara homem de muita d." 2. qualidade do que é grande, nobre, elevado. Hoje o sol apareceu, enfim, em Joinville. Encontrei um pássaro morto no telhado da casa onde moro. Aquele pequenino ser pode ter se chocado contra uma das janelas do sótão, caindo no telhado. Pensei na dignidade, essa palavra que tanto significado carrega, que tantos buscam. Quantos de nós enfrentam janelas translúcidas, invisíveis, mas, capazes de interromper nosso voo? Quantos de nós são interrompidos, quantos são abruptamente bloqueados quando estão imaginando estar avançando? Apesar disso, quantos alcançam a dignidade? Aquele pássaro teve sua jornada interrompida, mas, em sua queda, encontrou um telhado. Perdeu a vida, mas manteve-se no alto, mesmo sem voar mais, ficou mais perto do cé

O Ogro, ou o que restou de um ser humano cuspido pela sociedade... . Hoje visitamos uma pessoa que me assustou. Chegamos à residência, uma casa em alvenaria de bom tamanho, com um terreno de bom tamanho, mas, totalmente tomado por vegetação e árvores. Não se trata de uma jardinagem, mas, de crescimento de mato por descuido. Muitos cães nos receberam, alguns deles pulando o muro da casa e nos abordando na calçada: nenhum nos mordeu. Batemos palmas e um senhor idoso veio ao nosso encontro. Com uma perna muito torta, apoiava-se numa bengala improvisada. Não ouvia quase nada do que falávamos e se comunicava com muita dificuldade. Esse senhor vestia apenas uma camisa comprida e creio estar apenas de cueca. Convidou-nos para entrar. A casa muito suja, com tigelas com comida espalhadas pelo chão, para os cães. Na sala, colchões no chão rasgados e imprestáveis. Haviam  “ obras caninas ”  espalhadas por todo o interior da casa, por todos os cômodos. Não

Cristais de orvalho... presentes de uma noite de chuva A chuva fina deixa suas marcas pela cidade. Encontrei uma cena magnífica: pequenas gotas de orvalho enfeitando uma roseira, como ornamentos numa árvore natalina. Essas gotas, que mais se assemelham a cristais, me trazem a reflexão sobre a natureza, seus propósitos e suas origens. Se o universo fosse criado aleatoriamente, de maneira fria como pensam muitos cientistas, haveria a beleza? Nos detalhes de todas as manifestações naturais, encontramos pequenas assinaturas de um artista com uma habilidade que supera toda a capacidade humana. É pertinente pensar nas causas desses cristais, na função das flores, na beleza da roseira, no aconchegante clima das chuvas. Mas, a junção de todas essas possibilidades científicas num único efeito visual, e sensitivo, criando beleza, ah.. isso é mágico. Estaria o Criador deixando seus sinais de perfeição e amor à criação em cada uma dessas manifestações? Se o objeti

não existe alienação, existe o jogo Hoje a chuva está caindo sem parar. É interessante a chuva, quando estamos a observá-la dentro de algum lugar protegido, como dentro de casa ou de um automóvel. Nos traz uma sensação de aconchego. Visitei uma senhora que vive com uma filha, com 31 anos de idade, especial e totalmente dependente. Essa senhora foi o assunto que me envolveu e à assistente social que comigo estava em campo. Foi-nos trazida a situação desesperadora pela assistência social do município. Entretanto, soubemos que ela está agora com um companheiro. O casal nos recebeu e essa senhora estampava um sorriso irradiante. Em visita há algum tempo, ela chegou a expulsar as assistentes sociais. Além do novo companheiro, ela mudou-se para uma casa melhor.  O ponto que nos chamou à atenção foi a forma como muitas famílias se comportam diante dos servidores públicos da assistência social.  Muitas dessas famílias procuram ajuda e tecem um cenário de

Hoje descobri que talvez eu seja uma fraude. Os momentos mágicos trouxeram a consciência de minha insignificância. Eu penso que somos equilibristas que tentam sustentar-se numa linha fina, com a pequenez de nossa existência no universo de um lado de um abismo e, do outro lado, a exclusividade do DNA. Somos quase nada, mas, únicos. Isso nos torna raros, sagrados. Mas também nos traz a consciência de que pouco sabemos, apesar de muitas vezes pensarmos diferente, achando que somos eruditos, propagadores de verdades. É risível. Quantas vezes julgamos nossos dias difíceis, enfadonhos, quando, acima de nossas cabeças, um universo - talvez um multiverso, como defendem alguns cientistas contemporâneos - abriga fenômenos de grandezas inimagináveis e nos dá o equilíbrio necessário para que tenhamos a oportunidade de viver. A ciência hoje é mais interessante que o misticismo, traz mais possibilidades inimagináveis. Talvez eu seja uma fraude, pois não tenho consciênci

“ Notícias do sol -  os pássaros da manhã  cantam na varanda ”  ―  Zemaria Pinto -  https://kdfrases.com/frase/165830 Hoje o sol apareceu. Com ele as cores voltaram, o dia se alegrou. O calor apareceu também, após um domingo um tanto frio. Mas, as aves parecem ter sentido mais essas mudanças. Desde cedo, compunham uma sinfonia, cada espécie com sua musicalidade própria, em completa harmonia com as demais. Um novo ciclo começa, com dias mais quentes. Na cidade, percebi que a prefeitura começa a colocar os ornamentos para o Natal. Esta semana será decisiva para o país, com eleições para presidente no domingo. Assim como o sol era aguardado, muitas pessoas esperam no novo presidente um novo cenário com mais justiça social. Prefiro acompanhar a natureza, pois, essa nunca desvia de seus desígnios e tão pouco nos engana. O sonho existe no dia-a-dia, nas manifestações mais simples, nos momentos mágicos que ocorrem a todo momento. Basta

Se deve surgir uma pedagogia do estudo individual do escolar isto somente será possível graças à observação de crianças livres, isto é, de crianças observadas e estudadas em suas livres manifestações, sem nenhum constrangimento. Maria Montessori O ser humano nasce de maneira encantadora. Ilumina um lar, alegra as famílias, dá sentido a tudo.  Desperta o amor incondicional e nos faz olhar para o outro, esquecendo-nos do egoísmo. Desde cedo, as crianças manifestam o desejo de liberdade. Inicialmente, uma liberdade assistida, para gradativamente buscar independência. Essa liberdade é o caminho para que possamos potencializar o que somos.  Hoje vemos muitas pessoas perdidas, sem projetos de vida, sem sentirem sentido na vida. Muitas vezes, essa sensação tem raízes num condicionamento imposto por ideologias que definem como se deve agir, pensar e se apresentar. O dia de hoje me trouxe a sensação doce da leveza de ter minhas próprias opiniões. De ver o mundo além

quando estou com as pessoas, especialmente as que menos conheço, me torno mais humano e consciente de minha pequena estatura evolutiva, assim como da minha enorme responsabilidade social Hoje foi dia de trabalho e dia de alegria. Fomos, pela manhã, ao condomínio Trentino 2, do programa Minha Casa Minha Vida. Como sempre, fomos recebidos com muito carinho e as crianças puderam brincar nas camas elásticas que levamos. Pipocas e balas foram a festa das crianças, algumas, como eu, bem grandinhas. Muita gente nos procurou e pudemos ajudar a resolver problemas com contas atrasadas, mudança de nome nos apartamentos e orientações. É sempre mágico estar com essas famílias.

“ Quando perguntavam a Sócrates de onde ele vinha, respondia que era um cidadão do mundo. Ele se considerava um cidadão do universo. ”  ―  Cícero -  https://kdfrases.com/frase/122305 Hoje foi um dia de correria. Sexta-feira com muitas atividades, entre elas, preparar a ação que ocorrerá amanhã no Condomínio Trentino 2, formado por famílias beneficiadas pelo programa social Minha Casa Minha Vida. Estou acostumado com os preconceitos de grande parte dos moradores de Joinville com relação a essas famílias. Para muitos, o lugar é violento e povoado por desocupados. Se houver um automóvel no estacionamento do condomínio que seja caro, logo julga-se que as pessoas que ali vivem não apresentam situação social condizente com o investimento público, ainda que esse automóvel seja o único num pátio cheio de vagas vazias e com veículos semi destruídos.  Mas assim são os preconceitos: julgam-se todos por poucos. Como tenho vivência com populações com renda limita

Hoje recebemos um alerta da Defesa Pública sobre uma iminente tempestade com possibilidade de granizo. Tinha um compromisso na Unidade Básica de Saúde de Pirabeiraba, na zona rural de Joinville. A  missão: apresentar o trabalho voluntario na comunidade Caminho Curto, onde cerca de vinte famílias enfrentam problemas com esgoto ao céu aberto. A reunião ocorreu após o horário de trabalho, com a presença de diversos atores sociais, incluindo o subprefeito. Iniciou-se a reunião com uma oração: o Pai Nosso. A protagonista, Marli, disse que sempre iniciam suas reuniões com essa oração: "orar não faz mal a ninguém e nossas reuniões são sempre harmoniosas". Apresentei o nosso trabalho e recebi informações importantes, além de uma recepção calorosa, promissora com a intenção de novas parcerias e trabalho integrado. Ao chegar, o céu apresentava um cenário à parte, prenunciando os momentos mágicos que vivi no dia de hoje.

Chove chuva... Joinville está sendo Joinville. Não há como ser diferente, apesar do ano ter sido um tanto atípico até um mês atrás. A chuva tem seus méritos, apesar de nos desnortear. O estilo de vida que adotamos, baseado num mundo culturalmente construído, nos criou a falsa sensação de afastamento da natureza. Entretanto, a natureza nos lembra, frequentemente, que é parte de um todo indissociável. Que as chuvas são apenas um fenômeno previsível, apesar da meteorologia encontrar problemas muitas vezes em entender essa previsibilidade. Se esquecermos das roupas no varal, do trânsito que se torna mais lento, dos guarda-chuvas chineses que insistem em quebrar com poucos dias de uso, e ouvirmos o som da chuva ao bater no chão, certamente despertaremos nossa admiração ancestral por esse fenômeno. Em casa, a cadelinha Mel se esconde quando ouve trovões, me procura assustada em busca de proteção. Ela, que não está sujeita aos nossos modos urbanos de viver, s

Hoje senti um peso. Às vezes isso acontece comigo, sempre foi assim. Como se meus dias respeitassem um ciclo de momentos de serenidade e outros de mergulho. Já pensei muito sobre esses ciclos. Quando me encontro assim, me aquieto, sem motivos. Quando tento dar motivos, acabo encontrando o que busco, mas, descubro depois que esses mesmos motivos não me atingem quando estou em melhores momentos. Esse peso funciona como uma mola comprimida, aprendi. Acordo em outra manhã com o espírito renovado e mais forte. Assim funciona o mundo, oscilando em ciclos. Dias de chuva se alternam com dias de sol, o calor se alterna com o frio.  Quando respiramos, alternamos a inspiração com a expiração.  A alternância se alia ao tempo. Isso permite que o movimento, aparentemente circular, tome a forma de espiral ascendente. Dessa forma evoluímos. Pode ser uma boa teoria, ao menos me conforta. Por que trouxe esse assunto? Porque o dia foi cheio de mudanças, saí pela manh

Uma pessoa com  “ hábitos de rua ”  – é dessa forma que se diz de pessoas que dormem nas calçadas da cidade – dormia no chão quando passei e o vi. O que me chamou à atenção foi o seu companheiro fiel. Um cão dormia com ele, sobre a coberta. Seu amor e devoção são tão grandes que não se importou com o fato de estar descoberto, de estar com alguém sem um lar: ele estava lá. Talvez o único ser que enfrentaria qualquer situação ao lado de seu amigo. Ao menos no momento em que vi, o único a lhe fazer companhia. Esse tipo de atitude dos animais nos dão provas de que o amor não se limita à espécie humana. Não só o amor, mas, sobretudo o companheirismo, a presença incondicional. Um momento mágico que me faz pensar no amor presente em toda a criação, como um sentimento natural, espontâneo. A criação em sua mais pura manifestação. Um gesto cristão produzido por um animal, que nem mesmo sabe algo sobre religiões: ama por amar, simples assim.

Estou na sala de minha casa. Uma luz amarelada adentra pelas janelas e transforma todo o ambiente com uma atmosfera retrô. A tarde vem encerrar mais um fim de semana.  Assisti a um filme sobre vampiros e o tema central era a imortalidade. Talvez a imortalidade esteja nas cores, nas luzes e matizes. Na repetição dos dias, nos domingos ao entardecer, na certeza de que novamente a noite se aproxima, mas, um dia novo surgirá, repetindo um ciclo infinito. A imortalidade é algo que concebemos por conhecer a morte. Ao encontrarmos um fenômeno, o identificamos através do seu oposto - esse seria o conceito da alteridade. Se me vejo homem é porque existem mulheres, se me vejo com estatura mediana é porque vi pessoas maiores e menores que eu. Eu me vejo através de meus opostos. Apesar disso, apesar da repetição dos dias, muita coisa em mim muda de maneira silenciosa. Posso não perceber no dia-a-dia, mas, ao olhar fotos antigas percebo essa mudança. E essa mudan

Hoje a melancolia tomou conta de mim. A chuva, o frio e as mesmisses nas redes sociais.  Quando isso acontece, saio em busca da magia escondida nos interstícios do mundo. Encontrei uma cena interessante. Em meio a tanto mar, um barco de pescador estava sendo seguido por um grande número de pássaros. Gaivotas em busca de peixes. Essas mesmas gaivotas poderiam pegar seus peixes por si mesmas, mas, contam com a facilidade de um pescador, que, utilizando tecnologia primária, consegue ser mais assertivo. Mas as aves não sabem que esse mesmo pescador, segue as aves no mar, pois, somente elas conseguem observar do alto os cardumes de peixes no mar. Essa interdependência é interessante, curiosa e desperta reflexões. Somos, em muitos momentos, guiados por pescadores, pensando que somente através deles conseguimos alcançar nossos peixes, enquanto esses mesmos pescadores dependem de nós para alcançar seus objetivos. Fonte: https://www.flickr.com/photos/30197694

Dia das crianças, quem bom que, em meio a tanta discussão insana, temos um tempo para pensar nas crianças. Ser criança é viver o presente, algo que herdamos naturalmente, mas, por razões diversas, perdemos ao longo do tempo e nos tornamos presos no passado e no futuro.  Segundo o Budismo, essa seria a causa da infelicidade: a mente, quando se volta ao passado ou se preocupa com o futuro, nos tira do único momento em que podemos agir: o momento presente. As crianças sabem disso: vivem intensamente cada momento, correm, brincam, choram e dão gargalhadas por qualquer motivo aparentemente sem sentido. Pulam na cama de pijama, dançam ainda quando bebês, saboreiam a vida como ela é. Dia de oportunidade de refletirmos sobre a felicidade de ser ingênuo, de ser natural, de ser o que somos sem nos preocuparmos com as opiniões alheias.

Hoje visitei uma família que pediu uma ligação de água, o que não é novidade em meu trabalho. Ocorre que fui recebido por uma princesa chamada Vitória. Essa pequena princesa se preparava para festa na escola e sua mãe cuidava da maquiagem e dos retoques finais. Carregando a caixa padrão como se fosse um tesouro, sua família poderá ter acesso direto à água, sem ter que compartilhar com vizinhos, como ocorria até hoje. Foi um momento mágico ver a pequena princesa Vitória e sua alegria infantil. Acordou a criança em mim.

Diz-se que Sócrates acreditava que  as ideias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender , fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado.* O dia de hoje me trouxe muitos momentos mágicos. Passei por lugares de uma beleza extraordinária, em zona rural de Joinville. Nesses lugares, considerados enobrecidos por causa de grandes propriedades rurais, onde, apesar da distância do centro, apresentam asfalto liso, enquanto muitos bairros carecem desse recurso, encontro também famílias isoladas. É com essas famílias isoladas que eu trabalho. Com minha colega assistente social, conversamos sobre a política. Argumentei que a sociedade parece sempre desejar que um "messias" traga a salvação para os problemas. Mas, seriam os políticos essas pessoas messiânicas? Segundo Sócrates, o político perfeito seria o filósofo. Filosofia, em seu sentido etimológico: amor ao conhecimento. Da filosofia nasce a ciência,

* Histórias que se misturam, caminham com o tempo. Pessoas que reencontramos, vivências que se aproximam. Há cerca de dois anos atrás, visitamos uma família na situação entre as mais degradantes que já pude conhecer. Um casal jovem, com uma criança. Ele com câncer e ela grávida de mais um filho. Moravam num barraco construído em cima do mangue. O cheiro do local era insuportável. Ambos encontravam-se  desempregados. Não pudemos levar água por razão de questões ambientais. Hoje visitamos uma família com a intenção de doarmos uma cesta básica que recebemos de um colega de trabalho. Ao chegarmos, conversamos com a família e expusemos nossa intenção. Apesar da situação crítica dessa família, foram sinceros em nos dizer que não passam por problemas com alimentação e que poderíamos doar a cesta a uma família mais necessitada. Ao sairmos, a senhora que nos atendeu veio nos pedir para que entregássemos a cesta básica aos seus vizinhos, por estarem passando por pro

Hoje é uma segunda feira de garoa e frio em Joinville. Frio que apenas eu posso sentir, pois, as pessoas aqui, invariavelmente de pele mais clara, chegam a sentir calor. Enfrento o dia e me lanço nas ruas: eu e a "Joaquina", nome que dei à minha bicicleta, depois de uma longa conversa de escolhas com minha mulher. Passo por lugares todos os dias, mas, apesar de parecerem os mesmos, não o são: o tempo lhes confere novos significados, assim como eu que passo não sou o mesmo, mas um eu atualizado em um dia. Em meio a tanto cinza, encontrei um reduto de concreto, prédios, janelas. Isso me remete à minha infância. Pode parecer estranho pra muitos, mas, nasci em São Paulo num apartamento e minha referência de infância é a metrópole. Sozinho com meu frio, não compartilhado, e minhas lembranças de uma infância exótica para muitos, registrei uma foto, um caminho cinza e todas as dúvidas que carrega: onde termina? quem vive em cada janela? quais histórias ocor