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Showing posts from November, 2005

Conto "Caroline", publicado pela Editora Edicon em 1994

Caroline As tardes de outono têm segredos que somente o espírito elevado consegue desvendar. Infelizmente, esse estado de inspiração não pode ser experimentado de maneira permanente e nem mesmo voluntária – são lampejos que ocorrem em momentos especiais. Assim, naquela tarde de outono, Pedro havia caminhado uns cinco quilômetros, mas não se sentia cansado, pois captara cada manifestação em seu percurso. Viu as folhas caindo no solo, quase que podia ouvi-las. Um gato cruzara o seu caminho – era um filhote. Carregou-o até à casa de Caroline, que o aguardava à porta com um brilho especial nos olhos que, como tudo o mais, somente Pedro conseguia perceber. - Veja como é frágil – acho que se perdeu da mãe. Caroline olhou para o animalzinho com uma ternura infantil. Morena, cabelos lisos e compridos, desalinhados sobre os ombros, era uma menina no corpo de mulher, em seus quatorze anos. Abraços, beijos. Correram ao jardim interno. De passagem, um “olá” para Dona Márcia, mãe d

Conto "Partida", publicado pela Editora Edicon em 1989

Partida O sol está a pino. Maria Lúcia traz a toalha e cobre a mesa de tábuas. Meu estômago está me avisando que um bom prato de comida será bem vindo. Lembro de minha infância quando corria pelo imenso quintal da casa de meus pais, puxando um carrinho de madeira pelo barbante, indiferente aos apelos de minha mãe: “Quinzinho! Venha almoçar!”... Depois de muito procurar, mamãe me pegava pelo braço e me arrastava para a cozinha, vociferando lamúrias. No almoço eu não podia falar. Meu pai se sentava à mesa com tom severo e punha-se a comer, fazendo, de vez em quando, um comentário sobre política ou sua manhã de trabalho na repartição. - Papai, pode se sentar – disse Maria Lúcia, apontando a cadeira de espaldar alto. Jorge, meu genro, já estava sentado esperando ser servido. - Você viu como está ventando hoje? Se não tivesse ido lá fora pela manhã, os passarinhos teriam morrido de frio – disse eu, percebendo que não fui ouvido. - Me passe o limão querida – disse