Momentos Mágicos – dia 29 de janeiro de 2018

“- todos devem deixar algo para trás, quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo. Para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. (…) A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não estar ali; o jardineiro estará lá durante uma vida inteira.” (BRADBURY, p.190)[1]


Hoje encontrei o “Joe”, ele me abraçou, disse que estava ansioso em me ver, pois, precisava confabular comigo acerca de um filme – “Lucy”- em que a personagem principal evolui dos 10% de utilização do cérebro até os 100%.

Joe é personagem vivo da história de Joinville: foi o primeiro hippie a montar sua barraca no centro da cidade. Conheci-o quando de minha dissertação no curso de mestrado, mas, essa é outra história que deixo para outra oportunidade.

Joe é um filósofo, na perfeita acepção da palavra: ama o conhecimento e busca constantemente evoluir em seus conhecimentos, com foco nas perguntas mais elementares: o que somos? De onde viemos? Para onde vamos?

Apesar de não ter estudado, decisão tomada em razão de seu estilo alternativo de vida, é autodidata. Lê muito e gosta de conversar comigo sobre suas leituras.

A forma carinhosa com que me recebeu, dizendo que somente eu seria capaz de conversar com ele de forma aprofundada sobre os mistérios do cosmos e da humanidade, me comoveu.

Fiquei pensando no livro que acabei de ler e que acabara de devolver à biblioteca pública municipal, especialmente sobre o parágrafo que cito no início deste post.

Percebi que o encontro com o Joe foi hoje meu momento mágico, pois, me fez refletir sobre a beleza de uma amizade.

Veio-me a sensação de que, quando eu morrer, algumas poucas pessoas, entre elas o Joe, poderão sentir a minha falta e, por essa razão, valeu a pena viver.

São, de fato, poucas as pessoas que sentirão minha falta por algo que eu tenha “tocado”.  Mas o mais incrível é que, nesse caso, não serão jardins ou casas ou qualquer outra coisa material como sugere o autor do parágrafo que citei. Esse “toque” seria a minha existência não física, minha capacidade em ouvi-los e de expor minhas idéias sem a pretensão de convencê-los, mas, com a intenção de aprofundamento de nosso conhecimento mútuo. 

Em resumo, meu legado seria a maior de todas as riquezas: a amizade.

Senti-me muito feliz com esse encontro, que me fez pensar que posso me tornar lembrado por minhas idéias: não tenho a necessidade de deixar nada físico que me invoque.

Seria essa e melhor forma de me tornar “eterno”, mesmo que seja para algumas poucas pessoas.

E quanto ao Joe? Ele já entrou para a história.










[1] BRADBURY Ray, 1953, FAHRENHEIT 451, Editora Globo SA.

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