Momentos Mágicos – dia 19 de janeiro de 2018
Aquele que já não consegue sentir espanto nem surpresa está, por assim dizer, morto; os seus olhos estão apagados.
Em meu caminho diário, passo por uma avenida conhecida na cidade como a “Beira Rio”. O Rio Cachoeira divide essa avenida em dois sentidos.
Nas margens, encontram-se plantas ornamentais, as quais crescem rapidamente e procuram se espalhar, tomando conta da ciclovia. Por essa razão, periodicamente é realizada a poda pela equipe de jardinagem da prefeitura.
Utilizam-se de motosserras e aparam as plantas até que voltem a ocupar o espaço desejado para que a ciclovia possa ser utilizada.
Hoje, ao passar por esse lugar, essa equipe estava a podar as plantas e alguns trechos já se encontravam aparados, revelando o que seria o meu momento mágico diário.
Quando essas plantas estão em seu movimento de crescimento desordenado – aqui se entende essa desordem do ponto de vista humano, de uso do espaço na cidade – mostram-se verdes. Entretanto, quando podadas, revelam pequenas surpresas, pepitas vermelhas, florezinhas de uma vivacidade contrastante.
Uma demonstração de que desconhecemos os reais tesouros, muitas vezes escondidos de nossas vistas e, por essa razão, tudo pode parecer monocromático, neste caso “verde”, enquanto que, ao se conhecer mais, ao se aprofundar, percebemos outras cores, como o vermelho vivo dessas florezinhas.
Dizem os budistas que o que vemos é apenas uma ilusão. Existem dimensões de entendimento para essa afirmação, mas, ao perceber o que se esconde de nosso olhar rápido e distraído, esse pensamento toma todo o sentido.
Se alguém me dissesse que existem flores vermelhas em meu caminho, eu poderia dizer que não, que vejo apenas o verde – o olhar atento e sensível me traz, entretanto, outro universo.
Um bom tema para reflexão.
A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino.
Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino.
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