Momentos Mágicos – dia 27 de março de 2018





O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão.


Hoje passei por diversos lugares e visitei alguns clientes.
Uma senhora me contou que vive só pelo fato de seu marido ter falecido e de ter perdido contato com sua única filha, envolvida com drogas. Também, por conta de dívidas da filha com traficantes, perdeu o imóvel e hoje paga aluguel.

Enquanto me contava sua história, o tempo pareceu parar e eu não consegui ouvir qualquer som, como se tivera sido capturado para outra dimensão.
Essa história não é rara de se ouvir. Conheço muitos idosos que vivem sós, mergulhados em suas lembranças.

Quem de nós nunca sentiu solidão, mesmo em meio a uma multidão?
É uma sensação de aprisionamento: vivemos esses momentos presos a um passado, que pode ser bom ou ruim, mas, não é real.
O passado tenta se eternizar em nossa memória e isso pode ser ruim, quando nos entristece ou nos paralisa.

O tempo agrava esse risco, uma vez que vivemos em uma sociedade que despreza o conhecimento acumulado e a sabedoria adquirida pelos mais idosos.
É como perceber-se experiente, mas, não poder levar essa experiência adiante, por falta de interesse daqueles que poderiam aproveitá-la em tempo de evitar erros.

Hoje me dei conta de que envelheço e que estou sujeito a esse processo de esquecimento social.

A frase de Gabriel Garcia Márques, citada no início deste post, me remete a preparar-me para esse “pacto honroso com a solidão”.
Esse pacto terá que contar com linhas dedicadas a encantar-me com as belezas subjetivas, mas nem por isso irreais, escondidas nas entrelinhas do dia, somente observáveis por olhos experientes de quem viveu muitas histórias.

Um momento mágico em que uma senhora trouxe-me a dimensão da solidão, através de uma boa prosa e muitos risos: apesar de sua situação, sua simpatia e alegria nos aproximou – quanta sabedoria pode conter um ser humano experiente que enfrenta sua sina de cabeça erguida e sorriso nos lábios.



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