Momentos Mágicos – dia 28 de agosto de 2018

Imagine um mundo em que as pessoas não tenham endereço fixo, documentos, conta em banco, carteira assinada nem história. E que a vida deles passe despercebida, como se não existisse. Que a única certeza é que nunca faltará preconceito e ignorância, medo e fascínio, injustiças e alegrias ao longo de sua interminável jornada. Bem-vindo ao mundo cigano (*).



Em Joinville existe um acampamento cigano peculiar. Viúvas ciganas se uniram e assumiram um novo grupo, um acampamento onde as mulheres lideram. 

Não existe, e nem nunca existiu, um acampamento liderado por mulheres e isso tem chamado a atenção de muita gente no mundo.

Pelo fato de serem mulheres na liderança, deixaram de migrar e se fixaram em um terreno onde existe uma disputa pela propriedade.

Essas circunstâncias peculiares as colocam numa condição de migração, um processo conhecido como aculturação, em que sua cultura começa a se misturar com a cultura local, que é predominante.

A nova condição de fixação as deixou à margem da sociedade, vulneráveis e vivendo em condições indesejáveis.

Há um ano tomamos conhecimento desse acampamento e da dificuldade que tinham essas mulheres em carregar baldes de água, vendidos por uma vizinha do lado oposto da rua, lhes causando dores nas costas.

Observando a condição, percebemos que seria possível levarmos água tratada ao acampamento, desde que uma igreja evangélica vizinha permitisse a colocação do ramal de água em seu terreno. Sucesso, não precisam mais carregar baldes. Pagam em dia as faturas de água, para surpresa de alguns colegas preconceituosos.

Hoje estivemos no local para um novo desafio: estudar uma forma de dar destino ao esgoto produzido no acampamento. Existem técnicas ciganas, mas, pensadas para pequenos períodos de tempo, visto que são migrantes, o que não funciona no caso de fixação no local.

Expusemos a situação e compartilhamos o desejo de solucionar essa situação. 

Ao chegarmos, as ciganas estavam trabalhando com vestidos brilhantes e de uma beleza mágica, como se fossem costureiras em um conto de fadas.

Momento mágico de compartilhamento de idéias, culturas e boa vontade.


 (*) https://trilhas.diogenesjunior.com.br/o-povo-e-a-cultura-cigana-a144cf72a9eb 

Comments

Post a Comment

Popular posts from this blog

A PRAIA

Image
    Há pessoas que vão à praia para mostrar o corpo; Há pessoas que vão à praia para ver outros corpos; Há pessoas que vão à praia para se bronzear; Há pessoas que vão à praia para postar fotos nas redes sociais; Há pessoas que vão à praia para andar na areia; Há pessoas que vão à praia para ver o mar; Há pessoas que vão à praia para se banhar; Há pessoas que vão à praia para pescar; Há pessoas que vão à praia para meditar; Há pessoas que vão à praia e mergulhar em reflexões sobre o passado; Há pessoas que vão à praia para refletir sobre o futuro e suas inquietações; Há pessoas que vão à praia para surfar; Há pessoas que vão à praia em embarcações e ganham o alto mar; Há pessoas que vão à praia para ver o sol nascer; Há pessoas que vão à praia para ver o pôr do sol; Há pessoas que vão à praia para construir castelos na areia; Há pessoas que vão à praia para vender produtos aos banhistas; Há pessoas que vão à praia por profissão, para salvar os afog
Read more

ADEUS ÀS CALINS

No final de 2016, o Atendimento Social da empresa de saneamento em que trabalho, na cidade de Joinville, foi procurado por um  grupo que prestava apoio a um acampamento cigano na Rua Agulhas Negras. Fomos ao local para entender a situação. Encontramos um acampamento cigano, liderado por mulheres, cinco irmãs viúvas vivendo em situação de vulnerabilidade social. Sem acesso à água, por não serem proprietárias do terreno que ocupavam, comprava água de uma vizinha que se situava no lado oposto da rua.  Essas mulheres ciganas, que se autointitulam “Calins”, sofriam com doenças e dores que se agravavam com a tarefa de carregar baldes de água diariamente. A expectativa de atendimento era nula, mas, observamos que o terreno era, em parte, propriedade de uma igreja, que utilizava como estacionamento para seus fiéis. Assim sendo, em reunião com o pastor, conseguimos que fosse solicitada a ligação de água para esse terreno, de onde as Calins levavam, então, a água por mangueira até o acampamento.
Read more

MEMÓRIAS INSANAS

  Nos idos anos de 1978, após uma noite de dança numa discoteca em São Paulo, saímos, eu e meu amigo Antonio Carlos pelas ruas iluminadas da cidade, sem rumo. Era comum andarmos assim pela cidade, a pé e sem rumo, conversando e rindo de qualquer bobagem. Me lembro que ríamos muito até chegarmos a uma esquina. Eu estava no lado de fora da calçada e Antônio Carlos do lado de dentro. Não sei de onde me surgiu um assombro, dei um grito e pulei para o meio da rua. Antonio Carlos, sem entender nada, pulou um muro baixo para dentro de uma casa. Na esquina, surgiu uma moça que, ao ver a nossa reação, retomou, correndo, pelo caminho que vinha. Até hoje não sei por que tive essa reação, assim como os outros dois protagonistas dessa história insana. Corremos assustados de algo que nunca ocorreu. Antonio Carlos não é mais vivo, a moça, nem sequer me lembro de sua aparência. E eu, sigo sem saber o que ocorreu e rindo sozinho quando me lembro desse episódio.
Read more