Momentos Mágicos – dia 24 de agosto de 2018

O progresso desconstrói a "comunidade" , deixando no passado o "comum" e adotando apenas a "unidade", o individualismo. 


No meu caminho ocorrem muitos momentos mágicos. Grande parte deles ocorre com muita rapidez e eu não consigo fotografá-los.

Estivemos no dia de hoje visitando uma família cuja casa não conseguimos achar. Tentamos contato telefônico e ela respondeu: pediu para que fôssemos até o final da rua, entrássemos à esquerda numa viela e a esperássemos no fim dessa viela.

Ao chegarmos, lá estava ela nos esperando em um caminho que se iniciava no final dessa viela.

Fomos com ela pelo caminho, descemos um barranco e, lá embaixo, duas casas surgiram. Ambas em madeira e rústicas.

São pessoas que moram em lugares de difícil acesso, onde conseguiram um pedaço de terra para levantar suas casas simples, em madeira.

As dificuldades são muitas, o desemprego é um dos fatores, mas existem aqueles com problemas de saúde, os dependentes químicos e outras situações de abandono.

Em todo esse aparente caos, essa senhora nos recebeu com muita educação e gentileza. Não conseguimos resolver a situação naquele momento, mas, nos comprometemos a pesquisar alternativas.

É mágico esse tipo de contato. Em minha história junto a comunidades empobrecidas, testemunhei muitas situações onde as pessoas se uniam para ajudar uma família com problemas, onde muitos receberam minha equipe com carinho e afeição e onde deixei muitas amizades.

Algumas dessas comunidades passaram por regularização, receberam asfalto e tornaram-se bairros comuns, desaparecendo na paisagem urbana. A partir de então, as famílias não mais se conhecem, os vizinhos não se conhecem e nem se conversam, como se o asfalto fosse o divisor entre uma comunidade e um bairro.

Após o asfalto, antes do asfalto - antes comunidade, depois bairro de desconhecidos. 

O "comum" sai da palavra comunidade, ficando apenas a "unidade", o individualismo.

Parece que o espírito comunitário e coletivo somente existe quando existe a carência, perdendo-se na prosperidade individual.



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