Momentos Mágicos – dia 28 de junho de 2018

Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável, mas é daqueles mendigos que não pede nada, até rejeita algumas coisas que recebe. Prefere morrer de fome a pedir.

Hoje foi dia de reunião no CRAS do bairro Floresta em Joinville. Para quem não conhece, a sigla refere-se ao Centro de Referência de Assistência Social e existe em todo o território nacional, levando os serviços sociais à população que deles necessita.
O assunto foi o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua , ou Centro POP como é conhecido. Também é parte da estrutura do poder público municipal.
Tive a oportunidade de conhecer um trabalho de grande complexidade, que é conduzido por apenas uma assistente social, uma psicóloga e um motorista, e que trata de toda a população em situação de rua na cidade.
Quando olhamos algo de longe, tendemos a formar opiniões baseadas em observações superficiais. Conhecer esse trabalho por parte de quem o faz, amplia nossa visão.
São diversas as situações que levam pessoas a viver nas ruas, tais como opção pessoal, dependência química, desemprego, doenças mentais. Assim sendo, não é possível propor tratamento padronizado: é preciso conhecer cada situação. A assistente social que apresentou o trabalho nos contou diversas situações, sem obviamente mencionar nomes, as quais nos deixaram reflexivos.
Existem, além dos casos citados, os grupos de migrantes, imigrantes, índios, ciganos etc.  Parte desses grupos possui cultura própria, o que resulta em hábitos de vida diferenciados. Existe, portanto, uma linha tênue entre o trabalho de garantia de direitos e inclusão social e os objetivos e visão de mundo dessas pessoas. Até que ponto o que a sociedade em geral entende como correto pode ser aplicado a outras culturas?
A busca pela inclusão, se mal conduzida, pode representar a violação do direito de opção de vida para alguns, com a aniquilação de culturas e formatação de um indivíduo que a sociedade deseja, mas, que não o representa.
Existe uma grande discussão sobre os limites do Estado na imposição de modelos, quando suas ações ultrapassam a liberdade de escolha dos cidadãos. De outro lado, o Estado é responsável pela garantia dos direitos humanos de seus cidadãos.
Esse conflito não se extingue com leis, mas, com diálogo e conhecimento de cada situação, trabalho que vem sendo conduzido pelo Centro POP com maestria.
Houve um debate de alto nível, com a participação de diversos segmentos da sociedade civil, igrejas e instituições públicas. Estou convencido de que existem pessoas de grande conhecimento e sensibilidade atuando nos serviços sociais, tanto por parte da prefeitura quanto por parte da sociedade civil.

A assistente social me trouxe um grande momento mágico quando relatou que, ao abordar morador de rua, sentou-se ao seu lado e disse: “estou aqui para lhe ouvir, o que você precisa agora?”  A resposta foi impactante: “tudo o que eu precisava era isso, alguém que viesse me ouvir”.



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