Momentos Mágicos - 05 de Novembro de 2018


"Assim, a definição de não-lugar é um conceito proposto por Marc Augé, antropólogo francês, para designar um espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade, isto é, segundo Marc Augé todo e qualquer espaço que sirva apenas como espaço de transição e com o qual não criemos qualquer tipo de relação é um não-lugar! Assim, este define-os como sendo espaços de anonimato nosso dia-a-dia, na nossa vida e na nossa consciencia. Estes espaços são portanto descaracterizados e impessoais – não lhes são atribuídas quaisquer tipo de características pessoais exactamente porque não tem para nós qualquer tipo de signifcado ou história."*


Estudei esse conceito há algum tempo. 

Encontro esses "não-lugares" em diversos caminhos que me servem no dia a dia.

Tirei uma foto, presente no final deste post, que representa o que poderia ser considerado como um "não-lugar".

Se eu perguntar a alguém, onde fica o lugar objeto da foto, dificilmente ouvirei a resposta correta. Isso porque essa imagem pode ser vista em muitos lugares no mundo. Prédios, avenidas, cruzamentos, automóveis - que também são globais - algumas árvores e canteiros.

É um padrão, um modelo de progresso que separa o campo da cidade. Por essa razão, as pessoas têm cada vez mais dificuldade em rever lugares de suas infâncias. 

Aqui nessa foto, penso que, dentro de alguns anos, um casal poderá lembrar de um namoro iniciado numa lanchonete, que, aliás, existe em muitas partes do mundo.

Por essa razão, existe uma defesa dos prédios antigos, pela sua manutenção e preservação. Esses prédios referendam memórias e identificam lugares.

Uma foto do Cristo Redentor identifica o Rio de Janeiro, assim como a torre Eifel identifica Paris.

Em Joinville, a luta pela preservação de prédios de estilo germânico enfrenta os prédios "modernos", que impõem gradativamente, o modelo global, o "não-lugar".

Mas eu penso que existem detalhes, e esses detalhes ganham importância com o crescimento dos modelos globais.

Existem pássaros, plantas, humores climáticos que podem preservar memórias.

E por que as memórias são assim tão importantes? Talvez porque são parte de nossa história e preenchem o pequeno espaço de tempo que temos na vida. As memórias são um alento à nossa finitude, dando-nos a oportunidade de ter um vislumbre da imortalidade.

Todos os dias, ao voltar para casa, cruzo com um pai ciclista com sua filha no cesto dianteiro, uma menina franzina, que me chama à atenção exatamente pela sua aparência frágil e diminuta.

Por alguma razão que desconheço, a menina hoje estava com as mãos no rosto, escondendo-se e deixando, assim, de olhar para o caminho. 

Fico pensando que, por passar pelos mesmos lugares todos os dias, talvez, para ela, o caminho tornou-se um "não-caminho", que não precisa mais ser visto, por não mostrar nada de novo que mereça a sua atenção.

Espero que essa menina descubra o rosto amanhã: quem sabe ela possa aprender a ver os detalhes, encontrando neles, momentos mágicos que se tornarão memória.





*https://claudiampereira.wordpress.com/2010/01/26/os-%C2%ABnao-lugares%C2%BB/

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