REVERÊNCIA ÀS BARATAS...
Havia uma barata morta, de pernas
para o alto, na garagem de minha casa. Por uma questão de “vou tirá-la daqui a
pouco...”, ela acabou permanecendo lá por dois dias. Quando decidi lavar a garagem, empurrei-a com
a água, o que a fez “reviver”: correu da água e escondeu-se em meio a algumas
pedras no jardim.
Fiquei estarrecido: teria esse
pequeno e tão apavorante inseto recobrado à vida, ou, igualmente estranho,
teria ela forjado sua morte por dois dias seguidos?
Sempre tive um sentimento que
supera ao medo com relação às baratas, um real pavor, sobretudo das que voam.
Mas, após esse incidente, meu sentimento começa a mudar.
Uma breve pesquisa na internet e
você descobrirá que esse ser vive em nosso planeta há muito mais tempo que nós,
humanos. Existem registros fósseis que a datam de 320 milhões de anos – foram
contemporâneas dos dinossauros. São 5 mil espécies: no Brasil são mil delas. Existe uma espécie que emite luz, tal qual os vagalumes: a Lucihormetica fenestrada. As
silvestres têm importante função no equilíbrio ecológico, reciclando matéria
orgânica. Sua aproximação com o ser humano deveu-se à busca por água, alimento
e abrigo, mas trouxe um alto custo para nós: passaram a ser portadoras de
doenças.
Tenebroso: apesar da vida curta –
chegam ao máximo de 4 anos – podem ficar uma semana sem água e um mês sem se
alimentar. Se cortadas suas cabeças, viverão por uma semana, pois, seu cérebro
não se localiza só na cabeça, mas ao logo de seu corpo. São resistentes a
venenos: podem morrer com eles, mas deixam ovos e garantem a sobrevivência da
espécie. Conseguem perceber, pelas costas, por cerdas sensoriais, de modo que
escapam de ataques por trás. Uma fêmea reproduz de 800 a 20 mil descendentes em
sua curta vida de até 4 anos.
Alimentam-se de quase tudo,
inclusive de seres humanos, vivos ou mortos. De hábitos noturnos, sorrateiramente
escondem-se e esperam seu sono profundo, quando podem alimentar-se de suas
extremidades, como unhas, cílios e pontas de suas mãos e pés. Portanto, o seu medo
do que se esconde debaixo de sua cama, tem fundamento.
Apesar do que dizem, de que
sobreviveriam a uma explosão nuclear, a ciência nos mostra que não seria assim:
elas também sucumbiriam, como nós, apesar de serem, de fato, mais resistentes.
Não encontrei informações sobre a
população de baratas no mundo, mas, fazendo uma conta simples, se são 5.000
espécies e que se reproduzem em número de 800 indivíduos, teremos que, em 4
anos, teríamos 4 milhões de indivíduos reproduzidos. Somando aos já vivos, percebe-se
que provavelmente existem mais baratas no mundo do que seres humanos.
Por todas essas razões, concluo que devemos reverenciá-las, pois, são
seres mais antigos e mais adaptados, mais numerosos e, apesar dos constantes
ataques de seu maior predador, que é o ser humano, têm potencial para
sobreviver a uma possível, e provável, extinção de nossa própria espécie.
Existe, ainda, uma consideração a fazer: há quem creia que os insetos
possam ser reencarnações de pessoas
mortas:
No código de Manu,
existem regras sobre o comportamento de uma pessoa numa vida. A metempsicose
prega a reencarnação de forma cíclica e não linear. Ou seja se um homem difamou
(seu guru) ou alguém, pode voltar na forma de um burro, o que o censura voltará
como um cão; o que rouba os bens de outros volta como um verme, se invejoso volta
como um inseto.1
Se for assim, nossa perseguição a esses seres poderia ser injusta: uma
dessas baratas poderia ser até mesmo um antepassado de minha família (!?!).
Por tudo isso, mudei meu comportamento: as baratas merecem de mim todo
o respeito e reverência (ainda que eu as prefira bem longe de mim).
REFERÊNCIAS
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