A LINGUAGEM ACELERATIVA
O conhecimento aumenta com o
passar dos tempos e isso cria novos desafios para a linguagem.
Coisas novas aparecem e é preciso
criar palavras para elas: algumas vezes surgem em outros países e adotamos o nome
de origem, sem tradução para o Português, como o exemplo da palavra “bullying”
que ainda não encontra tradução.
Mas, ainda dentro do que
conhecemos, temos o fenômeno do aprofundamento do conhecimento.
Quando desconhecemos um evento em
profundidade, damos um nome só para algo que, de fato, observando mais a fundo,
apresenta diferentes formas.
Um exemplo antigo é o da palavra “neve”:
para nós, que vivemos num país tropical, uma palavra basta, mas, para o esquimó,
que vive em convivência com a neve, existem pelo menos sete denominações e elas
são de fundamental importância para ele, pois, dependendo do tipo de neve no chão,
por exemplo, pode se decidir caminhar sobre ou não, pois os riscos existem em
caso de desconhecimento.
Mas, em nosso “lugar comum”,
podemos encontrar outros exemplos, como a palavra “amor”. Eu posso dizer que
amo, mas, sem esclarecer, a afirmação deixará dúvidas. Afinal, existe o amor-próprio,
o amor pelos pais, o amor de mãe, o amor pelos filhos, o amor fraterno, o amor
em sua máxima expressão, esse com um subjetivo à parte: “Ágape”, que seria o amor
incondicional.
Também a palavra “inteligência”,
que até alguns anos era tida como a capacidade de conhecimento, aprendizagem e
compreensão, hoje explodiu em inúmeros adjetivos. Temos a inteligência lógica,
a linguística, a corporal, a intrapessoal, a interpessoal, a espacial e a
musical. Mais recentemente, temos a “inteligência artificial”.
Penso que a evolução do
conhecimento promove a evolução da língua, que passa a não atender novas
descobertas.
Como essa evolução – do conhecimento
– está se acelerando com a velocidade das descobertas, sobretudo com o advento
da inteligência artificial, que potencializa essa velocidade, é de se supor que
a linguagem sofrerá maior impacto e teremos que criar mais palavras com maior frequência,
ou, aumentar os adjetivos associados às já existentes.
No senso comum, ouço algumas
vezes expressões como “no meu tempo, não existia isso e tudo era mais simples”.
Em parte, é verdade, mas, também é
verdadeiro afirmar que o desconhecimento em certas situações trazia problemas e
sofrimento para aqueles que estavam sujeitos a um conhecimento limitado.
Um bom exemplo é o “bullying”,
que eu sofri quando jovem e que não havia nem mesmo uma palavra para eu
mencionar ou a quem recorrer. Hoje temos uma palavra, apesar de estar em outro
idioma, mas, aqueles que sofrem desse tipo de agressão podem agora recorrer a
mecanismos de defesa, denunciar ou buscar apoio psicológico.
Enfim, é preciso estar atento à
velocidade da evolução do conhecimento, para que possamos nos adaptar e tirar o
máximo proveito das novas descobertas, assim como para podermos ver o mundo e
as situações com o olhar de quem conhece mais cada conceito, tornando-o
multifacetado e com a consciência de sua maior complexidade.
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