EFICIÊNCIA NO CONSUMO DE ÁGUA: POR QUE NÃO SEGUIMOS AS LIÇÕES DO SETOR ELÉTRICO?


A água, como se sabe, é o maior desafio atual e futuro para o ser humano. Mas, o que o governo está fazendo para que o consumo seja reduzido? Até o momento, muito se divulga sobre a falta de água no sudeste, racionamentos oficiais ou não oficialmente declarados, embora praticados por algumas empresas de saneamento. Também se estudam formas de captação de água de chuva, cisternas e outras formas alternativas de coleta de água para uso não nobre, ou seja, não potável.
Entretanto, pouco se faz por parte do governo, no desenvolvimento de uma política de incentivo à redução no consumo e pela busca de eficiência energética para a água.

Fazendo um paralelo com a energia elétrica, podemos citar algumas das muitas ações governamentais que tem contribuído para a redução do consumo, seja através de tarifação voltada à eficiência do sistema elétrico, quanto pelo incentivo ao desenvolvimento de equipamentos eletrodomésticos eficientes. Também podemos incluir nessas políticas, o investimento feito pelas concessionárias na regularização de clientes clandestinos e em processos educativos para o uso consciente, além de projetos para eficientização de prédios públicos.

Há muitos anos, o setor elétrico aplica tarifas “horo-sazonais”: são cobrados valores maiores de tarifa em horários de “pico” do sistema elétrico para grandes consumidores, o que moveu as indústrias a desenvolverem equipamentos de monitoramento do consumo. No horário de “pico”, aparelhos são desligados através de softwares supervisórios, mantendo a apenas em funcionamento aqueles imprescindíveis para a produção.

Outra iniciativa do setor elétrico é a determinação da ANEEL – Agência Nacional Reguladora de Energia Elétrica, de investimento, exigido das concessionárias, de parte do resultado operacional líquido – ROL para ações de eficiência energética. Tomando como exemplo a CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina, podemos verificar o investimento de R$10 milhões para ações em residências, indústrias, prédios públicos, estabelecimentos comerciais ou de serviços, na área rural ou na iluminação pública (ver em http://www.celesc.com.br/peecelesc/index.php/noticias-site/131-celesc-divulga-chamada-publica-para-selecao-de-propostas-de-projeto-em-eficiencia-energetica ). 

Na CPFL Energia, empresa do setor elétrico que atende o interior e litoral do estado de S.Paulo, em 2009 foram substituídas 600 mil lâmpadas, 16.500 geladeiras, regularizados 1.500 clientes, reformadas as instalações elétricas em 6.000 residências e substituídos 5 mil chuveiros, obtendo uma redução de 71.766.000 kWh em um ano – isso apenas para o setor residencial (ver em Programa Rede Comunidade  http://www.ahk.org.br/upload_arq/APRESENTA%C3%87%C3%83O%20Rede%20Comunidade%20C%C3%A2mara%20Brasil%20Alemanha%20-%20Jo%C3%A3o%20Abeid%20Filho%20CPFL1.pdf ).

Também o PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia, através de ações como o “Selo Procel”, incentiva a venda de equipamentos eficientes, o que tem mobilizado a indústria a produzir equipamentos mais econômicos, do ponto de vista energético.

CHUVEIRO REWATT – CHUVEIRO RECUPERADOR DE CALOR: EXEMPLO DE INVENÇÃO PARA REDUÇÃO DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA, COM VENDA DIRECIONADA À CONCESSIONÁRIAS ELÉTRICAS NO PROGRAMA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA.

Essa empresa, (REWATT), motivada pelo programa de eficiência energética, desenvolveu o chuveiro Recuperador de Calor. Esse equipamento reduz a potência de um chuveiro comum, de 5.500 Watts para 3.000 Watts, mantendo a temperatura de banho. O sistema baseia-se na troca de calor e foi comercializado, primeiramente para a CEMIG (a fábrica localiza-se em Belo Horizonte – veja em http://www.rewatt.com.br/empresa.htm ). Hoje contabiliza 250.000 equipamentos vendidos, o que equivale a uma redução no consumo de energia de 45% nos banhos.

MAS, E COM A ÁGUA?

A ANA - Agência Nacional de Água, não se parece nem de longe com a ANEEL. Suas ações são de pouco conhecimento da sociedade e as empresas de saneamento não contam com nenhuma ação semelhante, seja no âmbito de política tarifária, seja em ações de incentivo à produção de equipamentos eficientes. Creio que é necessária reflexão sobre a necessidade de uma política que coloque a água no patamar da energia elétrica, no quesito de incentivos por parte do governo.
Deveríamos ter um SELO PROCEL para consumo de água, tarifas mais elevadas nos horários de “pico”, que também existem no setor do saneamento, além de incentivos para que as empresas investissem em ações de eficiência.

Deceríamos ter mais desenvolvimento de tecnologias sociais voltadas para a captação da água da chuva e reuso de água consumida, trazendo soluções simples, replicáveis e baratas para a população de menor renda.

Ao invés disso, temos campanhas para uso consciente e decisões polêmicas, como os contratos assumidos com grandes clientes, que pagam tarifas menores, sendo, esses, os causadores dos maiores impactos ambientais (veja em: http://www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedirect/?temp=4&proj=AgenciaNoticias&pub=T&docid=DAA2F7688A8D543E832574FD006E122F).
O governo tem um papel importante no gerenciamento dos recursos hídricos e parece limitar-se à visão voltada ao aumento na captação e tratamento, deixando para a consciência da população, o comportamento de consumo consciente.

Matérias veiculadas demonstram a importância da gestão pública na questão da água, como, por exemplo o estudo que mostra que os Estados Unidos conseguiram frear o consumo de água através de ações como campanhas educativas, mas também, e não menos importante, incentivos para arquitetura inteligente e a adoção de tarifas mais elevadas (ver em  http://www.akatu.org.br/Temas/Agua/Posts/Estados-Unidos-freiam-crescimento-de-consumo-de-agua-na-ultima-decada ).

A própria UNESCO aponta, em relatório específico, para a “governança” como a principal causa do desabastecimento de água no planeta, acrescentando que o volume de água seria suficiente para o crescimento de consumo humano, se, evidentemente, respeitada nova ordem de mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento (ver em http://www.akatu.org.br/Temas/Agua/Posts/Unesco-mundo-precisara-mudar-consumo-para-garantir-abastecimento-de-agua ). Esse relatório aponta ainda as principais causas do desabastecimento: a intensa urbanização, as práticas agrícolas inadequadas e a poluição.

Educar a população para o uso consciente, além de ser um desafio e tanto num modelo consumista de visão de mundo, não resolve a situação, se não houver uma gestão pública responsável e eficiente.



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