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Showing posts from 2024

O Bem e o Mal dentro de todos nós.

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      “À medida que avançava em suas reflexões, uma dedução lhe deu calafrios: é possível que a relação entre a humanidade e o mal seja semelhante à relação entre o oceano e o iceberg que flutua em sua superfície? Tanto o oceano quanto o iceberg são feitos do mesmo material. O iceberg só parece diferente porque tem outra forma. Na realidade, é apenas uma parte do vasto oceano... Era impossível esperar um despertar moral da humanidade assim como era impossível esperar que os humanos movessem a Terra com seus próprios cabelos.”  Liu, Cixin (O Problema dos Três Corpos – 1ª Edição – Rio de Janeiro – Suma, 2016)   Esse texto revela talvez a raiz do caos humano. Mergulhados em crendices e ideologias rasas, fechamos os olhos e naturalizamos as mais cruéis mazelas que ocorrem diante de nós. Dos invisíveis mendigos que povoam as ruas, que só se tornam vistos quando se tenta limpá-los das ruas, como se sujeira fossem, às bombas que caem sobre civis no oriente, às balas perdidas que

O ANIMAL SOCIAL: EM BUSCA DE ACEITAÇÃO E AFETO

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  “Por que a similaridade percebida torna as pessoas atraentes? Há pelo menos duas razões principais. Primeiro, para a maioria de nós é óbvio que pessoas que compartilham nossas atitudes e opiniões sobre tópicos importantes são extraordinariamente inteligentes e ponderadas, e é sempre gratificante e interessante conviver com pessoas inteligentes e ponderadas. É claro que são: elas concordam conosco! Segundo, elas nos proporcionam validação social para nossas crenças; ou seja, satisfazem nosso desejo de nos sentirmos corretos.” (ARONSON Eliot: O Animal Social, Editora Goya, 2023, pag 333) Esse texto mostra como nos comportamos, via-de-regra. Tudo parece se resumir na necessidade que temos de afeto e aceitação . Se, por um lado, nos possibilita transitar pela sociedade de forma mais fácil, pode nos induzir, em algumas situações, na condição de sermos obrigados a seguir regras,   “cartilhas de conduta” (termo que criei para traduzir nosso comportamento guiado pela sociedade), e n

Cartilhas de Conduta – a morte da individualidade...

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  fonte: Google   O cérebro humano é condicionado a evoluir a partir da observação e comparação com o meio onde vivemos. Essa condição é determinante para a construção das relações, fator de grande importância no desenvolvimento humano. Somos animais sociais e dependemos do meio para sobrevivência. Assim, o bebê aprende as expressões faciais, a partir da observação da mãe e de seus próximos. No seu desenvolvimento, a observação do comportamento de seus próximos o levará a falar e andar. Esse desenvolvimento continua pela juventude e adolescência, fase em que enfrenta forte pressão do meio. Na escola, existem regras de conduta que, caso sejam desrespeitadas, irão trazer consequencias terríveis. Não me refiro às regras escolares, mas, as regras impostas pelos colegas, como o bullying e o isolamento. Até mesmo a linguagem é criada com gírias que se apresentam por um curto espaço de tempo e logo são substituídas por novas, exigindo atenção redobrada ao meio para que se mantenha atu

O SÍNDICO DO FIM DO MUNDO

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  fonte: https://materiaincognita.com.br/tag/dobra/ Em um determinado edifício, o síndico percebeu rachaduras em algumas pilastras nas fundações do prédio. Preocupado com a situação, convocou uma reunião de condomínio, à qual compareceram apenas alguns moradores, apesar de todos terem sido convidados. Exposto o problema, abriu-se a pauta para comentários dos presentes. O morador do apartamento do primeiro andar, onde se encontram os apartamentos mais baratos e as famílias mais pobres, alegou que não tem recursos para arcar com a obra, que deverá exigir um aporte de capital, além das despesas mensais do condomínio. O síndico, então, sugeriu que a obra fosse feita e seus custos rateados apenas para os moradores dos andares superiores. O morador do quinto andar foi contra: “isso é assistencialismo, coisa de comunistas”. O morador do quarto andar duvidou do problema, apesar de ter sido apresentado um laudo de engenheiro responsável: “essa informação é falsa e foi criada tão s

I.A, CHATGPT E A CRIATIVIDADE HUMANA

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  Imagem criada pelo ChatGPT para esse post. A I.A.(Inteligência Artificial), não é uma ferramenta nova: ela já existe em muitas plataformas que usamos frequentemente e nem sequer nos damos conta disso. Apps de bancos, sites de compras, redes sociais etc, já a utilizam há algum tempo. Há pouco tempo, entrei no ChatGPT por curiosidade e isso me trouxe uma experiência muito interessante. As respostas às perguntas que propomos são muito bem elaboradas e completas. Entretanto, quando tive uma ideia sobre um novo tipo de App, percebi que, embora tenha conseguido uma resposta incrível, a ideia foi minha: o algoritmo apenas interpretou e organizou essa ideia de forma perfeita. Essa experiência me fez perceber que, apesar de ser uma ferramenta poderosa – e irá se tornar cada vez melhor rapidamente – ainda parte de nós, humanos, a criação, a criatividade. Então, imaginando um cenário distópico em que a I.A. venha a eliminar muitas das profissões hoje em curso, ainda nessa premissa

ADEUS ÀS CALINS

No final de 2016, o Atendimento Social da empresa de saneamento em que trabalho, na cidade de Joinville, foi procurado por um  grupo que prestava apoio a um acampamento cigano na Rua Agulhas Negras. Fomos ao local para entender a situação. Encontramos um acampamento cigano, liderado por mulheres, cinco irmãs viúvas vivendo em situação de vulnerabilidade social. Sem acesso à água, por não serem proprietárias do terreno que ocupavam, comprava água de uma vizinha que se situava no lado oposto da rua.  Essas mulheres ciganas, que se autointitulam “Calins”, sofriam com doenças e dores que se agravavam com a tarefa de carregar baldes de água diariamente. A expectativa de atendimento era nula, mas, observamos que o terreno era, em parte, propriedade de uma igreja, que utilizava como estacionamento para seus fiéis. Assim sendo, em reunião com o pastor, conseguimos que fosse solicitada a ligação de água para esse terreno, de onde as Calins levavam, então, a água por mangueira até o acampamento.

A CAMINHO DA EXTINÇÃO, PRECISAMOS VOLTAR AO ÓBVIO

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  Apesar da ciência às vezes nos trazer conhecimentos que possam parecer complexos demais para nossa compreensão, existem fatos científicos muito simples e fáceis de se perceber com um mínimo de discernimento. Ninguém consegue, por exemplo, questionar os efeitos da gravidade. É muito fácil perceber, outro exemplo, que o nosso planeta tem um limite: não se trata de um objeto infinito. Consultando o Chatgpt (https://chatgpt.com/ data da pesquisa em 09/08/2024): A seguir estão alguns marcos populacionais importantes: ·          1 d.C.: ~200 milhões ·          1000 d.C.: ~310 milhões ·          1500 d.C.: ~500 milhões ·          1800 d.C.: ~1 bilhão ·          1900 d.C.: ~1,65 bilhões ·          1950 d.C.: ~2,5 bilhões ·          2000 d.C.: ~6 bilhões ·          2024 d.C.: ~8 bilhões O histórico parte do ano “um” da era cristã. É possível ver o crescimento acelerado a partir do século XIX e uma explosão de crescimento no século XX. Ainda com fonte no Chatgpt:

ODS – ESG : expandindo conceitos...

  Existe uma história que se contava nos anos 90, sobre uma fábrica de sapatos que desejava atuar em um país na África. Até onde sei, não se trata de história real, mas, uma “fábula” usada para explicar a importância do estrategista na avaliação de mercados.   Se algum leitor conhecer a versão correta, e essa for diferente do que relato, por favor me corrija – minha memória me trai constantemente. Retomando à história, uma fábrica de sapatos estudava ampliar seu mercado e vender em um certo país africano. O CEO então, enviou seu assessor , que viajou ao tal país e retornou com a seguinte informação: “ninguém usa sapatos naquele país – melhor desistir, não vamos vender nada por lá.” Não satisfeito com o retorno de seu assessor, o CEO decidiu enviar ao país um vendedor. Após retornar de viagem, o vendedor relatou: “ninguém usa sapatos naquele país: o mercado é todo nosso, vamos vender sem concorrência.” As respostas contraditórias fizeram com que o CEO decidisse enviar um estr

NAVEGANTES SEM BÚSSOLAS, À DERIVA POR DESACREDITAREM EM SEUS REGISTROS

  Vivemos um momento que considero perigoso, do ponto de vista filosófico. Digo isso por razão de entender a filosofia como sendo a capacidade de observar a sociedade com pensamento crítico e buscar novos padrões de evolução do pensamento e comportamento diante dos eventos contemporâneos. O que me preocupa é a polarização política alicerçada em interesses não declarados de ascensão ao poder, com o uso de canais de comunicação como igrejas, redes sociais etc. A estratégia da extrema direita é questionar os fundamentos científicos e históricos, enquanto a esquerda busca um caminho oposto, usando a ciência e a história para fundamentar suas prerrogativas e propostas. Em ambos os casos, questiona-se o direito à liberdade de ação e de expressão. Liberdade que toma matizes diferentes e colocam em risco a estabilidade de toda a sociedade. O uso libertino das redes sociais, que se apresentam como uma terra sem lei e, em muitos casos, acima das leis às quais todos os outros segmentos

HISTÓRIAS NO CAMINHO

Hoje eu andava pela rua quando encontrei um homem com um cãozinho, desses vira latas barbudinhos. O cãozinho, ao me ver, pulou em minhas pernas pedindo um afago. O seu dono, então, me contou a história do cãozinho simpático. Esse cãozinho apareceu no museu do Sambaqui e passou a ser cuidado pelos funcionários daquele museu. Ganhou nome: "Tupi". Certo dia,. porém, entrou na casa desse homem, próximo ao museu, e tomou a casa como sua. Adotado então, passou a se chamar "Frank". Frank fez apenas uma exigência: todos os dias seu novo dono precisa levá-lo ao museu do Sambaqui, para que ele possa rever seus antigos amigos cuidadores. A história do cãozinho Frank adoçou meu dia e me convenceu, mais uma vez, que a atenção ao caminho nos permite saborear saberes sempre interessantes e imprevisíveis.

Chegaremos a uma nova era das navegações, dessa vez, espaciais?

  Outro dia, conversando com um colega, surgiu essa questão. Descobertas astronômicas apontam para astros de diversas modalidades que se apresentam ricos em elementos nobres. Em Netuno, por exemplo, chove diamantes. O asteroide Psyche 16 é rico em ouro em sua composição.   “Um punhado de asteroides custa cerca de US$ 4,7 milhões por grama (cerca de R$ 23,5 milhões). Isso é cerca de 70 mil vezes o preço do ouro, que custa em média US$ 60 por grama (R$ 300). A estimativa do valor do Bennu foi feita ao site The Conversation pelo cientista da Universidade do Arizona, nos EUA, Chris Impey).”(Fonte: Google)   Isso significa que existe um forte interesse econômico na exploração desses recursos, não ainda viabilizado pelo alto custo das viagens espaciais. Com o avanço da tecnologia, potencializado pela I.A., é possível que as viagens se tornem viáveis num futuro próximo e, então, se iniciará a corrida espacial, uma nova era das navegações. Tudo indica que a história venha a se repetir, vejamos

MEMÓRIAS INSANAS

  Nos idos anos de 1978, após uma noite de dança numa discoteca em São Paulo, saímos, eu e meu amigo Antonio Carlos pelas ruas iluminadas da cidade, sem rumo. Era comum andarmos assim pela cidade, a pé e sem rumo, conversando e rindo de qualquer bobagem. Me lembro que ríamos muito até chegarmos a uma esquina. Eu estava no lado de fora da calçada e Antônio Carlos do lado de dentro. Não sei de onde me surgiu um assombro, dei um grito e pulei para o meio da rua. Antonio Carlos, sem entender nada, pulou um muro baixo para dentro de uma casa. Na esquina, surgiu uma moça que, ao ver a nossa reação, retomou, correndo, pelo caminho que vinha. Até hoje não sei por que tive essa reação, assim como os outros dois protagonistas dessa história insana. Corremos assustados de algo que nunca ocorreu. Antonio Carlos não é mais vivo, a moça, nem sequer me lembro de sua aparência. E eu, sigo sem saber o que ocorreu e rindo sozinho quando me lembro desse episódio.

O SENTIDO DA VIDA NÃO SE ENCONTRA EM CARTILHAS DE CONDUTA

  O momento atual corrói os padrões criados pela humanidade ao longo de sua evolução e que tiveram sua importância para que chegássemos até aqui com toda a tecnologia que conquistamos. Entretanto, certos padrões causaram muitas desgraças, guerras, doenças e genocídios no passado e ainda os causam atualmente. E por conta desse paradoxo é que os padrões começam a ruir aos nossos pés. A ciência evolui e se vê distante de respostas fundamentais. Por ser a mais honesta das metodologias humanas, se curva aos fatos e revê, constantemente, seus conceitos e leis. Num mundo tecnológico onde o misticismo e as religiões não encontram lugar estável, nem mesmo a ciência, a sensação é de total desamparo. Isso faz com que alguns se prendam a um passado imaginado, como se fosse a solução para um mundo melhor, quando, nosso passado é igualmente cruel e injusto. Viemos de uma sociedade guerreira, colonizadora, escravista e genocida: não existiu um passado melhor. Se hoje podemos morrer por ra

O QUARTO DE DESPEJO ETERNO

    Relatório da ONU revela quadro de pobreza no mundo. Segundo dados, 1,3 bilhão de pessoas vivem em situação de pobreza. (Fonte : https://jornal.usp.br/radio-usp/relatorio-da-onu-revela-quadro-de-pobreza-no-mundo/ , visitado em 18/03/2024 ) A Leitura do Livro “Quarto de Despejo”, apesar de retratar uma realidade vivida pela autora nos anos 50, mostra-nos uma situação ainda presente e inquietante no cenário global. Quando entre os anos de 2000 e 2010 trabalhei em projetos sociais em favelas do estado de São Paulo, percebi um universo desconhecido por muitos, além de estigmatizado, muitas vezes injustamente. As regiões pobres são alvo de segregação social e de violência do Estado. Mas, ao contrário do que a população de classe média e alta pensam, vem delas a maior parte dos serviços e mão de obra que sustentam seus luxos. Além do trabalho de reciclagem, que traz impactos positivos e tão necessários ao meio ambiente, a população mais empobrecida está nas funções servis e de c
  SANEAMENTO E PRIVATIZAÇÕES: O GOLPE   A classe empresarial brasileira parece estar sempre buscando modelos externos para lidar com questões internas, muitos deles questionáveis e malsucedidos lá fora: o que vale é o discurso para uma população mal informada que se encanta com esses modismos. Um exemplo disso é a privatização dos serviços públicos. Por trás disso, está um desejo que abarcar os serviços públicos essenciais e obter lucros num ambiente não competitivo. Existe uma matéria interessante sobre um movimento de reestatização de serviços públicos nos países europeus e nos EUA: as razões disso é a má qualidade dos serviços prestados e os elevados valores tarifários por parte das iniciativas privadas.                  (veja no link: https://sintaemasp.org.br/noticias/reestatizacao-agua-mundo ). No saneamento, o argumento brasileiro é de que o governo não possui recursos para a investir nas obras para universalização nos prazos desejados e estabelecidos como meta naciona