Cartilhas de Conduta – a morte da individualidade...

 

fonte: Google

 

O cérebro humano é condicionado a evoluir a partir da observação e comparação com o meio onde vivemos.

Essa condição é determinante para a construção das relações, fator de grande importância no desenvolvimento humano. Somos animais sociais e dependemos do meio para sobrevivência.

Assim, o bebê aprende as expressões faciais, a partir da observação da mãe e de seus próximos. No seu desenvolvimento, a observação do comportamento de seus próximos o levará a falar e andar.

Esse desenvolvimento continua pela juventude e adolescência, fase em que enfrenta forte pressão do meio. Na escola, existem regras de conduta que, caso sejam desrespeitadas, irão trazer consequencias terríveis. Não me refiro às regras escolares, mas, as regras impostas pelos colegas, como o bullying e o isolamento. Até mesmo a linguagem é criada com gírias que se apresentam por um curto espaço de tempo e logo são substituídas por novas, exigindo atenção redobrada ao meio para que se mantenha atualizado.

Superadas essas fases – existem casos extremos que levam até mesmo ao suicídio – na vida adulta terá que seguir regras de comportamento para que consiga sustento financeiro mínimo. Mais uma vez, não me refiro apenas às regras de horários e comprometimento, mas, sobretudo, regras que interferem na linguagem, expressão corporal, vestimenta, modelo de consumo.

Também existem outros meios de pressão social, como as religiões: algumas podem influenciar inclusive na vestimenta e no cuidado pessoal, podendo ser limitantes, especialmente para as mulheres.

O consumismo, como forma de demonstração de sucesso social, também impõe regras, com marcas de sucesso, automóveis e lazer caros etc.

O ser humano é levado, assim, a seguir as regras que chamo de “Cartilhas de Conduta”, procurando ser o que se espera dele. E a rapidez com que essas regras se atualizam, exigem atenção permanente.

Não percebe que, ao seguir o esperado, tornar-se-á apenas mais um, um cidadão previsível – um cidadão “medíocre” (no sentido de estar na “média”).

É a morte da individualidade, da criatividade.

Com o mais elaborado cérebro entre todos os seres vivos que temos conhecimento, abandona esse recurso incrível para se moldar às tais Cartilhas de Conduta.

Veste-se de acordo com padrões, se manifesta de forma a se sentir incluído, consome o que se espera, muitas vezes de maneira inconsciente.

Por essa razão, perde-se a criatividade em todos os níveis: as roupas perderam as cores, os automóveis também, as residências passam a ter as mesmas cores e, via-de-regra, no momento presente, tornam-se todas cinzas. A própria cidade perde sua identidade tornando-se o “não lugar” (termo utilizado por Marc Augé, etnólogo e antropólogo francês).  Se você tirar uma fotografia do centro de qualquer metrópole hoje, não se consegue identificá-la – pode ser de qualquer país, pois, a paisagem é sempre a mesma.

Existe saída para essa situação?

A pressão social é tanto maior quanto nossa necessidade natural de pertencimento e aceitação.

Procuramos ser aceitos e isso pode nos levar a deixarmos de ser nós mesmos. Isso pode explicar nossa crise existencial (consciente contra o inconsciente), nossa busca por propósito.

Ao observarmos a história, perceberemos que aquelas pessoas que mudam o mundo, que se tornam modelo, são justamente aquelas que rompem em algum momento com essas Cartilhas de Conduta.

Paradoxalmente, buscamos de forma equivocada o sucesso pessoal através da aceitação, encontrando, em contrapartida, a anulação de nós mesmos.

É difícil enfrentar o meio com ideias e comportamentos próprios e, obviamente, alguns comportamentos mínimos são necessários para que se viva em sociedade.

Entretanto, é preciso identificar até que ponto estamos fazendo concessões demais, nos tornando pessoas aceitáveis, mas, vazias de nós mesmos.

Creio que cada um de nós tem em si a capacidade de se destacar, pois, somos únicos em nossa biologia e história pessoal. Por isso, temos como contribuir para um mundo melhor com nosso toque pessoal.

Apesar dessa atitude poder nos trazer desconforto, é o caminho para que encontremos nosso propósito e nossas vidas não se tornem tão “medíocres”.

 

 

 

 

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