MUSASHI, A BUSCA DA VERDADE


Gosto de ler e costumo achar “pérolas” nos livros que tenho oportunidade de conhecer.
Atualmente estou lendo o livro Musashi, segundo volume. Ao contrário de outras leituras, esse livro eu estou degustando lentamente, pois, em meio a histórias leves, encontro conteúdos filosóficos muito interessantes.

O tema do livro é a vida do maior samurai de todos os tempos, chamado Musashi.
A trajetória de sua vida em busca da perfeição é encantadora, passando de uma pessoa rude e violenta para um sábio e notável espadachim.
Os fundamentos budistas, trazidos numa história ambientada num Japão de dois séculos atrás, são tão atuais que se aplicam com facilidade aos momentos presentes.

Reservei alguns momentos dessa leitura e os coloco em comparação com nosso momento de crise ideológica.
Vivemos um pensamento dual e eu creio ser esse nosso pior caminho. Muitos acreditam que existem dois tipos de pensamento, um “de direita” e outro “de esquerda”. Esse pensamento é tão institucionalizado que divide a nação em classes sociais, cor de pele, posicionamento religioso e filosófico.
Entretanto, os extremos não nos representam. São apenas manifestações que nos levam aos limites da incompreensão e insensatez.

Em parte do livro, Musashi explica a espectadores a arte da esgrima com duas espadas:

“Duas espadas equivalem a uma espada, uma espada a duas. Duas são as mãos, mas o corpo é um só. Do mesmo modo, um único raciocínio se aplica a tudo: muitos são os estilos, mas a lógica por trás deles em última análise é a mesma. ” (pags. 1667 a 1668)

A habilidade dele como esgrimista é excepcional e ele revela que a razão disso é a compreensão da completude de nossos movimentos e de nossa essência.
Em outro momento o livro nos traz um pensamento semelhante:

“Buscai o tronco, não vos enganeis colhendo folhas, perseguindo galhos”. (Pag. 1675)

Isso nos remete às questões que hoje nos dividem, demonstrando que somos todos criações da mesma fonte. Esse pensamento poderoso destrói os argumentos do racismo, das ideologias extremistas, do pensamento dual. Devemos nos ver como irmão do tronco e galhos e folhas são apenas expressões decorrentes de buscas, muitas delas equivocadas.
Este momento de pandemia, crise econômica, divisão polarizada do pensamento, nos esgota, nos torna frágeis. Os extremos nos levam ao descaminho.

Em outro momento do livro, Musashi, um samurai em busca de entendimento, encontra-se com um mestre Zen Budista chamado Gudo e, com o espírito angustiado o argui:

“- Se abandono o caminho, caio num precipício. Se tento subir, não encontro forças. Estou preso no meio do despenhadeiro e me debato, tanto no caminho da espada como no da vida.”  Ao que o mestre responde: “- Aí está o seu problema.”

Insatisfeito com a resposta, prossegue: “- Monge! Não sabe o quanto esperei por este dia. Que devo fazer para me livrar desta dúvida, desta inércia em que me encontro?”

O mestre então responde: “- Como posso saber? Tudo depende do seu próprio esforço. ” (pag. 1670)
Ainda sem compreender os ensinamentos, Musashi insiste, ao que o mestre lhe responde:
“Um-ichibutsu!  (Expressão budista que significa: “Nada existe desde o princípio. E se nada existe, nada há também a que o homem se apegar com tanta tenacidade. Expressa o estado de espírito de uma pessoa que se libertou de tudo.) Fez breve pausa, e tornou: - Nada existe! Que posso então conceder, que posso acrescentar? Isto é o que existe – gritou, erguendo um punho fechado.” (pags. 1670 e 1671).

Como um alento às nossas angústias, o pensamento budista nos traz a proposta de que nada existe, senão em nossa mente. Vivemos numa Matrix, acreditamos em modelos e líderes, mas, tudo não passa do “nada”, ou seja, de ilusão.

Nosso propósito é a evolução, o crescimento, a iluminação.
A sabedoria não se encontra nos extremos, mas, na consciência do viver o momento presente.
Pensar no momento presente nos faz abrir os olhos e atingir o caminho da perfeição.

Nosso papel está em nossa atenção ao que ocorre agora e em como lidamos com isso a cada momento.

Talvez não exista um lugar a chegar, um propósito de vida, uma meta a ser cumprida, mas, viver seria toda a nossa missão.






Fonte das citações: YOSHIKAWA Eiji, MUSASHI, a história do mais famoso samurai de todos os tempos,Volume II, Editora Estação Liberdade Ltda. 2ª Edição, 1999.





Comments

Rose said…
Querido, gostei muito do passeio pelo livro, pela nossa "realidade", pelas possibilidades e por avaliar que nesta "realidade" nada existe. É tudo mental... isso confere com o conteúdo do livro que estou estudando, CAIBALION, enquanto busco ajuda nas palestras de Lucia Helena Galvão, filósofa. Segue no livro, amigo! Maravilha!
É sempre boa a busca por equilíbrio e suporte mental, especialmente nestes momentos atuais. Obrigado pelos comentários.

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