A DOR DO DESAMOR


Trabalho em uma empresa de saneamento. Encontro-me em teletrabalho já há quase três meses.

Hoje eu liguei para o telefone de uma senhora, que havia pedido que desativasse uma ligação de acesso à água em uma de suas residências. Ela havia tentado antes, mas, sem sucesso.

Como disse, conversei com ela e ela, então, me contou sua triste história.

Existiam duas casas no terreno: a da frente, onde ela mora e a dos fundos, onde residia seu filho. 
Esse filho certo dia surtou e entrou na casa dessa senhora, deu-lhe uma surra e a deixou caída no chão. Por essa razão, e com a ajuda de vizinhos, o caso foi denunciado, o filho foi expulso da casa e a mesma foi demolida.

Essa senhora passou a viver só e com a crise ficou sem renda. Depende de doação de vizinhos para comer. Um irmão, que mora em outro estado, paga as contas de água e luz - segundo ela, o irmão também tem problemas financeiros, mas, não a tem deixado sem essa ajuda.

É difícil ver situações assim e eu tenho conhecimento periodicamente, pois que meu trabalho é o atendimento social na empresa. Faço parte de uma equipe que abraça essas situações e já conseguimos uma cesta básica, o cancelamento da ligação de água da casa demolida e a negociação de contas pendentes da casa onde o filho residia de forma social e com a participação de voluntários que ajudarão a quitar.

Mas, a senhora permanecerá só, a espera de um auxilio do governo que aguarda há algum tempo. Sem o filho, sem a família, doente.

A dor que ela deve estar sentindo é incalculável, porque, ser ofendida, maltratada e distanciada pelo seu próprio filho é razão para o desespero. Imagino como está seu coração, por onde andam seus pensamentos.

Que tipo de mundo é o nosso? Que tipo de sociedade permite esse tipo de crueldade com pessoas indefesas como essa mãe. E ela é só uma entre tantas outras. 

Não consigo entender uma sociedade assim, que despreza aqueles que dela mais precisam e enche de riquezas uma pequena parcela, não por seus valores pessoais, mas por questões fúteis, acaso, herança. 

Ainda que possamos entender o empenho de alguns no alcance de sua riqueza, ainda assim, o valor que recebem supera por demais suas necessidades, enquanto alguns sofrem a dor da fome e do desamparo. 

Só existe uma forma de mover nosso destino para um mundo melhor e essa forma é o amor. Porque sem amor nós já sabemos que não dá certo.





Comments

Popular posts from this blog

A PRAIA

GUERRA À ESTUPIDEZ

Resenha do livro: O Vôo da Gaivota, de Emmanuelle Laborit.