SOMOS TODOS GADO

A polarização política nos leva a ser rotulados como "gado", independentemente da posição que se assume. 

A questão de ser gado advém de um princípio filosófico que já encontrava suas raízes na Caverna de Platão, alegoria criada pelo filósofo onde supostos homens presos em correntes dentro de uma caverna observavam as sombras projetadas acreditando serem elas a verdade. 

Platão explicava assim, que vivemos em meio a projeções, desconhecemos a verdade e que somente aquele que conseguisse vencer e "sair da caverna" poderia perceber seu engano, mediante a contemplação com o mundo real.

Esse pensamento se atualiza e também encontra eco no Budismo, onde se acredita que o mundo em que vivemos é apenas uma ilusão.

O fato de sermos seres sociais por excelência - dependemos da sociedade desde que nascemos, pois, ao contrário de outras criaturas, somos incapazes nos primeiros anos de vida - cria a questão da necessidade da criação de mecanismos que permitam a convivência em grupo.

Esse mecanismos, que já poderiam ser tidos como uma forma de controle, adquirem maior impacto uma vez que a sociedade não é formada por iguais. Existe a questão do poder. 

Para que esse poder se sustente, é preciso criar roteiros românticos e inquestionáveis, ilusões que sustentam uma estrutura que é comandada por pequenos grupos detentores do poder.

Esse poder se apresenta em "lados", existem correntes de pensamento que os sustentam e líderes, mártires e santos.

Se observarmos a história, perceberemos que, não importa o lado que se coloque no controle, existe sempre uma pequena classe privilegiada e uma multidão de excluídos, iludidos e manobrados.

Até mesmo a alternância de lado se dá sem muita racionalidade: adotam-se discursos prontos, perpetuados, fundados em ilusões, para que o poder seja trocado de lado.

O momento presente nos trás a oportunidade de sair da caverna de Platão, observando a manifestação da natureza com as mudanças climáticas e os novos vírus com potencial pandêmico.

O mundo começa a sofrer ameaças que não escolhem lados e isso cria um desconforto generalizado por parte dos poderes polarizados.

Surgem, mais uma vez, os roteiros românticos, de um lado a direita acusando a China, que teoricamente representa a esquerda, de ter criado o COVID 19, enquanto a esquerda acusa a direita pelo descaso com a ciência.

Enquanto essa guerra de roteiros se trava nos meios de comunicação, o vírus avança e cresce no Brasil de forma assustadora.

O vírus é real, creiam ser ele tendo sido criado pela China ou não, ele existe e está levando à morte um número crescente de pessoas, em especial no Brasil.

Para mim está muito claro que a classe política brasileira não está preparada para gestão de crises e que fracassou vergonhosamente no combate ao COVID 19 até o momento presente e de forma irremediável, pois quem morreu não terá como ser reparado.

Qual seria a posição de um povo "desperto"? 

Exigir que o governo comprasse vacinas, que aqueles que detém a maior parte da riqueza do país contribuíssem nesse investimento e que os empregos fossem salvos, com amparo àqueles que os perderam, assim como aos pequenos empreendedores. Observar o que a ciência nos revela, pois, a ciência baseia-se em pesquisa e em fatos e somente ela, neste momento, é capaz de criar as vacinas e nos orientar sobre como estancar o avanço da doença.

Vejo algumas pessoas com ódio daqueles que dependem de auxílio emergencial, como se fossem pessoas que não querem trabalhar e isso me entristece, pois, os valores desse auxílio são menores que o salário mínimo, que já é insuficiente para a sobrevivência de uma família. 

Pior de tudo é acreditar na classe política, essa que sempre atrapalhou o crescimento da nação, que nunca investiu na melhor distribuição de renda e na justiça social e que sempre solapou os cofres públicos, sejam de direita ou de esquerda.

Políticos decidem os rumos da nação com o dinheiro pago pelos impostos que, aliás, tem a maior carga sobre os mais pobres. São nossos empregados, nunca deveriam ser nossos mitos. Devem ser cobrados, pois, somos seus patrões. Deveriam ter metas e cronogramas estipulados pelo povo para cumprir, assim como fazem com todos os trabalhadores.

Quando vejo o povo dividido entre ideologias políticas extremistas, enquanto os problemas aumentam, tenho a certeza que gado não tem lado: somos todos gado.



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