FALADEIRA MATINAL
Acordei com muita faladeira.
Pessoas discutiam alto, se enfrentavam, se ofendiam.
Arrastavam móveis, quebravam coisas. Sons de cacos se espalhavam tinitando ao tocarem o chão.
Levantei da cama e procurei na sala, na cozinha. Olhei pelas janelas.
Descobri, então, que toda essa desordem se encontrava dentro de minha cabeça.
Tentei, em vão, silenciar, mas, não consegui.
Percebi um pássaro na janela do quarto. Era um pássaro preto, desses que a gente não sabe definir a raça: um vira-latas alado.
Ao me perceber, olhou nos meus olhos e, assustado partiu em seu vôo incerto.
Levou com ele a faladeira.
Em mim sobrou o silêncio sepulcral.
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