OS PERIGOS DA NOÇÃO EQUIVOCADA SOBRE A PRÓPRIA REALIDADE.
O Brasil ficou
em quinto lugar na nova edição do ranking que mede o quanto os países têm noção
equivocada sobre a própria realidade. Chamada "Os Perigos da
Percepção", a pesquisa anual é realizada pelo instituto Ipsos. O estudo
foi realizado em 37 países e se baseia em entrevistas com pessoas em cada um
deles sobre o que elas acham sobre a realidade que vivem. A pesquisa então
compara esta percepção com os dados oficiais. Quanto maior a diferença entre
percepção e realidade, maior a "ignorância" da população –e por isso
o ranking geral foi chamado originalmente de "índice de
ignorância".... [1]
Trabalho há mais de 35 anos. Sou
aposentado e continuo na ativa. A maior parte desse tempo, com atendimento ao
público em diversos canais de comunicação.
A maior parte de minha vida
profissional foi ligada ao setor elétrico, mas, há sete anos estou no setor de
saneamento.
Existem semelhanças nesses dois
mundos, afinal são serviços públicos, prestados por empresas públicas e também
por empresas privadas, produzem e distribuem serviços que são medidos por
equipamentos e dependem de leituras mensais, entrega de faturas e canais de
atendimento.
Os clientes são os mesmos e,
portanto, suas expectativas e comportamento idênticos.
Grande parte da população acredita
que os serviços de distribuição de energia e de saneamento são conduzidos pelos
governos (municipal, estadual ou federal). Por essa razão, acreditam que não
necessitariam pagar as faturas mensais, já que pagam impostos.
Parte dessas pessoas acreditam que
as empresas trabalham de forma a captarem recursos para o governo.
O problema tem origem histórica,
pois, as empresas de saneamento iniciaram praticando a cobrança de taxas e sob
a tutela do governo local.
O desconhecimento da engenharia que
existe por traz da produção e distribuição desses serviços, dos custos
envolvidos e dos impactos ambientais que provocam ou mitigam é notório.
A questão do tratamento do esgoto
doméstico, por exemplo, é um bom indicador dessa ignorância.
O Brasil está muito atrasado com
relação ao correto tratamento do esgoto doméstico e isso causa enormes prejuízos
ao meio ambiente e à saúde pública.
Entretanto, o custo para a
construção de estações de tratamento e de redes coletoras não é pequeno. As
empresas, muitas delas municipais, são autônomas nas suas gestões financeiras e
não podem contar com aporte de recursos do município.
Para a construção dessas
estruturas, precisam captar recursos no sistema financeiro, que podem contar com
melhores condições de juros e custos financeiros, mas, que deverão ser pagos. A
forma de sobrevivência dessas empresas se dá pela cobrança de faturas mensais e
o aporte de um sistema de coleta e tratamento de esgoto resulta em grande aumento
nos custos operacionais.
Esses custos são, obviamente,
repassados nas tarifas. Os custos com a coleta e tratamento de esgoto são
superiores aos de coleta e tratamento da água, por razões óbvias. Algumas
empresas precisam apresentar as faturas com um percentual menor para o esgoto
do que para a água, mas, na prática, nesses casos, os custos com a água
subsidiarão os custos para o esgoto.
A questão que coloco é que estamos
chegando a limites de contaminação do meio ambiente e, apesar de ser de
conhecimento geral essa situação, os custos para a eliminação desse problema
não são compreendidos por grande parte da população.
Imaginem se, por problemas sérios
de contaminação do ar, ou por exaustão do sistema viário, as pessoas sejam
obrigadas a utilizar o transporte público e deixar seus veículos em casa
durante alguns dias da semana.
Outro exemplo, recentemente tomamos
conhecimento de que as abelhas estão sendo mortas por pesticidas usados na
agricultura em um processo tão acelerado que está ameaçando de extinção esse
inseto que tem função estratégica na polinização, o que pode resultar em falta
de alimentos para a humanidade se não forem tomadas medidas imediatas.
Entretanto, se os agricultores
migrarem para um processo produtivo orgânico, os custos dos alimentos
aumentarão e a população não aceitará esse reflexo pacificamente.
Muitas pessoas não se conformariam
e haveria muita discussão sobre questões políticas e com consequências para os
governantes, que teriam problemas em se manterem nos cargos públicos.
Um problema igualmente perigoso, e
que se junta a essas questões, é a dependência que desenvolvemos da tecnologia
e de confortos que a indústria nos trouxe em seu desenvolvimento histórico.
Muitos se sentem dependentes de bens e serviços que passaram a existir há muito
pouco tempo, considerando a história humana no planeta.
Não dependemos biologicamente de
muito do que consumimos e consideramos como essencial na contemporaneidade.
Essa desinformação tem feito com
que se gaste, sem questionamento, com aparelhos smartphones caros, mas, que se
questione custos de serviços essenciais para a saúde pública e para o meio
ambiente.
Temos desafios ambientais gigantescos
para enfrentar, que trarão indubitavelmente, custos a serem assumidos. Mas, se
nada for feito com respeito à educação, correremos o risco de extinção de nossa
espécie – outras já estão sendo extintas por nós há décadas – por conta da
ilusória dependência por uma tecnologia voltada tão somente à diversão e
futilidade.
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