Mobilidade Urbana e os "pulsos culturais"


As cidades pulsam, movimentam-se em ciclos. Quem anda pelas ruas sabe disso: existem horários em que a mobilidade é impraticável e outros em que é possível sentir que o fluir é possível. Também que trabalha com atendimento ao público pode atestar que períodos certos no mês e dias certos na semana, além de horários bem definidos em cada dia são testemunhas de filas intermináveis, enquanto em outors momentos é possível ser atendido rapidamente.
Assistimos diariamente os problemas gerados pela dificuldade na mobilidade urbana, especialmente em grandes cidades, onde a simples rotina de sair de casa ao trabalho ou escola pode se transformar em uma maratona estressante e perigosa.
Junto com esse fato, assistimos também os discursos dos gestores públicos no sentido de trazer soluções que atingem os efeitos, deixando as causas sem atenção.
As soluções vão desde a construção de novas vias públicas até a limitação da circulação de veículos nas ruas em certos dias da semana, como ocorre no rodízio em São Paulo.
Eu penso que devemos pensar nas causas dos deslocamentos e vejo que o momento é muito pertinente, uma vez que a tecnologia existente pode ajudar e muito na solução, ou, ao menos, a atenuar esses efeitos sem a necessidade de grandes investimentos.
Procuro pensar nas razões por que um cidadão se locomove pelas ruas.
A ida ao trabalho é uma das razões desse deslocamento. Ocorre que existem alguns pontos a se atentar para esse tipo de deslocamento:
TECNOLOGIA
Muitos trabalhadores se movimentam pela cidade diariamente para trabalharem em escritórios, diante de um computador conectado à internet, sem a necessidade de contato pessoal. Essas pessoas poderiam, portanto, trabalhar em suas residências. Imagine o número de pessoas a menos nas ruas tão somente pelo fato de passarem a trabalhar em suas residências. Então, os gestores públicos deveriam investir em legislações e incentivos para que as empresas propusessem esse tipo de trabalho à distância.
JORNADAS DE TRABALHO
Muitos congestionamentos ocorrem em períodos do dia em que muitos trabalhadores são obrigados a se deslocar, pela razão das empresas adotarem exatamente os mesmos horários de entrada e saída dos escritórios. Os gestores públicos, então, deveriam pensar em propor leis e incentivos para que as empresas ofereçam horários diferentes para que não existam disputas de espaço sempre nos mesmos períodos no dia. Se uma grande empresa adotar a jornada das 07h00 às 16h00, enquanto outra, em uma mesma região, adotar a jornada das 08h00 às 17h00 e outra das 09h00 às 18h00, essa diferença diminuiria por três o número de pessoas nas ruas nos mesmos horários.
A contabilidade pública é gravemente onerada com a visão de ações sobre os resultados. Assim sendo, temos custos elevados com a perda de produtividade, aumento no número de acidentes, aumento nos riscos de segurança pública, aumento nos custos ambientais e na saúde pública.
Pensar as cidades em sua lógica de deslocamentos requer ir além da engenharia de trânsito, em busca de suas causas. A redução da necessidade de deslocamento, aliada à distribuição das jornadas de trabalho, diminuiriam o fluxo de trânsito, os congestionamentos, a emissão de gases na atmosfera e os acidentes de percurso. Isso sem o investimento em avenidas ou viadutos, ou ainda, em mais transportes públicos.
O estresse nas grandes cidades, decorrente das tensões geradas pelos deslocamentos, afeta a saúde pública, gerando desdobramentos que aumentam os custos públicos.
Esse pensamento holístico precisa ser considerado face à superpopulação e as consequências sobre a sustentabilidade nas cidades.
É bom lembrar que esses movimentos urbanos são reflexos de respostas a processos culturais que podem, e devem, ser repensados e cabe aos gestores públicos o papel de intervir nesses processos, para o bem de todos nós.

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