MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOB A ÓTICA DA SUSTENTABILIDADE
INTRODUÇÃO
Tema que exige um olhar multidisciplinar, pensar em sustentabilidade significa, antes de tudo, rever paradigmas culturais que nos levem a uma nova visão de consumo: o consumo sustentável. Mas este requer uma ruptura com o pensamento consumista e globalizador atual.
As soluções apontadas em alguns estudos, como veremos a seguir, trazem-nos a importância da visão local para a compreensão e solução dos problemas ambientais atuais e futuros. Um conceito que se impõe de maneira evolutiva é a associação do homem no contexto da natureza, levando os cientistas a considerar a ecologia como um tema que envolve as questões sociais e econômicas.
O homem não mais teme a natureza, assim como não mais a subjuga, passando a ser visto como parte dessa natureza, buscando o equilíbrio na intervenção benéfica e não exploratória, como fórmula de garantir o futuro da espécie. A cultura então passa a ser indispensável para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, através de soluções locais, manifestações e valorização das etnias, assim como a educação e a comunicação midiática.
Nessa nova visão, a globalização e seus conteúdos de consumo perdulário se contrapõe às soluções viáveis para a sustentabilidade.
O consumo consciente, tendo como base uma grande mudança cultural e educacional, deve ser conduzido paralelamente a uma produção sustentável, voltada para as necessidades básicas, contrariamente à visão capitalista do consumo pelo consumo.
CENÁRIOS
Segundo Relatório da ONU, divulgado pela ONG Akatu (Instituto Akatu pelo Consumo Consciente - http://www.akatu.org.br/Temas/Sustentabilidade/Posts/Relatorio-da-ONU-reforca-urgencia-na-busca-pela-sustentabilidade), a extinção de espécies é a mais rápida da história.
“O relatório foi preparado por cerca de 390 especialistas e revisado por mais de mil estudiosos em todo o mundo” - revela que “mais de 30% dos anfíbios, 23% dos mamíferos e 12% dos pássaros estão ameaçados”. A razão apontada para esse cenário reside, em maior grau de importância, na busca de fontes de energia alternativa através do uso de espaço agrícola. Os peixes também estão ameaçados pelo aumento no consumo, que já se encontra em níveis maiores do que a capacidade de reposição dos oceanos. Por fim, se prevê um aumento no consumo de água, que perde cada vez mais a sua qualidade, para os próximos anos.
Esse rápido cenário foi escolhido para introduzir o tema alvo desta pesquisa pelo fato de sintetizar com dados contundentes, o momento em que nossa civilização vive e as consequências das ações desenvolvidas pelo ser humano em seu processo de desenvolvimento tecnológico e espacial.
O crescimento populacional e o consumo irresponsável e excludente são os principais fatores que alimentam esse cenário, insuflado por um sistema econômico e social que privilegia o capital e despreza o meio ambiente, colocando em risco a sobrevivência de inúmeras espécies vivas, em suas mais variadas formas de classificação biológica, e levando a espécie humana ao mesmo destino.
RACIONALIDADE AMBIENTAL NA VISÃO DE LEFF E CIDADES SUSTENTÁVEIS NA VISÃO DE CANCLINI
A racionalidade ambiental aparece como um novo modelo econômico, introduzindo a natureza como elemento integrado às questões sociais, produtivas e políticas.
Assim sendo, a produção se basearia numa “eco-tecnologia”, voltada a sustentabilidade ambiental.
Guillermo Foladori, Professor Visitante no Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR, faz resenha de leitura sobre Leff (Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2000000100010)
Leff parte do pressuposto de que as sociedades "modernas", tanto capitalista quanto socialista, seriam produtivistas e antiecológicas. Tratar-se-iam de sociedades nas quais a natureza não é considerada dentro da racionalidade econômica e, portanto, seriam insustentáveis. A busca de uma racionalidade ambiental tem como objetivo detectar aqueles elementos que possam se constituir em base de uma estratégia produtiva alternativa, onde a natureza se integre à lógica produtiva.
Outro aspecto importante em Leff, é a visão do consumo para atendimento às necessidades básicas, em contraponto ao modelo econômico atual, onde o consumo exacerbado gera desequilíbrios ecológicos por razões fúteis.
A racionalidade social traria uma democracia direta em contraposição ao modelo atual representativo, meio decisório da gestão ambiental, onde os diversos segmentos e extratos sociais participariam com propostas de soluções sustentáveis, o que garantiria uma maior efetividade nas ações, além de permitir soluções caseiras e mais eficazes.
Leff defende o conceito de “Localismo”, onde os processos econômicos se baseiam em critérios que migram do local para o global, sentido este inverso ao atual modelo, cuja direção vem do global para o local.
Segundo Leff (Racionalidade Ambiental, pág. 405):
A racionalidade econômica gerou uma concepção do desenvolvimento das forças produtivas que privilegiou o capital, o trabalho e o progresso técnico como fatores fundamentais da produção, desterrando de seu campo a cultura e a natureza.
Os resultados nefastos para a sociedade e para o meio ambiente, originados dessa postura aumentam a miséria e exclusão social no mundo e a degradação do meio ambiente em níveis ameaçadores.
Com a pós-modernidade, novos valores começam a se estabelecer, como as políticas de desenvolvimento sustentável e a visão da diversidade ecológica e cultural como um princípio ético. Conforme Leff (Racionalidade Ambiental, pág. 408):
A construção de uma racionalidade ambiental encontra, assim, suas raízes mais profundas na cultura, entendida como a ordem que entretece o real e o simbólico, o material e o ideal, nas diferentes formas de organização social dos grupos humanos em comunidades e nações, nas formas diversas em que suas linguagens e suas falas dão significado aos territórios que habitam e à natureza com a qual convivem e coevoluem.
A racionalidade energética passa a ser parte importante dessa nova era, juntamente com a racionalidade econômica, de maneira a se buscar o equilíbrio sustentável. Leff (Racionalidade Ambiental, pág. 428) postula que:
A incorporação da cultura e da diversidade cultural na perspectiva do desenvolvimento sustentável abre três possíveis vias de interpretação: A emergência de uma cultura ecológica; (...) A integração da cultura às condições gerais da produção (...); Como um princípio ético-produtivo do desenvolvimento e das forças produtivas em um paradigma alternativo de produção.
É interessante verificar que as origens dos problemas ambientais, em grande parte relacionadas com ações culturais resultantes de sistemas econômicos predatórios, requerem agora, segundo o autor citado, que as sociedades redefinam os modelos de economia de maneira a estabelecer novos interesses e formas de sobrevivência que respeitem paradigmas de valores sustentáveis.
Leff conclui que:
A preservação de identidades étnicas e dos novos valores tradicionais das culturas, o arraigamento a suas terras e seus territórios étnicos constituem suportes para a conservação da biodiversidade – do equilíbrio, da resiliência e da complexidade dos ecossistemas -, estabelecendo-se como condição de sustentabilidade da sua produtividade. (LEFF, Racionalidade Ambiental, pag. 429)
A cultura ecológica emerge na narrativa da globalização como uma consciência conservacionista diante da racionalidade econômica produtivista e perdulária. O discurso da sustentabilidade tende a atribuir à cultura – e às culturas – uma vontade e uma capacidade intrínseca de preservação do meio ambiente em que habitam como uma experiência vivida de conservação cultural, como uma faculdade e um mecanismo adquirido no processo de evolução ecocultural. E, no entanto, a cultura funciona como uma ‘superestrutura’ da base orgânica da vida que assegura sua reprodução através de processos de adaptação e transformação, onde as leis de conservação e evolução se refletem nas cosmovisões e práticas culturais do uso da natureza. (LEFF, Racionalidade Ambiental, pag. 435).
.
Como seria possível estabelecer esses paradigmas culturais uma vez que o atual sistema é sustentado pelo poder econômico nos mercados globais?
Sobre esta questão Canclini (O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis, pág. 185) nos traz a seguinte reflexão:
[...]os recursos culturais, a atenção à diversidade de culturas presentes em cada urbe e a promoção da arte, os espetáculos e os meios de comunicação podem contribuir decisivamente para o desenvolvimento e a sustentabilidade das cidades.
Sobre a desconstrução/degradação das cidades da América Latina, Canclini (LATOUCHE, 1989 Apud CANCLINI, O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis, pág. 186 e 187) atribui a “informalidade”, como o mecanismo desintegrador, entendida como “o provisório tende a se tornar definitivo”.
A insustentabilidade nesse texto é vista como a incapacidade de inclusão social nas cidades, gerando multidões de excluídos que se estabelecem em atividades irregulares com tendências ao crime e à corrupção política.
CONCLUSÕES
A exploração do planeta como forma de desenvolvimento humano é questão histórica e marca das civilizações até os dias de hoje.
Entretanto, a superpopulação e os efeitos nocivos dessa cultura, aliados à globalização, chegam a um limite para a sobrevivência humana no planeta.
Não há como garantir a vida humana para as próximas gerações, no modelo atual de produção, voltada a exploração irresponsável.
As soluções, segundo as leituras realizadas neste estudo, passam por:
- A emergência de uma cultura ecológica;
- Educação;
- Conscientização;
- Integrar a natureza dentro da racionalidade econômica e social;
- Integração da cultura às condições gerais da produção;
- Busca de uma racionalidade ambiental – natureza integrada com a lógica produtiva:
- Eco tecnologia;
- Produção para satisfação de necessidades básicas;
- Racionalidade social: re-apropriação social da natureza, a gestão direta dos recursos naturais estaria baseada em práticas tradicionais resultantes das cosmovisões e culturas que têm um comportamento mais harmônico (sustentável) com a natureza;
- Mitigação dos impactos;
- Ecologia política;
- Mudança de paradigmas;
-Fim das cidades-espetáculo, emblemas de globalização e do consumismo;
-Fim das cidades paranóicas, símbolos da exclusão social, da informalidade e da corrupção;
- Surgimento das cidades de racionalidade sócio ambiental;
O mundo atual defronta-se com uma situação nova, em que todo o esforço histórico pelo desenvolvimento e geração de riquezas se vê incompetente para seguir em frente – os modelos econômicos, culturais e sociais não conseguem dar conta da saúde e sobrevivência da humanidade.
O grande problema é cultural e econômico. No modelo atual, pensamos em desenvolvimento social aliado ao acesso ao consumo. As classes sociais são definidas pelas suas posses, ou seja, pela sua capacidade de consumir.
Da mesma forma, o sucesso econômico está associado diretamente à capacidade produtiva. Então temos de um lado as pressões produtivas pelo consumo e por outro lado o desejo de inclusão de uma população seduzida por esse mesmo consumo. Numa sociedade hedonista, voltada ao conforto pessoal, essa situação torna-se de difícil solução.
Vencer o desafio de melhor distribuir renda através de um novo modelo econômico voltado para a sustentabilidade parece ser uma tarefa hercúlea.
Somente a construção de novos valores culturais, sociais e uma nova lógica mercadológica seriam capazes de redirecionar nosso futuro para um modelo sustentável.
Neste momento porém, as ações positivas são desconectadas das ações em contrário, estas últimas ligadas à luta dos países ricos em manter as suas posições de poder econômico.
Seria a natureza, através de suas manifestações e reações às agressões infringidas pelo homem, a última agente histórica a investir na tentativa de construção de uma sociedade mais justa e igualitária, respeitosa às manifestações locais e sustentável? Ou estaríamos todos condenados a enfrentar novas catástrofes que venham a aniquilar grande parte da população mundial, ou até mesmo o desaparecimento da espécie humana?
O mais curioso de tudo parece ser o fato cada vez mais incontestável de que a natureza e o homem são parte de um mesmo equilíbrio e que o desrespeito a esse equilíbrio pode levar ambos ao caos.
REFERÊNCIAS
CANCLINI, Néstor Garcia - O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis.
Tema que exige um olhar multidisciplinar, pensar em sustentabilidade significa, antes de tudo, rever paradigmas culturais que nos levem a uma nova visão de consumo: o consumo sustentável. Mas este requer uma ruptura com o pensamento consumista e globalizador atual.
As soluções apontadas em alguns estudos, como veremos a seguir, trazem-nos a importância da visão local para a compreensão e solução dos problemas ambientais atuais e futuros. Um conceito que se impõe de maneira evolutiva é a associação do homem no contexto da natureza, levando os cientistas a considerar a ecologia como um tema que envolve as questões sociais e econômicas.
O homem não mais teme a natureza, assim como não mais a subjuga, passando a ser visto como parte dessa natureza, buscando o equilíbrio na intervenção benéfica e não exploratória, como fórmula de garantir o futuro da espécie. A cultura então passa a ser indispensável para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, através de soluções locais, manifestações e valorização das etnias, assim como a educação e a comunicação midiática.
Nessa nova visão, a globalização e seus conteúdos de consumo perdulário se contrapõe às soluções viáveis para a sustentabilidade.
O consumo consciente, tendo como base uma grande mudança cultural e educacional, deve ser conduzido paralelamente a uma produção sustentável, voltada para as necessidades básicas, contrariamente à visão capitalista do consumo pelo consumo.
CENÁRIOS
Segundo Relatório da ONU, divulgado pela ONG Akatu (Instituto Akatu pelo Consumo Consciente - http://www.akatu.org.br/Temas/Sustentabilidade/Posts/Relatorio-da-ONU-reforca-urgencia-na-busca-pela-sustentabilidade), a extinção de espécies é a mais rápida da história.
“O relatório foi preparado por cerca de 390 especialistas e revisado por mais de mil estudiosos em todo o mundo” - revela que “mais de 30% dos anfíbios, 23% dos mamíferos e 12% dos pássaros estão ameaçados”. A razão apontada para esse cenário reside, em maior grau de importância, na busca de fontes de energia alternativa através do uso de espaço agrícola. Os peixes também estão ameaçados pelo aumento no consumo, que já se encontra em níveis maiores do que a capacidade de reposição dos oceanos. Por fim, se prevê um aumento no consumo de água, que perde cada vez mais a sua qualidade, para os próximos anos.
Esse rápido cenário foi escolhido para introduzir o tema alvo desta pesquisa pelo fato de sintetizar com dados contundentes, o momento em que nossa civilização vive e as consequências das ações desenvolvidas pelo ser humano em seu processo de desenvolvimento tecnológico e espacial.
O crescimento populacional e o consumo irresponsável e excludente são os principais fatores que alimentam esse cenário, insuflado por um sistema econômico e social que privilegia o capital e despreza o meio ambiente, colocando em risco a sobrevivência de inúmeras espécies vivas, em suas mais variadas formas de classificação biológica, e levando a espécie humana ao mesmo destino.
RACIONALIDADE AMBIENTAL NA VISÃO DE LEFF E CIDADES SUSTENTÁVEIS NA VISÃO DE CANCLINI
A racionalidade ambiental aparece como um novo modelo econômico, introduzindo a natureza como elemento integrado às questões sociais, produtivas e políticas.
Assim sendo, a produção se basearia numa “eco-tecnologia”, voltada a sustentabilidade ambiental.
Guillermo Foladori, Professor Visitante no Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR, faz resenha de leitura sobre Leff (Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2000000100010)
Leff parte do pressuposto de que as sociedades "modernas", tanto capitalista quanto socialista, seriam produtivistas e antiecológicas. Tratar-se-iam de sociedades nas quais a natureza não é considerada dentro da racionalidade econômica e, portanto, seriam insustentáveis. A busca de uma racionalidade ambiental tem como objetivo detectar aqueles elementos que possam se constituir em base de uma estratégia produtiva alternativa, onde a natureza se integre à lógica produtiva.
Outro aspecto importante em Leff, é a visão do consumo para atendimento às necessidades básicas, em contraponto ao modelo econômico atual, onde o consumo exacerbado gera desequilíbrios ecológicos por razões fúteis.
A racionalidade social traria uma democracia direta em contraposição ao modelo atual representativo, meio decisório da gestão ambiental, onde os diversos segmentos e extratos sociais participariam com propostas de soluções sustentáveis, o que garantiria uma maior efetividade nas ações, além de permitir soluções caseiras e mais eficazes.
Leff defende o conceito de “Localismo”, onde os processos econômicos se baseiam em critérios que migram do local para o global, sentido este inverso ao atual modelo, cuja direção vem do global para o local.
Segundo Leff (Racionalidade Ambiental, pág. 405):
A racionalidade econômica gerou uma concepção do desenvolvimento das forças produtivas que privilegiou o capital, o trabalho e o progresso técnico como fatores fundamentais da produção, desterrando de seu campo a cultura e a natureza.
Os resultados nefastos para a sociedade e para o meio ambiente, originados dessa postura aumentam a miséria e exclusão social no mundo e a degradação do meio ambiente em níveis ameaçadores.
Com a pós-modernidade, novos valores começam a se estabelecer, como as políticas de desenvolvimento sustentável e a visão da diversidade ecológica e cultural como um princípio ético. Conforme Leff (Racionalidade Ambiental, pág. 408):
A construção de uma racionalidade ambiental encontra, assim, suas raízes mais profundas na cultura, entendida como a ordem que entretece o real e o simbólico, o material e o ideal, nas diferentes formas de organização social dos grupos humanos em comunidades e nações, nas formas diversas em que suas linguagens e suas falas dão significado aos territórios que habitam e à natureza com a qual convivem e coevoluem.
A racionalidade energética passa a ser parte importante dessa nova era, juntamente com a racionalidade econômica, de maneira a se buscar o equilíbrio sustentável. Leff (Racionalidade Ambiental, pág. 428) postula que:
A incorporação da cultura e da diversidade cultural na perspectiva do desenvolvimento sustentável abre três possíveis vias de interpretação: A emergência de uma cultura ecológica; (...) A integração da cultura às condições gerais da produção (...); Como um princípio ético-produtivo do desenvolvimento e das forças produtivas em um paradigma alternativo de produção.
É interessante verificar que as origens dos problemas ambientais, em grande parte relacionadas com ações culturais resultantes de sistemas econômicos predatórios, requerem agora, segundo o autor citado, que as sociedades redefinam os modelos de economia de maneira a estabelecer novos interesses e formas de sobrevivência que respeitem paradigmas de valores sustentáveis.
Leff conclui que:
A preservação de identidades étnicas e dos novos valores tradicionais das culturas, o arraigamento a suas terras e seus territórios étnicos constituem suportes para a conservação da biodiversidade – do equilíbrio, da resiliência e da complexidade dos ecossistemas -, estabelecendo-se como condição de sustentabilidade da sua produtividade. (LEFF, Racionalidade Ambiental, pag. 429)
A cultura ecológica emerge na narrativa da globalização como uma consciência conservacionista diante da racionalidade econômica produtivista e perdulária. O discurso da sustentabilidade tende a atribuir à cultura – e às culturas – uma vontade e uma capacidade intrínseca de preservação do meio ambiente em que habitam como uma experiência vivida de conservação cultural, como uma faculdade e um mecanismo adquirido no processo de evolução ecocultural. E, no entanto, a cultura funciona como uma ‘superestrutura’ da base orgânica da vida que assegura sua reprodução através de processos de adaptação e transformação, onde as leis de conservação e evolução se refletem nas cosmovisões e práticas culturais do uso da natureza. (LEFF, Racionalidade Ambiental, pag. 435).
.
Como seria possível estabelecer esses paradigmas culturais uma vez que o atual sistema é sustentado pelo poder econômico nos mercados globais?
Sobre esta questão Canclini (O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis, pág. 185) nos traz a seguinte reflexão:
[...]os recursos culturais, a atenção à diversidade de culturas presentes em cada urbe e a promoção da arte, os espetáculos e os meios de comunicação podem contribuir decisivamente para o desenvolvimento e a sustentabilidade das cidades.
Sobre a desconstrução/degradação das cidades da América Latina, Canclini (LATOUCHE, 1989 Apud CANCLINI, O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis, pág. 186 e 187) atribui a “informalidade”, como o mecanismo desintegrador, entendida como “o provisório tende a se tornar definitivo”.
A insustentabilidade nesse texto é vista como a incapacidade de inclusão social nas cidades, gerando multidões de excluídos que se estabelecem em atividades irregulares com tendências ao crime e à corrupção política.
CONCLUSÕES
A exploração do planeta como forma de desenvolvimento humano é questão histórica e marca das civilizações até os dias de hoje.
Entretanto, a superpopulação e os efeitos nocivos dessa cultura, aliados à globalização, chegam a um limite para a sobrevivência humana no planeta.
Não há como garantir a vida humana para as próximas gerações, no modelo atual de produção, voltada a exploração irresponsável.
As soluções, segundo as leituras realizadas neste estudo, passam por:
- A emergência de uma cultura ecológica;
- Educação;
- Conscientização;
- Integrar a natureza dentro da racionalidade econômica e social;
- Integração da cultura às condições gerais da produção;
- Busca de uma racionalidade ambiental – natureza integrada com a lógica produtiva:
- Eco tecnologia;
- Produção para satisfação de necessidades básicas;
- Racionalidade social: re-apropriação social da natureza, a gestão direta dos recursos naturais estaria baseada em práticas tradicionais resultantes das cosmovisões e culturas que têm um comportamento mais harmônico (sustentável) com a natureza;
- Mitigação dos impactos;
- Ecologia política;
- Mudança de paradigmas;
-Fim das cidades-espetáculo, emblemas de globalização e do consumismo;
-Fim das cidades paranóicas, símbolos da exclusão social, da informalidade e da corrupção;
- Surgimento das cidades de racionalidade sócio ambiental;
O mundo atual defronta-se com uma situação nova, em que todo o esforço histórico pelo desenvolvimento e geração de riquezas se vê incompetente para seguir em frente – os modelos econômicos, culturais e sociais não conseguem dar conta da saúde e sobrevivência da humanidade.
O grande problema é cultural e econômico. No modelo atual, pensamos em desenvolvimento social aliado ao acesso ao consumo. As classes sociais são definidas pelas suas posses, ou seja, pela sua capacidade de consumir.
Da mesma forma, o sucesso econômico está associado diretamente à capacidade produtiva. Então temos de um lado as pressões produtivas pelo consumo e por outro lado o desejo de inclusão de uma população seduzida por esse mesmo consumo. Numa sociedade hedonista, voltada ao conforto pessoal, essa situação torna-se de difícil solução.
Vencer o desafio de melhor distribuir renda através de um novo modelo econômico voltado para a sustentabilidade parece ser uma tarefa hercúlea.
Somente a construção de novos valores culturais, sociais e uma nova lógica mercadológica seriam capazes de redirecionar nosso futuro para um modelo sustentável.
Neste momento porém, as ações positivas são desconectadas das ações em contrário, estas últimas ligadas à luta dos países ricos em manter as suas posições de poder econômico.
Seria a natureza, através de suas manifestações e reações às agressões infringidas pelo homem, a última agente histórica a investir na tentativa de construção de uma sociedade mais justa e igualitária, respeitosa às manifestações locais e sustentável? Ou estaríamos todos condenados a enfrentar novas catástrofes que venham a aniquilar grande parte da população mundial, ou até mesmo o desaparecimento da espécie humana?
O mais curioso de tudo parece ser o fato cada vez mais incontestável de que a natureza e o homem são parte de um mesmo equilíbrio e que o desrespeito a esse equilíbrio pode levar ambos ao caos.
REFERÊNCIAS
CANCLINI, Néstor Garcia - O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis.
LEFF Enrique, Racionalidade Ambiental.
Guillermo Foladori, Professor Visitante no Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR, faz resenha de leitura sobre Leff (Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2000000100010)
Comments