A IMPORTÂNCIA DO CUIDADO

 "Escrever sobre a amizade tem gosto de bala de coco: é doce, macio, conforta, dá prazer. E se comemos demais, tem também dor-de-barriga e mal estar. Isso para no lembrar que relacionamento é isso: cuidar, esperar, relevar, perdoar. Saboreá-lo na justa medida de não se empanturrar com ele, ou encharcá-lo."

(FONTES, Arlete Portella - MULHERES E SUAS HISTÓRIAS DE ENVELHECIMENTO)


Creio que estamos vivendo um momento histórico em que a informação nos encharca diariamente. É muito bom ter acesso a informação de forma tão simples, rápida e quase de graça. Mas, não temos condições de absorver tanto conhecimento acumulado e o que se revela diariamente através das ciências, estas em ritmo acelerado.

Essa realidade é assustadora e, se quisermos formar opiniões, teremos que entender muito sobre humildade e disrupção. Porque o conhecimento é volátil, se desatualiza rapidamente e, ainda que queiramos alcançá-lo, o que conseguimos é chegar mais perto de alguma fração dele.

Esse estado de coisas paralisa alguns, que preferem agarrar-se a um passado onde se sentiam mais seguros. Mas um passado idealizado, que também passa por revisões através das ciências como a antropologia, a historiografia e a arqueologia. E é preciso mencionar a astronomia, que tem trazido novas informações pela observação do Cosmos, sobre as possíveis origens da vida e dos corpos celestes.

Esse ambiente tenso afeta as relações, estas dependentes de um porto seguro que não mais existe. Os conflitos se polarizam, adotam ideologias, negam fatos históricos e científicos, ou melhor, os reescrevem de forma a servirem de reforço aos discursos vazios.

Em tempos assim, é preciso cuidar do que se diz, do que se escreve, do que se posta.  Os relacionamentos se desfazem na velocidade líquida da busca ao inatingível. Uma palavra mal interpretada pode gerar agressões verbais, ofensas e, em alguns casos, ameaças e perseguições. Perdem-se amizades e desfazem-se laços familiares.

Somado a isso, o conhecimento nos traz a luz a muitos aspectos da vida que até há pouco não eram sequer percebidos, como a opressão social sobre minorias, etnias, pessoas com deficiências etc. Numa tentativa de resgatar o mundo para todos, cuidados são criados para que exista justiça no trato e nas narrativas. Mais uma vez, esses cuidados são tomados por alguns como ameaças e controles. Eu sofri bullying na juventude e adolescência e as consequências disso me afetam até os dias atuais, com uma grande insegurança sobre decisões a serem tomadas e baixa autoestima. Entretanto, ouço ás vezes que isso não existe, que haviam "brincadeiras" e apelidos, mas, nada de mau. Isso me machuca ainda mais e me faz compreender as reivindicações das minorias.

O texto escrito por Fontes, citado neste post, demonstra a realidade presente, do cuidado nas relações, na fragilidade do "outro" que precisa ser percebida e respeitada. Relacionar-se é necessário para nossa felicidade e sanidade mental e corporal. Na velhice, passa a ser tudo o que temos, uma vez que amadurecemos e as coisas materiais vão perdendo o sentido.  Cuidado, respeito, empatia, são valores indispensáveis para uma vida mais feliz.

Tive a felicidade de conhecer Arlete Portella Fontes: trabalhamos por um longo tempo na mesma empresa e indico seu livro com um orgulho como se fosse de uma conquista própria. Amizade é assim: ficamos muito felizes com as conquistas do amigo ou amiga. Eu não a vejo há muito tempo, mas, como é bom saber que temos amigos e que a amizade independe de encontros frequentes. 

Pensar em "nós" , nos tira o peso do Ego e nos torna livres como pássaros em vôo. Amigos nos dão asas.




 



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