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Showing posts from March, 2021

ESCREVO PARA NINGUÉM

  Escrevo com a certeza de que poucas pessoas lerão. Não me importo. De fato, meu blog tem sido acessado por pessoas que não conheço. E esse acesso se dá, na maior parte das vezes, por conta de buscas rápidas nas plataformas de pesquisa onde, por acaso, um título que postei coincide com um interesse qualquer. Despejo pensamentos como quem joga as roupas malpassadas dentro do armário do quarto. Depois esqueço do que escrevi. Com certeza posso me surpreender com coisas que postei há algum tempo. Assim, reproduzo a vida, onde produzimos de forma inacabada e mal finalizada muitos projetos. Jogamos no guarda-roupas e esquecemos. No fundo desse guarda-roupas existem pensamentos passados, mal vividos. Alguns até promissores, mas, esquecidos no fundo escuro, ficarão esquecidos e, um dia, desaparecerão. Melhor talvez, porque somos movimento. Mudamos como a direção dos ventos. Queremos ser livres mas estiramos as velas e somos levados. O que ficou para trás não é nada mais que um

SOMOS TODOS GADO

A polarização política nos leva a ser rotulados como "gado", independentemente da posição que se assume.  A questão de ser gado advém de um princípio filosófico que já encontrava suas raízes na Caverna de Platão, alegoria criada pelo filósofo onde supostos homens presos em correntes dentro de uma caverna observavam as sombras projetadas acreditando serem elas a verdade.  Platão explicava assim, que vivemos em meio a projeções, desconhecemos a verdade e que somente aquele que conseguisse vencer e "sair da caverna" poderia perceber seu engano, mediante a contemplação com o mundo real. Esse pensamento se atualiza e também encontra eco no Budismo, onde se acredita que o mundo em que vivemos é apenas uma ilusão. O fato de sermos seres sociais por excelência - dependemos da sociedade desde que nascemos, pois, ao contrário de outras criaturas, somos incapazes nos primeiros anos de vida - cria a questão da necessidade da criação de mecanismos que permitam a convivência em g

FALADEIRA MATINAL

Acordei com muita faladeira. Pessoas discutiam alto, se enfrentavam, se ofendiam. Arrastavam móveis, quebravam coisas. Sons de cacos se espalhavam tinitando ao tocarem o chão. Levantei da cama e procurei na sala, na cozinha. Olhei pelas janelas. Descobri, então, que toda essa desordem se encontrava dentro de minha cabeça. Tentei, em vão, silenciar, mas, não consegui. Percebi um pássaro na janela do quarto. Era um pássaro preto, desses que a gente não sabe definir a raça: um vira-latas alado. Ao me perceber, olhou nos meus olhos e, assustado partiu em seu vôo incerto. Levou com ele a faladeira. Em mim sobrou o silêncio sepulcral.