SANEAMENTO E O DESCOMPASSO CONTEMPORÂNEO

Como muita gente sabe, o Brasil precisa investir em saneamento básico. Esse talvez seja o maior problema diretamente relacionado à saúde pública. Também é sabido que o investimento em saneamento reduz significativamente o investimento em saúde, o que o justifica, também pelo ponto de vista econômico.

Mas existe um paradigma que coloca a solução inviável o curto prazo e com elevados orçamentos a serem realizados: vivemos na era da informação, mas, agimos como se estivéssemos na era industrial. Quando de pensa na solução para o problema do saneamento, o modelo pensado passa pela construção de estações de tratamento de água e de esgoto, para atendimento a grandes adensamentos populacionais.

Esse pensamento passa por descompasso com a ciência atual e sua sabida evolução, assim como pela oportunidade dos governos em investir volumes de recursos elevados, materializados em grandes obras e todas as possibilidades de negociações duvidosas decorrentes dessa oportunidade.

Entretanto, coloco em pauta as seguintes questões:

- existe tecnologia para tratamento de água sem a necessidade de estações. Essas técnicas serviriam para tratamento de água de poços e de chuva.

- a questão do esgoto passa por dois pontos de atenção:

           - a questão da saúde pública: com o afastamento do esgoto do contato humano, essa questão é resolvida, ou seja, uma fossa filtro limpa com a freqüência adequada, resolve o problema de forma doméstica, sem a necessidade de investimento público

           - a questão ambiental: enterrar o esgoto doméstico com tecnologias sociais como, por exemplo, “zona de raízes”, pode não contaminar o solo – ao contrário, nesse caso o esgoto torna-se fertilizante. Outra situação viável seria a captação de esgoto em pontos de coleta, através de caminhões, que levariam esse dejeto às atuais estações de tratamento, sem que fosse necessária a construção de novas estruturas.

Evidentemente, as soluções citadas não resolvem todos os problemas, mas, mostram que existem caminhos alternativos que podem ser adotados simultaneamente, oferecendo soluções locais e com custos reduzidos. O pensamento em prática baseia-se em lógica industrial, modelos usados e repetidos sem que pareça haver questionamentos.

No modelo mental adotado, existe apenas uma resposta para cada problema. Entretanto, o momento nos mostra a pluralidade, a multiplicação de respostas para a mesma questão. Estamos no momento histórico em que as soluções, além de múltiplas, tornam-se voláteis, com prazo de validade. Em todo momento, novas tecnologias e novas descobertas nos trazem novas respostas.

Esse descompasso entre conhecimento e prática é visível em toda ação política pública. Veja o caso do trânsito urbano: hoje existem, além de automóveis e ônibus, bicicletas, ciclomotores, motocicletas, patinetes elétricos, bicicletas elétricas, skates e tantos outros tipos de veículos disputando espaço em vias que só são pensadas para os automóveis. Isso sem contar que dispomos de tecnologia para trabalho em casa, mas, as empresas continuam a fazer as pessoas se deslocarem diariamente até seus escritórios para ficarem diante de um computador por todo o expediente de trabalho e se comunicarem por internet. Se isso fosse repensado à luz das tecnologias atuais, o trânsito nas cidades seria viável.
Talvez estejamos nesse descompasso mental por conta da mal intencionada política nacional, que prefere o modelo ultrapassado por oferecer oportunidades de desvios de recursos para usos escusos.  Talvez isso também ocorra com os projetos de diminuição da degradação do meio ambiente por parte dos países – não existiriam tecnologias simples e baratas de consumo não agressivo ao meio ambiente desprezadas pelos governos?

No meu entendimento, não devemos buscar “a solução”, mas “as soluções” e considerarmos a velocidade do conhecimento e das novas descobertas em todos os empreendimentos contemporâneos.

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