NO MEU TEMPO ERA ASSIM.....

É comum ouvirmos dizer: “no meu tempo era assim..”,dito por pessoas que já não são mais jovens, mas, decidi trazer esse assunto para discussão por entender que trata-se de um engano pensar desta maneira. É interessante levantar dados para essa discussão.

Qual a proporção de jovens na população brasileira?

O gráfico a seguir, foi obtido em pesquisa ao site do IBGE e reflete os resultados alcançados no último senso brasileiro, no ano de 2010[1].



Os resultados são interessantes nessa análise e, para melhor compreensão, decidi fazer alguns  cruzamentos. A população brasileira em 2010, era de 190.755.799 habitantes e, muito embora as maiores concentrações de idade se dêem na faixa entre os 5 a 34 anos de idade (índices iguais ou superiores a 8% por faixa, somados homens e mulheres), podemos concluir que, juntos, representam 52% do total. Portanto, temos pouco mais da metade da população de jovens no país e outra quase metade de pessoas em outras faixas etárias.

O recém-criado Estatuto da Juventude, Lei 12.852/2013 - que determina quais são os direitos dos jovens que devem ser garantidos e promovidos pelo Estado brasileiro, define como jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos[2].

Voltando aos números, concluiremos, portanto, que o número de “jovens” no Brasil era de 51.340.473 habitantes, oi seja, 27% da população. Isso nos remete à contrapartida de que existem 73% habitantes que não são jovens. Se retirarmos as primeiras faixas etárias, de zero a 14 anos, seremos, então, 49% compostos por habitantes “não jovens” e “não crianças”.

Mas o principal desta análise que desejo captar, é a fundamentação para a frase “no meu tempo...”.  Ora, para os vivos, este tempo presente lhes pertence, independente da idade em que se encontram.

E quanto à população economicamente ativa?

Voltemos aos números:  se buscarmos a população economicamente ativa na sociedade brasileira, no ano de 2011, chegaremos aos números expostos na tabela a seguir[3].



Vemos que a população economicamente ativa apresenta as maiores concentrações a partir dos 30 anos de idade, ou seja, os “não jovens” são os que mais encontram-se em atividade no mercado de trabalho, o que é natural e compreensível, uma vez que grande parte dos jovens está em formação profissional.

Mas, se os jovens não são maioria, nem em presença, nem em atividade econômica, como os “mais velhinhos” podem dizer “no meu tempo era assim...”? 

Essa frase me parece mais ligada à memória de um tempo em que se a pirâmide etária era diferente: é verdade que a população está “envelhecendo”, as pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade, são “produtivas” por um período maior de tempo e um número menor de crianças tem nascido, numa tendência que aponta para um futuro com menos jovens e mais adultos ou idosos.

Mas, existem mais facetas nesse discurso que merecem nossa atenção, como o fato de que as tecnologias de comunicação e conectividade, tidas como a marca das novas gerações, ser fruto de pesquisas e processos liderados por pessoas de gerações anteriores, muitos deles ainda vivos e atuantes, como, por exemplo, o tão conhecido Bill Gates, atualmente com 59 anos de idade.

Neste momento histórico, o que pode representar a diferença de gerações, são certos traços comportamentais, mas, dizer que o tempo atual pertence aos jovens é um grande equívoco, assim como pensar que, sendo “não jovem”, você está fora de seu momento no mundo é igualmente errôneo.

O “meu tempo” é agora, assim como o é para pessoas de qualquer idade: estamos vivos, atuantes e, muitos de nós, economicamente ativos, portanto, somo protagonistas deste momento e do futuro, quando desenvolvemos novos projetos.

O que talvez tenhamos a refletir é o desrespeito crescente com os mais idosos, que deixaram de ser tidos como conselheiros para serem tidos, muitas vezes, como cidadãos desatualizados, improdutivos e, portanto, descartáveis.

Vamos rever nossos conceitos acerca de “nosso tempo”?

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