A Rota dos Pássaros: quem ainda pode vê-los?

Às vezes me pego a pensar sobre como será a cidade dentro de algumas décadas. Esse pensamento me vem quando vejo certas manifestações humanas que me deixam reflexivo.
É fácil perceber que as pessoas hoje andam conversando nas ruas, mas sem qualquer companhia. A conversa se dá pelo telefone celular, muitas vezes conectado a fones de ouvido imperceptíveis, o que aumenta a sensação de que a conversa se dirige a ninguém.
Mas aumenta o número de pessoas que nem falam mais, apenas correm os dedos rapidamente em seus smartphones, tablets ou coisas similares, dando a impressão de que caminham sem olhar para  frente.
São pessoas que se comunicam sim, mas não com o meio presente. Estão constantemente ligados a outras pessoas que se encontram em diversos lugares diferentes na cidade ou fora dela. O que parece ser um sinal de isolamento, na realidade trata- se de uma nova maneira de sociabilização nas cidades.
Como a tecnologia se autodesenvolve numa velocidade crescente e sem precedentes históricos, imagino que em poucas décadas poderá existir uma cidade onde as pessoas não sejam mais vistas nas ruas. Trabalharão em suas casas, assim como frequentarão lojas virtuais e terão muitos produtos entregues e materializados através de impressoras 3D.
As ruas ficariam vazias e as pessoas poderiam perder o contato com o mundo exterior.
Hoje já são poucas as pessoas que se encantam com o canto matinal dos pássaros, que percebem flores em jardins no caminho de sua casa até o trabalho, enfim, que percebem outros cidadãos nas calçadas estendendo suas mãos em busca de esmolas.
O sol não mais fascina todas as pessoas e a lua não mais provoca o romantismo nos casais.
Como sou “velho” e vim de uma realidade até pouco tempo diferente, tenho o hábito de ouvir os pássaros, a viver o caminho e seus ensinamentos, o que me fez descobrir um fato interessante em Joinville.
Ao sair do trabalho, no centro, dirijo-me ao bairro Iririu em horário próximo às 18 horas todos os dias úteis. Nesse caminho observei que, nesse horário, pássaros cortam os céus da cidade numa linha diagonal às ruas por onde passo, sempre no mesmo sentido. Em revoada, em formação em “V”, são pontuais nessa jornada. Percebi que são de diversas espécies e tamanhos, mas todos rumando na mesma direção e no mesmo horário.
Uma questão me tomou de curiosidade: para onde vão?

A resposta não foi de difícil solução: busquei no Google Maps a rua onde passo, tracei uma linha diagonal no sentido em que os vejo nessa rua e constatei que o final dessa linha é a Baia da Babitonga.



Então é isso: todos os dias, às 18 horas, os pássaros voam dos morros para a Baia da Babitonga. Não sei dizer a razão disso, mas posso concluir que passam o dia nos morros e as noites próximos ao mar.
Alguém poderia dizer: que bobagem, “cultura inútil”, ou outro comentário igualmente jocoso. Entretanto, apenas a observação desse fato me trouxe algum conhecimento, além da agradável sensação da companhia desses pássaros que povoam os céus enquanto eu me desloco em meio ao trânsito ainda caótico em Joinville. Torcendo para que mais pessoas possam "ver" esse espetáculo diário, mesmo que apenas em alguns minutos de interrupção em suas socializações virtuais.

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