A FALÁCIA SOBRE "LIDERANÇA"


campo da administração, assim como em outros campos da ciência, sempre existem modismos que se iniciam com algum bom trabalho mas que passam a ser repetidos através de "consultores" por um longo tempo. Esse tipo de divulgação prolongada aos poucos se fixa como um tedioso "clichê" mas, curiosamente, continuam a alimentar consultores que, através de palestras e cursos algumas vezes criativos, outras nem tanto, garantem seu mercado aquecido. A questão da "liderança" me parece um desses casos. Existem livros, cursos e palestras sobre liderança. Uma pergunta simples me acomete, sempre que penso nesse tema: a maior parte das pessoas não terá a oportunidade de atingir cargos de liderança, por mais que se empenhem nisso - por que, então, a preocupação em formar líderes ganha tanta importância? Não seria mais prudente pensar na maioria e criar profissionais que se alinhem às metas organizacionais? 

Para que exista um lider, é preciso que exista um grupo a ser liderado, o que torna reduzido o número de líderes necessários no mercado de trabalho. Divulgar conceitos sobre liderança me parece, portanto, inócuo.  Pior: é um potencial investimento em situações de frustração para a maior parte daqueles que receberem tal orientação.

Outra questão é a circunstancialidade da situação de liderança. Muito embora algumas pessoas possam assumir posições gerenciais em organizações, a condição de liderança nem sempre é alcançada. É mesmo possível que um lider não ocupe posição de gestor na organização em que trabalha, assim como um gestor não consiga se situar como lider. Essa última situação faz com que alguns gestores sejam levados a agir com postura autoritária para manutenção de sua posição, o que invariavelmente resulta em insucesso. 

Um lider é criado quando colocamos nossa confiança em alguém, pela sua história e reputação, pelo seu conhecimento sobre o problema que estamos enfrentando, pela junção dessas situações citadas ou ainda pela facilidade em organizar o grupo em momentos de tensão. Assim sendo, liderança é algo circunstancial e, por essa razão, transitória.

Um  exemplo simples: um executivo pode liderar uma reunião de negócios até que um incêndio venha a acometer o prédio onde se encontra. Nessa situação, a liderança mudará para a pessoa que pertença a brigada de incêndio que estiver mais próxima a esse grupo. Isso porque essa pessoa estaria, em tese, habilitada a tirar as demais do prédio em segurança - no momento de crise, o tema central trará um lider, que poderá tornar-se desnecessário em situações futuras.

Em resumo, a vida nos trará situações em que, eventualmente, assumiremos a liderança de algum grupo mas, na maior parte do tempo, é muito provável que sejamos liderados por alguém. Assim sendo, é melhor que façamos investimentos em conhecimentos e habilidades que nos tornem melhores naquilo que fazemos. Afinal, existem mais empregos para bons profissionais do que para líderes mas, sendo bons no que fazemos, as chances de sermos colocados na condição de liderança aumentam.


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