OS AFETOS SE ALIMENTAM DE DISTÂNCIAS
Afetos e Distâncias
Milan Kundera, em seu livro “A
Imortalidade”, provoca René Descartes e sua máxima conhecida “Penso, logo
existo”, propondo um novo preceito: “Sinto, logo existo”.
Kundera justifica a nova proposta
alegando que a dor nos traz a certeza de nossa existência, uma vez que somente
nós podemos sentir nossas dores e ninguém mais. A dor que sinto pode até ser
imaginada por outras pessoas empáticas, mas, a sua intensidade e importância só
cabe a mim sentir e, a sentindo, tomo a consciência de minha existência e
individualidade.
Sem sequer ousar propor um
preceito que se eleve ao nível desses dois notáveis intelectuais, tomo a
liberdade de usar uma lógica semelhante, mas, com relação aos afetos.
Em minha vida, percebi que os
afetos se tornam maiores, quão maior for a distância entre as pessoas
envolvidas. Assim, tenho sido admirado, com maior frequência, por pessoas que
me relaciono, ou me relacionei, profissionalmente. Pessoas que me vêm diariamente,
mas, que não me conhecem na intimidade.
Então, minha proposta é que “Os
afetos se alimentam de distâncias”.
Essas distâncias, capazes de projetar
valores superdimensionados às pessoas de nossos afetos, nos faz esquecer a
humanidade, falibilidade e a carnalidade crua e real da condição intrínseca de
toda a existência.
Talvez, procuramos constantemente
a perfeição, que é uma ilusão, através dos outros e a convivência íntima destrói
essa expectativa através da humanidade irremediável de cada um.
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