CULTURA DO CUIDADO: Observando a segurança pessoal e coletiva a partir de suas possíveis raízes.

 

Percebo que agir com segurança, desenvolvendo a cultura do cuidado, parece necessitar de pilares de sustentação, que, no meu entendimento seriam os seguintes: 

  • Trabalhar com as inquietações, entendendo-as como naturais e evitando o estresse; 

  • Desacelerar, preferindo o movimento seguro e reflexivo; 

  • Viver o caminho, o momento presente, deixando os resultados no campo das consequências; 

  • Amar a si mesmo e ao próximo. 

Discorrendo um pouco sobre esses princípios, seguem algumas reflexões. 

A inquietação como processo evolutivo. 

A evolução das espécies é a lei do universo. Vivemos em um universo em expansão e em constante movimento e mutações. A nossa galáxia se move nesse universo e nosso sistema solar em seu entorno. Da mesma maneira, nosso planeta se move em torno de si mesmo e em torno do Sol. 

A cada 7 anos, todas as nossas células são substituídas. O tempo muda os cenários, as vivências e as crenças, assim como nossa biologia. 

Pode-se concluir, portanto, que exista um sentido em nossas inquietações constantes. Afinal, não existe a situação de permanência e isso mexe com nossa concepção de segurança. 

Por analogia, podemos inferir que a inquietação se baseia nas leis universais do movimento e da necessidade de nos adaptarmos constantemente. 

Essa inquietação nos move aos questionamentos, a formular perguntas e a buscar respostas, o que resulta na nossa evolução cultural e tecnológica. 

É saudável, então, se inquietar. O desafio é pensar na inquietação como um caminho para a evolução e não como uma fonte de estresse. 

A inquietação, quando conduzida da forma saudável, nos permite alcançar novos patamares do conhecimento. Entretanto, pode se tornar um problema para quem busca a sua zona de conforto, baseada no apego e na resistência às mudanças na sociedade e em sua própria biologia. 

Aceleração para alcance da paz: existe a paz? 

O momento é de aceleração. O advento dos smartphones e das redes sociais trouxe a urgência, a leitura rasa e a ansiedade. 

Muitos colocam seu ideal de felicidade no futuro, colocando metas baseadas em consumo ou alcance de títulos.  

Acreditam que alcançarão a paz pessoal após essas conquistas. 

Mas, existe mesmo essa paz? Num ambiente mutante e evolutivo, é possível projetar uma paz futura? 

O pódio é momentâneo. O que realmente importa é o caminho de quem o alcançou. 

Toda vez que se alcançamos uma meta, podemos ganhar um reconhecimento momentâneo, mas, logo em seguida, aquilo se torna passado e a inquietação retorna, nos exigindo a pensar em novas metas. 

Com relação a quem avalia os “vencedores”, o que importa é conhecer o caminho que seguiram até aquela conquista. Quantas vezes nos deparamos com pessoas desconhecidas que alcançaram sucesso em um esporte, por exemplo, e nos perguntamos: quem é esse(a)? De onde veio? O que fez para alcançar esse momento? 

Perceba que o caminho, muitas vezes desconsiderado, é o que, de fato, conduz ao sucesso desejado. 

É o caminho que nos enriquece, nos traz conhecimento e nos coloca em movimento. A meta alcançada é um ponto estanque e, por essa razão, traz uma satisfação temporária. 

Quantos de nós andamos pelas ruas das cidades diariamente, olhando o celular ou perdidos em pensamentos? Quantos deixam de observar o caminho, de apreciar as flores, de desviar de novos perigos, como buracos que surgem? Que não percebem uma nova construção, ou a demolição de um prédio histórico. Que não observa no céu os pássaros em sua jornada diária e seus cantos diversificados.  

O futuro é a morte. 

Correr para que, se o futuro é a morte? Por que queremos tanto que o tempo passe rapidamente, se sabemos que a última parada é o nosso fim? 

Não seria melhor aproveitar cada momento, tirando o máximo proveito, tornando nossos dias mais longos e ricos do ponto de vista de nossa percepção? 

Por que não observarmos os caminhos, aprendermos com as nuances, vivendo a realidade mutante e fluída?  

Percepção do que existe ao redor. 

Olhar o mundo que nos rodeia, observar as pessoas que convivem conosco ou mesmo as que encontramos nos caminhos, pode nos trazer um mundo novo, rico e inesperado.  

Nos afasta dos perigos, da imprudência e dos acidentes. 

Falar com um desconhecido, conhecer sua história e opiniões, procurar pequenas mudanças em nossos caminhos diários, estar atento aos movimentos nas ruas e estradas, estar em sintonia com o momento presente e torná-lo mais rico, criando um passado que sustente uma vitória futura. 

Só se cuida quem se ama. 

Como pensar em sua segurança e na segurança de outras pessoas, sem a prática do amor. Amar a si mesmo e ao próximo: eis uma lição fundamental. 

Quem se ama não se expõe ao perigo. Quem ama o próximo, cuida dele. 

A fórmula para evitar acidentes, ela existe? 

Diante dos conceitos que relatei, imagino que a pessoa que vive em segurança pratica os seguintes comportamentos: 

  • Amor próprio e à vida dos colegas 

  • Viver o momento presente, com atenção e prazer em observa 

  • Controlar a velocidade, evitando a busca desprogramada por conquistas futuras, entendendo que o futuro não existe enquanto não se torna presente e depende exatamente do presente para ser construído 

  • Considerar o conhecimento da tarefa, do caminho, dos riscos e dos procedimentos como garantias de segurança pessoal e coletiva 

Esses parâmetros me parecem evitar acidentes e dou alguns exemplos: 

  • Quem se preocupa em viver o momento presente, não se distrai com celular, não se estressa desnecessariamente, evitando acidentes; 

  • Quem se ama e ama o próximo, assume responsabilidades e cuidados, o que evita acidentes; 

  • Quem procura conhecer as tarefas, procedimentos e caminhos, não se arrisca, evitando acidentes. 

Penso que os acidentes são invariavelmente consequências de erros de diversas naturezas, mas, acredito nesses pilares citados como forma de evitá-los. 

 

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