QUANDO SOMOS CHAMADOS A AJUDAR UM DESCONHECIDO
No sábado, dia 14 de junho deste ano de 2025, eu e minha esposa caminhávamos pelo bairro da Enseada, em São Francisco do Sul, quando cruzamos, na calçada, com um senhor.
Após cruzar conosco, ao chegar à
esquina ele se virou e me chamou.
Com os olhos vermelhos, um tanto alcoolizado,
me contou que precisava de ajuda: “sou caminhoneiro, minha mulher me traiu, não
sei se me mato ou mato ela...”
Aquele momento foi terrível, pois,
me colocou uma imensa responsabilidade sobre a resposta possível que eu pudesse
oferecer àquele senhor e suas consequências.
Vi que ele estava precisando de alguém
que o ouvisse e o aconselhasse.
Eu disse a ele que matar ou se matar não resolveria nada. Que a dor que ele estava sentindo era forte, mas, que teria que enfrentar.
Perguntei sobre a família: ele me disse que tinha a
mãe e que também tinha filhos. Aproveitei e perguntei: “seus filhos se espelham
em você: se, no futuro, tiverem que lidar com uma situação semelhante, você gostaria
que tomassem uma decisão trágica como a que pretende fazer? Isso é muito forte!”.
Ele me respondeu que não. Disse
então: assuma sua dor, enfrente, supere e estará ensinando aos seus filhos como
agir em situações difíceis.
Completei: ninguém é dono de
ninguém. No futuro, talvez você possa conhecer outra companheira.
Perguntei, por fim, se ele acreditava em Deus, ao que me respondeu que sim. Perguntei por fim: “Deus concordaria com uma atitude sua que envolvesse sua morte ou de sua esposa?” Ele respondeu que não. Completou que havia saído de um bar próximo dali, mas que sabia que isso não resolveria seu problema.
Dei-lhe um abraço e disse para
ele se acalmar e tomar decisões corretas.
Seguimos, cada um no seu caminho.
Fiquei sem saber quem ele era e, pior: qual seria a sua reação após nosso
contato.
Espero ter ajudado àquele senhor,
que consiga superar a sua dor, mas, carrego comigo dois sentimentos:
- o sentimento de ter dado a um
desconhecido, num momento de dor, uma atenção e tentado ajudar
- o sentimento de dúvida, sobre
como ele irá lidar com sua dor e se uma tragédia possa ter sido evitada
Por fim, percebi o peso das palavras e suas possíveis consequencias, impondo uma grande responsabilidade em nossos ombros.
Já diziam os orientais, desde tempos imemoriais: "antes de dizer qualquer coisa, respire e pense".
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