A IGNORÂNCIA DIANTE DO ESSENCIAL

 

“Vivemos em uma sociedade extremamente dependente da ciência e da tecnologia, na qual quase ninguém sabe nada sobre ciência e tecnologia.” (Carl Sagan – do livro de sua autoria: O mundo assombrado pelos demônios - 1995)

 

Já dizia minha mãe: "quem é burro, pede a Deus que o largue e ao diabo que o carregue".

Trabalhei por cerca de vinte e cinco anos, somando o tempo como funcionário, terceirizado e consultor, para a CPFL Energia. Hoje trabalho- já há doze anos - em para a empresa de Saneamento Companhia Águas de Joinville.

Nessas duas empresas conheci a complexidade com que os recursos são obtidos e distribuídos para as residências, os impactos ambientais envolvidos e a falta de conhecimento da população que, dessa maneira, é incapaz de avaliar a qualidade dos serviços prestados.

Assim como muitos votam em candidatos políticos que prometem fechar um buraco na rua onde moram, ignorando todo o poder que concedem a eles sobre toda a população, a avaliação das empesas prestadoras de serviço são baseadas em valores mensais nas contas e transtornos causados por obras de reparo ou expansão.

O momento presente traz a necessidade de expansão do saneamento básico para toda a população, o que requer transformar grande parte das cidades brasileiras em um grande canteiro de obras espalhadas, causando desconforto para os munícipes.

Entretanto, é fato que o saneamento é fator crítico para a saúde pública e que o investimento nesse setor traz melhoria na qualidade de vida e longevidade da população, redução da mortalidade infantil e alívio para o sistema de saúde pela consequente diminuição nos atendimentos.

O julgamento de uma população tecnologicamente ignorante sobre o processo de efetivação desse empreendimento necessário, aproveitada por setores políticos predadores, pode criar dificuldades para o êxito desejado. Pode, inclusive, mover movimentos privatistas, sob a argumentação de que as empresas públicas criam transtornos, como se fosse possível às empresas privadas, terem condições de realizar obras sem transtornos.

Tanto na empresa de energia quanto na de saneamento, conheci iniciativas de visitas a usinas e estações de tratamento para a população que, após perceberem a complexidade envolvida na captação, distribuição e entrega dos serviços, mudaram suas percepções sobre a qualidade e da importância do uso consciente.

Mas essas divulgações são muito restritas e atingem uma parcela insignificante da população.

Se expandirmos essa análise sobre todos os serviços e produtos que consumimos, perceberemos que a ignorância é um fator presente e universal.

O caminho é o conhecimento: somente conhecendo podemos fazer avaliações e atuarmos no sentido de cobrarmos o que de fato pode ser cobrado das empresas, dos serviços e dos produtos.

Infelizmente, muitos preferem acusar, difamar, sem o compromisso de comprovar coerentemente aquilo que defendem, deixando, por outro lado, de exigir direitos que sequer conhecem.

 

 


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