INCERTEZAS E SEUS ALGOZES
De tanto ser assediado pelos padrões impostos, perdi a noção de minha real identidade, se é que ela existe, ou talvez seja apenas mais um elemento fluido e mutante como tudo mais.
Me cansei.
Tento descobrir o que sou, quem
sou, em vão: sou muitos e as avaliações baseiam-se em comparações.
As comparações dependem de
percepções, num turbilhão de visões de mundo, de julgamentos rasos, de
preconceitos.
Em meio a tanto caos, não me vejo
idoso, apesar de sê-lo, e me confronto com a realidade, cada vez mais próxima,
da finitude. Fim que não antecipa meios e nem datas.
Mais uma vez o caos: o futuro é
certo, o fim, mas pode ocorrer em segundos ou em décadas.
Há tempo perdido no passado, há
tempo perdido no presente.
Dúvidas que se acumulam, opiniões
e avaliações de outros igualmente caóticas e distantes de uma realidade, se é
que existe uma realidade e, caso exista, se algum dia conseguiremos alcançá-la.
Em meio a esse caos, teóricos sem
conhecimento estipulam critérios, cartilhas, comportamentos e estéticas.
Não estou só, sei que somos multidões.
Muitos sofrem violências de todos os tipos, com bases movediças e
questionáveis.
As perguntas mais elementares
formuladas pelas crianças ainda não conseguem respostas, talvez, nem existam
respostas.
A infância que trazia esperança
na elucidação das dúvidas, a juventude que nos traz falsas certezas e a velhice
que nos mostra o quanto nos distanciamos de tudo.
Em meio a tantas incertezas,
vendedores de sonhos baratos e ilusões nos cercam, tentando nos convencer de
coisas nunca vistas, jamais provadas e nos limitar num mundo pequeno, onde tudo
é definido, desde a conduta até a estética. Ladrões da liberdade que desejam
controlar nossas almas, com ameaças e promessas.
Sigo cansado e teimoso pela vida,
ciente de que ela é finita e que o fim se aproxima ameaçador.
De tanto ser assediado pelos
padrões impostos, perdi a noção de minha real identidade, se é que ela existe,
ou talvez seja apenas mais um elemento fluido e mutante como tudo mais.
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