A ESSÊNCIA É O PÓ

 

Enquanto aqui escrevo, o tempo passa, o vento sopra, a chuva cai, o momento escapa

Tudo se torna memória que se apagará mais tarde

O pensamento tenta se agarrar, mas é inútil

Sou levado vertiginosamente, mesmo que me negue, mesmo que não queira

E nessa velocidade, me transformo silenciosamente e inconscientemente

Meu corpo cresce, depois se dirige para o caos

A entropia me deteriora a cada minuto

Me envelhece, enruga minha pele, faz cair os meus cabelos, faz doer minhas juntas

E se não bastasse, tudo o que aprendo é pouco, apesar de caro

E, apesar de caro, não importa a ninguém

E a cada momento se torna menos importante, mais duvidoso, desprezível

Até o destino final, que se apressa e me leva de volta ao pó de onde saí

Poeira estelar de volta aos elementos básicos

Poeira ao vento que será varrida nas casas e jogada fora

Em vida me alimento, na morte serei eu o alimento

Alimento de micro-organismos e insetos

Adubo na terra

Vida que passa, que voa, que me leva para depois me deixar

Se encontrar o pó, cuide com respeito, pois ele é alguém que já foi

Talvez a única memória que permanecerá

Testemunho do que fui e onde cheguei

A essência é o pó


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