NÃO SOMOS HERÓIS, MAS, SOMOS SAGRADOS
Me lembro que ainda muito jovem,
eu tinha um sentimento de que havia algo muito intenso em mim. Algo que queria
sair e se mostrar, mas, não sabia como.
Às vezes eu acho que minha
submissão aos percalços da juventude e adolescência de bullying foram, e são, limites que não consegui
superar. Outras vezes, percebo que tive, e tenho, oportunidades que muitos não
têm.
O tempo passa e eu envelheço,
sabendo que talvez tudo isso que sinto, ainda sinto, morrerá comigo. Serei incapaz
de ver resultado dessa força e morrerei como todo ser humano mediano.
Seria isso o resultado de anos de
exposição, através de filmes e comunicações em todos os meios, a feitos heroicos
de pessoas, ou personagens, que se tornaram imortais na memória da história?
Estaríamos condicionados a nos
ver como cidadãos medianos, sem importância histórica e, assim, adotarmos
modelos?
Afinal, voltando à questão do
sentido da vida, seríamos mais ou menos do que nos julgamos?
O fato de ter nascido saudável,
ter sido criado e educado por uma boa família, ter tido a oportunidade de
estudar e chegar com saúde até os dias atuais já seria, considerando a
realidade do mundo, um grande sucesso.
Poder expor o que penso, sem medo
de ser punido, evidentemente nos limites das manifestações que não resultem em
violência, significa que também faço parte de uma parcela da população mundial
com certos privilégios.
Considerando a ciência, o fato de
minha existência é um grande milagre diante da grandeza desse universo – ou multiverso
– onde habito. E, apesar da pequenez de minha presença, tanto do ponto de vista
material quanto do ponto de vista histórico, sou portador de uma existência
única e rara, além de cosmicamente improvável.
Viver e envelhecer pode ser, em
si, a grande oportunidade que temos. E, talvez, estejamos aqui para aprender,
quem sabe, e evoluir no plano espiritual.
Se assim for, a tensão de
querermos ser heróis não passa de uma ilusão fabricada para nos manter longe do
reconhecimento de nossa sagrada condição da existência humana, e toda a beleza
e riqueza que a natureza nos proporcionou ao longo de milhões de anos de
evolução.
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