DISTOPIA DE 2020 REQUER QUE SEJAMOS DIVERGENTES
Creio que chegamos a uma
distopia.
O Corona Vírus se tornou uma
pandemia e pegou desprevenido um mundo que já vivera, em seu passado, situações
semelhantes e não aprendeu com os erros cometidos.
As reações humanas diante de uma
situação inesperada e indesejada passa pela negação, o que se verifica também
no comportamento coletivo. Essa negação, apesar de natural, não pode se
eternizar, sob pena de levar-nos todos ao caos.
Em meio a esse cenário natural de
um vírus que se alastra pelo planeta, criamos mais um problema: o uso da
situação por políticos, uns assumindo o negacionismo e dividindo a população em
polos opostos e irreais.
Rotulando de “direita” e “esquerda”
os grupos opostos, o ambiente abriu espaço para que o vírus ganhasse um espaço
maior e se proliferasse livremente pela população.
Os que se dizem de “direita” justificam
suas posições com um ambiente imaginado, onde a negação da ciência e da
história são supridas por um mundo idealizado e irreal.
Os que se dizem de “esquerda”, ao
contrário, se perdem em disputas e carregam ideais que nunca foram praticados.
Exemplos desses cenários
idealizados e irreais se multiplicam. A China é comunista e criou o vírus. A
China se diz comunista, mas, o comunismo, tal qual descrevia Marx, está muito
distante daquela nação, que hoje é uma potência capitalista e ameaça os EUA não
por sua ideologia, mas pela sua força econômica.
Os EUA, em contrapartida, também
estão longe de ser a democracia que pregam, perpetuando o racismo e a
xenofobia.
O Brasil, governado por um
presidente que se posiciona de forma radical e negacionista, assiste a doença
se alastrar sem controle.
Inflamam-se as pessoas nas redes
sociais, entrando em choque aqueles que defendem a situação e os que se
indignam com ela.
Ambos os lados se acusam de serem
como o “gado”, seguindo ideias sem reflexão.
Entretanto, aqueles que de fato “pensam”,
não precisam assumir nenhum lado. Podem questionar ambos os lados, pois,
observam os acontecimentos com um menor apego às teorias, ligando-se mais aos
fatos.
A ciência, que é a única capaz de
nos salvar da doença, através da prática da medicina e da pesquisa para
conhecimento da doença e promoção de sua cura, segue seus passos, sem apoio
governamental, sem apoio de parte da população. Segue firme, para nossa salvação.
Os laços sociais se comprometem,
com a dualidade imposta pelo meio político, que enfraquece ainda mais a
população.
O ódio infundado entre a
população polarizada, o desprezo de parte da população pela ciência e pelos
fatos científicos, se somam às condições socioeconômicas que despencam e
colocam famílias na base da pirâmide social.
O racismo, o feminicídio, o
suicídio, a violência, a intolerância e outras mazelas culturais se alastram,
encontrando um cenário em que o armamento da população aparece como política de
governo.
Um cenário que assusta e cria um
ambiente propício para uma distopia.
No filme “Divergente”, a
sociedade pós terceira guerra mundial é subdividida em categorias e um teste as
classifica, definindo suas atribuições e seus futuros. A finalidade é o
controle da população. Mas o teste revela que existem raros indivíduos que se
encaixam em mais de uma categoria: os “divergentes”.
Divergentes, em uma rápida
análise, seriam aqueles que não se encaixam em padrões sociais limitantes e,
por essa razão, são considerados perigosos e perseguidos.
A questão que se apresenta é que
a divisão da sociedade em polos extremos é uma estratégia – perversa – de enfraquecimento
da população. É conhecimento antigo, mencionado até mesmo na Bíblia, que todo
reino dividido é facilmente dominado.
Enquanto a população se divide e
se hostiliza, o governo avança em sua agenda nefasta.
Essa estratégia atinge proporções
globais. Parte da população mundial demoniza a China, o que é assustador, pois
cerca de 20% da população do planeta é de chineses. Acusam os chineses por sua
cultura exótica e por seus hábitos alimentares, que se explicam pela fome por
que passaram em grande parte de sua história.
COMO LIDAR COM ISSO?
Quando acusamos países ou ideias,
estamos nos baseando em alguns líderes políticos ou religiosos que tomam
decisões ou implantam políticas, às vezes promovem a discórdia usando falsas
notícias. Atrás disso, existem famílias, crianças, idosos, pessoas com os
mesmos problemas, as mesmas aspirações e que estão sujeitas a viver de acordo
com o ambiente onde se encontram.
Creio que olhando para a
história, valorizando a ciência, seguindo os mais elementares ensinamentos
filosóficos que sustentam todas as religiões.
Existem conceitos que são comuns
a muitas religiões e que foram compartilhados por muitos líderes históricos,
muitos dos quais nem se conheceram mas pregaram as mesmas questões.
Entre essas verdades
compartilhadas, que parecem ser alcançadas por muitos desses líderes, seleciono
as seguintes:
- Observar o momento presente e
viver com a atenção ao caminho. Buda prega o despertar para o momento presente,
desapegando-se do passado e do futuro. Cristo menciona, na parábola do bom
Samaritano, a importância da ação caridosa sem julgamentos.
- O amor, como maior valor. O amor
é um ponto de convergência presente em todas as religiões e a história nos
mostra que somente ele é capaz de unir esforços pelo coletivo. Se a observação
dos opostos define um conceito, o desamor nos mostra todos os transtornos e destruições
ocorridas no passado e no presente.
- O amor pelo conhecimento. A
filosofia, que se traduz etimologicamente como “o amor ao conhecimento”, se une
à ciência e a fundamenta.
Acrescento minha percepção sobre
o tema, que precisamos nos despir de nossas certezas, pois, se até a ciência se
renova, por que seria eu a me fixar em preconceitos e dogmas que trazem
separação e injustiça para muitos? Sejamos divergentes, olhemos o mundo não
como em branco ou preto, mas, como um mundo colorido e, portanto, mais belo.
Nos tornamos mais leves quando
estamos atentos ao momento presente, sem preconceitos. Ouvimos mais pássaros
cantando, vemos mais flores no caminho.
Quando olhamos cada ser humano como
sagrado, como um passageiro dessa viagem tão curta que é a nossa vida e que,
como nós, está em continuo aprendizado e, portanto, é imperfeito, aprendemos a
rir de nós mesmos e a ter compaixão.
A leveza é o segredo da paz que
desejamos.
Como será 2021? Só depende de
nós. Será como nosso olhar se comportar, porque o mundo não está sob nosso
controle, mas, nosso comportamento sim.
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