O ESTADO NOCIVO QUE NÃO NOS REPRESENTA
Existe uma maneira de pensar neo
liberal sobre o “Estado Mínimo”, ou
seja, que sua ação seja restrita ao essencial. Vamos, então, discutir o que é
“essencial”.
Penso que essenciais sejam os
serviços de saúde, segurança, educação básica e infraestrutura pública. Em
nosso país, todos esses serviços são precários, ineficientes e alvos de desvio
de recursos.
A saúde pública funciona como
marketing para os planos de saúde privados. Sem recursos em uso – digo “em uso”
pelo fato de existirem estruturas de saúde novas abandonadas por problemas
burocráticos e mau planejamento – a população é desassistida e adoece em função
de inexistência de políticas eficazes de medicina preventiva.
A segurança pública é racista,
seletiva e ineficiente, tanto por falta de recursos como por falta de
qualificação e inteligência. Mais uma vez, a segurança privada tem mercado
garantido.
A educação básica não atende o
mínimo esperado para formação de um indivíduo que saiba, pelo menos, escrever
uma carta. Pensar num indivíduo questionador, criativo e autônomo somente
através, mais uma vez, de educação privada.
A infraestrutura está sempre
dependente de investimentos privados, “parceiros” que têm, demonstrado, em
muitas situações, pontes para o desvio de recursos para políticos e partidos.
Temos uma carga tributária que
está entre as maiores do mundo e não temos o mínimo que um “Estado Mínimo”,
como prevê a teoria neo-liberal, deveria oferecer.
De fato, se um Estado Mínimo
garantisse esses serviços, estaríamos num patamar que sempre desejamos
alcançar, mas, nunca conseguimos.
Os escândalos se alternam entre
esses serviços, com chacinas em presídios que comandam o crime organizado de
dentro deles, pessoas morrendo em filas de hospitais por mau o inexistência de
atendimento, alunos que não aprendem o mínimo nas escolas, escolas sem
manutenção ou inexistentes em algumas regiões, além de regiões comandadas por
facções criminosas que determinam quem entra, quem sai e quem vive.
Em meio a todo esse cenário, o
governo preocupa-se com a aposentadoria. Outra questão polêmica: afinal, o
cidadão é obrigado a depositar parte de seu salário mensal para prover recursos
para sua aposentadoria, tendo seus recursos atualizados em níveis inferiores à
inflação e, quando chega o momento de retirar esse valor, o governo decide que
não tem recursos – que o Estado irá se quebrar !!!
Uma solução seria, então, eliminar
a previdência pública, eliminando o referido desconto na folha de pagamento
mensal do trabalhador, e deixando que o mesmo buscasse uma previdência privada
e, novamente, o sistema empurra o trabalhador para o serviço privado.
E a democracia? Onde se pratica?
Parlamentares têm foro
privilegiado, aposentadoria diferenciada, assistência médica privada e
segurança particular, o que demonstra que o governo não está sendo conduzido
para o povo, mas, antes, para um grupo seleto da sociedade.
Outro discurso do governo é a
austeridade fiscal, que parece um discurso correto, justo, mas, na prática, não
tem servido para diminuir os gastos públicos, mas, apenas para falir o sistema
de atendimento à população.
O que me parece é que existe um
Estado que atende ao sistema financeiro internacional. Parece teoria de
conspiração, mas, explica todo o modelo.
Os cidadãos contribuem com uma
margem alta de impostos, o Estado desvia recursos de suas finalidades, mas,
procura estar em dia com suas dívidas privadas e, por essa razão, promove
políticas de gerenciamento dos municípios. O modelo exige a captação de
recursos privados e alimenta a dependência com o único privilegiado no
processo: o sistema bancário, que empresta a juros altos e aumenta sua
participação nos serviços públicos, apossando-se do patrimônio que, em
princípio, deveria ser da população.
Esse sistema viciado me faz ver o
Estado como um agente nocivo à população, que se alimenta do investimento
público para investir em grupos alheios aos anseios da população.
Manter o Brasil doente, inseguro
e ignorante é a fórmula adotada para fazer funcionar o modelo.
O CICLO: a população paga os
impostos e alimenta o Estado, que, através de parcerias e financiamentos a
juros elevados, alimenta o sistema financeiro e esse, alimenta a iniciativa
privada que, por conseguinte, vende serviços privados à população como única
opção de qualidade.
O modelo não contempla soluções,
investimento público em serviços ainda que essenciais, pois, isso quebraria o
ciclo.
Um governo desse tipo não se
atribui a um presidente ou partido, mas, a uma estrutura onde os nomes de nada
interessam, apenas surgem como fontes de ilusão pública, que ainda crê que esse
político ou aquele partido, a direita ou a esquerda, colocariam o país nos
trilhos.
A inutilidade do Estado gera,
cada vez mais, o desinteresse da população e a alienação pelas causas
políticas. É um caminho sem retorno, dilacerando a fé nos serviços públicos e
na classe política, abrindo a porta para a desobediência às leis, à corrupção e
à desintegração social.
Talvez sejam os momentos finais
de uma era, que ruirá de podre em algum momento, não antes de flagelar a
população já desassistida.
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