O PESO DO TEMPO
O
momento atual traz-me reflexões acerca da ação do tempo. Esse tema, que sempre
me causou inquietação, por estar sempre nos levando aonde quer, na velocidade
imposta, mas, ainda assim, de extrema democracia e justiça, visto que age para
todos e de forma idêntica. Ainda que alguns recorram às aparências, e enganem
tantos com uma falsa imagem de eternidade, o calendário não muda sua condição
finita e de degradação crescente.
Mas,
sobre o tempo, podemos discorrer diversos subtemas: eu escolho hoje o peso que
impõe com o passar dos anos. Esse “peso” que nos cai nos ombros é trazido pela
percepção progressiva de que estamos nos tornando desajustados. O desajuste dá-se
pela opção que podemos fazer sobre nossa forma de agir, pensar e de visão de
mundo. Isso mesmo: tomamos a liberdade de “pensar” o mundo e a vida sob a luz
de nossas próprias reflexões, adquiridas com o tempo vivido, outra vez o
“tempo”, ora pesado, ora construtor de consciência.
Vivemos
parte de nossas vidas tomando como “verdades” o que nos ensinam, cada vez
menos, nossos pais, cada vez mais os meios de comunicação de massa. Somos
levados a seguir padrões de comportamento e atitudes, pois, seres sociais que
somos, precisamos ser (bem) aceitos pela sociedade.
Mas,
é o tempo que nos faz olhar o mundo com os próprios olhos, a ver que as
mensagens subliminares são, em ocasiões de nossas vidas, reveladas para que
tenhamos um vislumbre desconfortável do desequilíbrio cultural ao qual estamos
inseridos sob uma frágil noção de segurança.
E
quando percebemos a farsa em que estivemos mergulhados por tantos anos, as
decisões equivocadas que tivemos, as pessoas que viemos a prejudicar pela
defesa de um ideal de vida fabricado, aí então começa a aparecer esse “peso” em
nossos ombros.
Um
peso que nos cansa, mas, não podemos dividir, pois que percebemos termos cada
vez menos influência sobre as pessoas, que, por conta do “tempo”, nos julgam
desinformados, ultrapassados, desajustados.
É
difícil perceber que o conhecimento acumulado não pode ser passado e que as
pessoas vivem, muitas vezes, os mesmos enganos a cada geração, sem se darem
conta, até que o tempo venha a lhes “pesar”.
Quando
menciono “conhecimento acumulado”, não me refiro ao volume de informações
recebidas, mas no aprendizado diário, nas quedas que levamos, nas dores que
sentimos. Um conhecimento cada vez menos útil, cada vez mais descartável, que
nos faz desconfiar das frases-feitas, dos modismos e das explicações rápidas.
Que nos deixa sem ação quando temos que dizer “sim” ou “não” para diversas
situações, pois, sabemos que o mundo é muito maior do que nossas escolhas.
O
tempo me trouxe a consciência de que o mundo se move por ondas, que se impõem
poderosas para, logo depois, se arrebentarem na praia. Isso me torna
desajustado, excêntrico e ultrapassado.
Esse
talvez seja o sinal de que se achega o fim, que o mundo novo deve voltar a
tropeçar em seu ciclo eterno e que o conhecimento acumulado deve ser congelado,
transformado em registros, livros, postagens em blogs, transformado em museu,
aspirar ser legado.
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