O MUSEU DE CADA UM DE NÓS.
Moro atualmente distante de meus pais, o que torna minhas visitas raras. Nessas condições, tenho a visão da passagem do tempo, as mudanças que se tornam imperceptíveis aos que convivem diariamente, ganham forma ao ponto de manifestarem surpresas. Em especial, o que me chama atenção é a profusão de fotografias, antigas e atuais, que começaram a tomar conta dos ambientes na casa de meus pais. Não existe um cômodo esquecido: sala de estar, sala de jantar, quartos. As salas comportam retratos e pôsteres atuais, com as crianças da família que não param de chegar. Os quartos expõem fotos mais antigas, pessoas que não mais se encontram neste plano, mortos que nos olham sorridentes e nos remetem aos tempos que agora habitam nossas boas e más lembranças. Numa rápida leitura interpretativa, sou tentado a pensar numa lógica nessa distribuição, levando aos quartos, ambientes reservados, os registros de um passado que deve ser preservado e às salas a mensagem que a família se renova.