Ética: a prática da Moral

O alcance do olhar depende do nosso espírito, pois o que se mostra em nosso campo de visão é sempre uma representação de uma verdade que nos escapa, pelo pouco conhecimento que temos e pela fluides dos conceitos culturais.

Mas, apesar de representação, sua materialidade é real e, fechar os olhos para o que vemos pode ser fatal não somente para nós, mas para a nossa espécie.

Assim me arrisco a entrar num tema que urge ser discutido neste momento: a moral e a ética.
Em se tratando de conceitos filosóficos, seria previsível vasculhar seus fundamentos, mas não quero aqui recorrer a essa fontes, uma vez que estão já se tornando "clichês", por serem sempre a repetição de algo que insiste em residir nos discursos e fugir das práticas.

Melhor que definir o que seria moral e ética é avaliar o que vivemos hoje pelas suas ausências.
Hospitais que nos fazem morrer nas filas por vagas, pais e mães que abandonam e matam seus filhos, policiais e políticos infiltrados no crime, o tráfico de drogas que cresce, se arma e mata os seus usuários e aqueles que atravessam o seu caminho, são sempre bons exemplos da ausência desses valores e que nos chacoalham diariamente com rios de sangue que se esvaem dos noticiários.
Mas apontar o dedo indicador para um "culpado", relata um dito popular, faz com que outros três dedos se voltem para nós.

O mundo é a expressão do que fazemos e cremos.
Mudar esse estado de coisas deve começar pela nossa própria mudança comportamental.
Devemos ser intolerantes com aquelas atitudes que revelam até mesmo pequenos desvios de conduta moral e ética.
Mais do que isso, devemos tomar medidas que tragam um mundo melhor para todos, e não somente para nós.
O egoismo do "eu" a qualquer custo tem trazido comportamentos anti-sociais e está dilacerando o tecido social.

Interessante, e lá vou eu trair o que disse no início e chamar algumas referências: serei breve, prometo. É que me veio à mente o pensamento dos gregos nos tempos em que Platão, Sócrates e outros filósofos viviam a ética em profundidade. Aristóteles, outro filósofo desse naipe, escreveu que "A virtude moral (êthikê)... provém do hábito (ethos), e esse é o motivo inclusive  de ter seu nome (êthikê), proveniente de uma pequena alteração na palavra "hábito" (ethos). Por isso que é também evidente que nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza."(*) 

Seguindo essa lógica, a ética e o hábito estão intimamente relacionados, sendo a ética o resultado do hábito da conduta moral, ou seja, a prática habitual da moral resulta na ética. Para os gregos, ética e moral eram a mesma coisa, uma vez que não se pensava na possibilidade de pensar de uma maneira e viver de outra - a moral estava no plano mental, enquanto a ética era a sua manifestação.

Agir com moral e ética, no meu entendimento, significa viver para o bem da sociedade e pela sua sustentabilidade, entender o "eu" como parte indissociável do "nós" e, para isso, conhecer o "outro" e respeitá-lo, reconhecendo sua dignidade como criatura feita à imagem e semelhança do Criador e, portanto, sagrada.

João Abeid Filho
08/11/2011, revisto em 06/10/2016

(*) A REPÚBLICA DE PLATÃO, J. Guinsburg (org.), Textos 19, Editora Perspectiva, pg 270, apud Aristóteles, Ética Nicomaqueia, II, 1103a 14-19  

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