O SÍNDICO DO FIM DO MUNDO
Em um determinado edifício, o
síndico percebeu rachaduras em algumas pilastras nas fundações do prédio.
Preocupado com a situação,
convocou uma reunião de condomínio, à qual compareceram apenas alguns moradores,
apesar de todos terem sido convidados.
Exposto o problema, abriu-se a
pauta para comentários dos presentes.
O morador do apartamento do
primeiro andar, onde se encontram os apartamentos mais baratos e as famílias
mais pobres, alegou que não tem recursos para arcar com a obra, que deverá
exigir um aporte de capital, além das despesas mensais do condomínio.
O síndico, então, sugeriu que a
obra fosse feita e seus custos rateados apenas para os moradores dos andares
superiores.
O morador do quinto andar foi contra:
“isso é assistencialismo, coisa de comunistas”.
O morador do quarto andar duvidou
do problema, apesar de ter sido apresentado um laudo de engenheiro responsável:
“essa informação é falsa e foi criada tão somente para que entre mais dinheiro
no bolso do síndico”.
O morador do sexto andar
completou: “esse prédio consegue suportar a estrutura, mesmo com rachaduras nos
pilares” – disse isso sem qualquer comprovação ou laudo de outro engenheiro
responsável.
O síndico foi acusado de
corrupção, de ter sido eleito em uma votação duvidosa. Foi eleito um novo
síndico.
O novo síndico decidiu arquivar o
processo e despejar os moradores do primeiro andar, por atrasos nos pagamentos
das taxas condominiais.
Anexou no arquivamento do
processo um laudo feito por um estudante de primeiro ano do curso de psicologia
feito em sistema de EAD, confirmando que não existem rachaduras no prédio.
Abriu-se um processo judicial
contra o antigo síndico.
Passados alguns meses, o prédio
caiu.
João Abeid Filho, 25/09/2024
Esse texto que criei demonstra como pode ser catastrófico quando ideologias negativistas se espalham na sociedade e alcançam posições de decisão.
Tivemos diversos exemplos, como na pandemia, quando se criou um sentimento anti-vacina que ainda causa problemas em todo o mundo. No Brasil, ocorre ainda uma redução nas vacinações de todos os tipos de doenças, algumas já erradicadas e com risco de retornarem e vitimizarem novamente a população.
Com as mudanças climáticas ocorre o mesmo: parte da população - e de políticos no poder - desdenha dos alertas científicos, o que atrapalha nas ações necessárias que possam mitigar os efeitos do aquecimento global, acelerando um processo que já está no limite do ponto de não retorno, ou seja, da possibilidade irreversível de uma extinção da vida humana - e de outras espécies, muitas já extintas - no planeta.
Tempos de insensatez, talvez os últimos da existência humana.
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