CIÊNCIA, VERDADE E LIBERDADE

"No fundo, para Popper, as teorias mais válidas nunca são teorias verdadeiras, mas apenas teorias que ainda não são falsas. O conhecimento é sempre imperfeito, mas perfectível. A verdade absoluta não está ao nosso alcance; e, ainda que alcançássemos, não poderíamos sabê-lo. O real é uma espécie de ideia da razão, mas temos motivos para pensar que a ciência se aproxima progressivamente dele." (MARQUES, Alexandre. A doutrina do falseamento em Popper, 2007, disponível em: file:///C:/Users/Cliente/Downloads/MARQUES,%20Alexandre%20-%20A%20Doutrina%20do%20falseamento%20em%20Popper.pdf , pag 11, visitado em 22/02/2015).

O texto acima explica muito do que se observa neste momento de pós-modernidade, ou da contemporaneidade, como o leitor venha a preferir.

Apesar do texto remeter-nos a diversas abstrações, aponto duas situações que me trouxeram maior atenção. A primeira, é o fato de que a ciência não nos aponta a verdade, mas apenas apresenta hipóteses fundamentadas que se apresentam como verdade por algum tempo, até que outra hipótese venha a derrubá-las. A segunda é a afirmação do autor, de que "o conhecimento é sempre imperfeito, mas perfectível", o que me remete a pensar que, ainda que imperfeita, a ciência é o meio que mais nos aproxima da verdade. Uma verdade que o homem persegue ao longo de sua existência.

A evolução da vida no planeta obedece à lei dos mais adaptados ao meio ambiente, segundo Charles Darwin. Mas essa adaptação se diferencia na raça humana, tornando-se mais complexa. Enquanto os animais, assim como as plantas, considerados como “irracionais”, evoluem fisicamente, adaptando-se às condições climáticas e em resposta a manutenção da espécie face aos seus predadores, no homem, que também evolui nesse contexto, existe o componente da evolução baseada nos movimentos culturais.

Criador de cultura, o homem evolui a partir de sua consciência, diferencial das demais espécies, tornando-se cada vez mais suscetível às imposições sociais e, consequentemente, menos sensível às mudanças ambientais. Exemplificando, o conhecimento humano trouxe as vacinas e, com elas, a imunidade a um processo que, de forma natural, ou melhor, sem a intervenção consciente humana, levaria à evolução física: sobreviveriam apenas aqueles que desenvolvessem anticorpos, fortalecendo a espécie.

Enquanto a humanidade avança superando e contornando as imposições ambientais em constante mutação, torna-se cada vez mais dependente, portanto, de sua tecnologia.

Outro exemplo dessa dependência é a eletricidade que, embora tenha sido colocada ao serviço de indústrias e residências a partir do final do século XIX, o que, do ponto de vista histórico é muito recente, a falta dela seria hoje catastrófica. Sem eletricidade, nos dias de hoje, não teríamos acesso à água potável, teríamos problemas com a alimentação, enfim, nossa existência estaria comprometida e, segundo alguns, retornaríamos à idade das cavernas.

Essa evolução humana, ao mesmo tempo extraordinária e única entre todas as espécies no planeta, é também avassaladora. Nos deixa dependentes de invenções, não naturais, que passam a ser vitais.

As questões culturais, no entanto, prevem controle social e as descobertas científicas são direcionadas aos interesses dos grandes investidores. Essa situação pode tornar a ciência objeto de acesso restrito, sob controle de poucos e aos seus serviços.

Pode não ser coincidência a decadência da educação nas últimas décadas, paralelamente ao crescimento da indústria midiática. Afinal, pessoas com pouco conhecimento são mais facilmente vulneráveis aos comandos. Não refletem sobre o que fazem, apenas seguem os movimentos ditados pelos meios de comunicação.

Assim como na Idade Média o conhecimento era restrito ao clero, estamos nos dirigindo para um mundo onde o grande volume de informações não permite, a todos, o aprofundamento das questões e dos fatos observados. A ciência, então, torna-se distante do cidadão comum, que atribui o pensamento crítico aos técnicos ou estudiosos.

Esse cenário de controle social, entulha o cidadão comum de "brinquedos" eletrônicos e de comunicação, de uma ciência voltada para o prazer e à estética, usada como mecanismo de alienação.

Por essas razões, é preciso que se difundam os princípios científicos, que se resumem na visão crítica do cidadão. É dessa visão crítica que emerge a liberdade, pois, apenas um cidadão consciente pode escolher seu destino.

A ciência pode libertar-nos, mas, para isso, precisamos exercitá-la em nosso dia-a-dia. Apesar da ciência não trazer a verdade, visto que esta é apenas uma abstração, é o caminho que mais nos aproxima dela. Desenvolver o senso crítico é caminhar para o conhecimento com suas próprias pernas e duvidar das "verdades" dos outros.

O oposto disso seria o total controle social (por poucos) e o esvaziamento do poder transformador da sociedade.





Comments

Popular posts from this blog

A PRAIA

GUERRA À ESTUPIDEZ

Resenha do livro: O Vôo da Gaivota, de Emmanuelle Laborit.