Joinville e os sambaquis

O que são "sambaquis"?


Sambaqui (do tupi tamba'kï; literalmente "monte de conchas"), também conhecidos como concheiros, casqueiros, berbigueiros ou até mesmo pelo termo em inglês shell-mountains, são depósitos construídos pelo homem constituídos por materiais orgânicos, calcáreos e que, empilhados ao longo do tempo vem sofrendo a ação de intempérie; acabaram por sofrer uma fossilização química, já que a chuva deforma as estruturas dos moluscos e dos ossos enterrados, difundindo o cálcio em toda a estrutura e petrificando os detritos e ossadas porventura ali existentes.
São comuns em todo o litoral do Atlântico, sendo mais raros no Pacífico[carece de fontes?], mas notando-se exemplares até no norte da Europa. O formato varia do cônico ao semi-esférico, a altura pode ser de menos de um metro ou até de 15 metros, também podendo se estender por longas áreas em termos de comprimento.

fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sambaqui






Sambaqui Rio Comprido e o museu contemporâneo

Berço de uma concentração recorde de sítios arqueológicos, Joinville deixou-se levar por uma cultura global, desassociada de sua historicidade, voltada para o consumismo presente nas grandes cidades do mundo atual. A população parece não ter ciência desse cenário da pré-história brasileira, onde habitantes  povoavam elevações construídas pela sobreposição de conchas e moluscos, os conhecidos “sambaquis”. O número de sambaquis na região, em torno de 40, deveria trazer os olhares do mundo, transformando Joinville em roteiro para um turismo acadêmico e, por que não, comercial. No sambaqui Rio Comprido, são constantes as reclamações sobre a falta de limpeza e da frequência de usuários de droga – ameaças à saúde e também à segurança pública.
Segundo Ulpiano Bezerra de Menezes,“O real enquanto linguagem passou e certamente continua passando para muitos, pela verdade signíca da codificação. Ou seja, o real somente assim é considerado porque existe uma interpretação sobre ele, tornando-o passível de ser interpretado como algo que é considerado a realidade”.

Em que medida portanto a sociedade percebe a necessidade da preservação dos sambaquis?

Esse parece ser o ponto em questão: sem o olhar voltado para o patrimônio arqueológico, os efeitos sofridos pela população atual são o abandono do espaço e de sua necessária urbanização, por parte justamente daqueles que legislam sobre o seu tombamento e preservação.

O professor doutor em antropologia cultural Mássimo Canevacci realizou palestra na Univille no dia 31 de março passado, onde trouxe aos presentes o conceito da “comunicação museal”. Segundo Canevacci, os museus se manifestam dentro e fora dos espaços museais, especialmente nos interstícios urbanos.  São interstícios os fragmentos da cidade onde se criam experiências transformadoras. O museu contemporâneo deve criar movimento cultural, partindo das “raízes” às “rotas”, ou seja, trazendo a história como fonte inspiradora da evolução.
Dessa forma, poderia o sambaqui Rio Comprido tornar-se um museu contemporâneo ao céu aberto?
O investimento em ações educativas no sambaqui Rio Comprido nos anos de 1997 e 1998, por parte do Museu Arqueológico de Sambaquis de Joinville e da Escola Municipal Dom Jaime de Barros Câmara, demonstrou que a educação pode trazer o envolvimento da população, criando o que seria esse “movimento cultural”. O que originariamente tratava-se de levar à comunidade o reconhecimento do espaço arqueológico trouxe ações de limpeza voluntária e melhoria no desempenho escolar dos alunos. A descontinuidade do projeto, entretanto, apaga a cada ano o elo que se construiu, levando a sociedade de volta à utopia da metrópole padrão, sem passado e sem preocupação responsável para com o futuro.
É preciso, portanto, retomar os investimentos em educação, musealizar o sambaqui no conceito do movimento cultural e então trazer de volta os olhares para o patrimônio arqueológico de valor inestimável para Joinville e para toda a humanidade.


João Abeid Filho
Curso de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade – Turma IV
08/05/2011


Poesia Sambaquiana

o passado e o presente se misturam, mas não se percebem

o tribal e o virtual separam-se no tempo

enquanto o povo atual sonha com a eternidade, o povo
sambaquiano já a alcançou

na paisagem da baia da
Babitonga, buzinas e sons polifônicos abafaram os silvos e os rituais

mas não apagaram os sinais, deixados para zombar do tempo



autor: João Abeid Filho, em 10/05/2011 





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